quinta-feira, fevereiro 11, 2010

O PESO DA ETNIAS E O PODER POLÍTICO

Por Noé Nhantumbo

Um “Dejá Vu” ou algo a que ninguém resiste…
Há rumores e rumores… O que de facto é verdade só os tempos é que dirão. Muitos dizem que os esforços e arranjos que se fazem no seio dos partidos políticos são no sentido de acomodar personalidades influentes e assegurar uma obediência e cumprimento de determinada orientações e sobretudo uma agenda política que não se compadece com pessoas manifestamente independentes.
Por outro lado tenho notícias não oficiais de remodelação da estrutura directiva de um partido recém-formado, o MDM. Se na Renamo temos na prática uma remodelação por força da desobediência de uma parte de seus membros eleitos deputados para a Assembleia da República e em assembleias provinciais, ter também uma remodelação por força do que seja ao nível do MDM é um sinal de que alguma coisa está acontecendo na cena política moçambicana.
Se queremos ser honestos e politicamente coerentes teremos de dizer que os partidos políticos moçambicanos possuem em si problemas que complicam a sua actuação política. Em virtude de toda a força que a ambição dos nossos políticos possui, o tipo de atitude e postura dos mesmos, leva a que sejam levados facilmente para águas obscuras e se entreguem a realização de agendas que não interessam aos cidadãos.
Há toda uma carga de impurezas de natureza tribal que afogam os esforços de suas lideranças em contribuir para a Unidade Nacional. O cancro da Unidade Nacional é sem dúvida o tribalismo e qualquer outro tipo de descriminação. Tanto o racismo como o tribalismo não servem a causa nacional e qualquer tentativa de encobrir a sua existência não é bem-vindo.
Diz-se a boca pequena de que o MDM é um partido com bastante influência da tribo Ndau. Diz-se que há uma forte tendência de fazer equilíbrios através da colocação cimeira de elementos provenientes desta tribo em detrimento de gente com outra origem étnica. Historicamente não se pode negar ou condenar um indivíduo só porque é Ndau ou de uma outra etnia. Também não se pode condenar os provenientes do Sul do país só porque não são Ndaus. O facto da origem de parte significativa dos membros fundadores do MDM ser de origem Ndau decerto que influi na composição de seus órgãos dirigentes. Se a Frelimo tem dado proeminência aos elementos provenientes do Sul do país no que respeita a nomeações ou atribuição de cargos de relevo na organização, isso não deve levar a que outros políticos enveredem pelo mesmo caminho. Cabe à direcção do MDM fazer todo o tipo de escolhas necessárias para o funcionamento de seu partido tendo sempre em conta que Moçambique é o tal País de todos e não só dos que pertencem a esta ou aquela etnia. Não vamos deixar de tomar decisões só porque tal pareceria tribalismo ou algo idêntico. Vai haver uma tentativa de impedir que se tomem decisões no seio dos partidos da oposição para não se receber o catálogo de tribalista.
Esta e outro tipo de acção vão ser tentadas e utilizadas pelos que trabalham para minar os esforços dos outros partidos políticos.
Se durante muitos anos foi palavra de ordem escolher e utilizar gente de uma mesma tribo para a ocupação de cargos numa organização política como ao partido Frelimo isso não deve levar o MDM a copiar o mesmo procedimento.
Temos de admitir que pertencemos todos a uma determinada tribo e que não é proibido falarmos da nossa tribo. O que talvez seja problemático e perigoso e de questionar é a tendência de utilizar a nossa tribo como critério de escolha de alguma coisa que diga respeito a todos. Moçambique não é país Ronga ou Ndau. A pertença à estrutura directiva de um partido não se deve basear em pertencer a uma tribo ou a outra.
Quando me dizem que o MDM vai nomear uma nova Comissão Política porque a actual foi integralmente destituída estamos em presença de uma crise política. Não tenho elementos suficientes para analisar a dimensão e o tipo de crise. Pode ser que esta seja a via encontrada para resolver alguns problemas do partido em referência. Também pode ser que esta seja a manifestação de uma luta entre linhas no seio de um partido que teve um parto difícil ao receber no seu seio pessoas com as mais variadas histórias e passados. Alguns dos que se apresentam como pessoas influentes e preponderantes neste partido ou que fazem parte de suas estruturas directivas e são também deputados no Parlamento nacional são pessoas manifestamente ambiciosas que se tem apresentado como autênticos animais políticos por todo o lado em que passam.
Esperemos que a motivação da crise não seja de origem étnica e que nem sejam laços de familiaridade que estão determinando a decisão de destituir. Fazer política activa e constituir um partido político é algo que se faz através de uma determinação forte que vence dificuldades e crises de todo o tipo. Os que foram destituídos consoante os rumores não devem procurar lavar roupa suja na rua porque isso só seria utilizado e aproveitado pelos seus opositores. Diremos o que já antes disse. Muitos não vão resistir as vicissitudes da política. Muitos vão desistir e recuar perante ou face à primeira dificuldade do processo.
O tachismo de muitos dos políticos que aderiram ao projecto do MDM vai-se manifestar aquando do aparecimento das primeiras dificuldades.
Há toda a necessidade de clarificação dos procedimentos no seio do MDM e de outros partidos políticos que se querem apresentar como alternativa ao actual partido no poder.
Não se pode esperar facilidade por parte de quem está no poder e há que acreditar que o grau de infiltração nos partidos é uma realidade. Embora não se possa falar qualificadamente sobre tal grau de infiltração a verdade parece ser no sentido de se acreditar que há uma grande actuação dos serviços de inteligência do partido no poder no sentido de sabotar os outros partidos e a sua pretensão de um dia governar Moçambique.
É necessário aceitar que os outros que não são da nossa tribo também são moçambicanos.
Já se falou de uma determinada carga tribal na Renamo e na Frelimo e é importante que os partidos políticos moçambicanos sejam capazes de estar e viver na política sem ter que recorrer a artifícios como a tribo.
Nascemos sendo membros de uma tribo mas não podemos jamais esquecer que Moçambique é o país a que pertencemos

(Noé Nhantumbo)

Fonte: CANALMOZ – 11.02.2010

12 comentários:

Julio Mutisse disse...

"o grau de infiltração nos partidos é uma realidade. Embora não se possa falar qualificadamente sobre tal grau de infiltração a verdade parece ser no sentido de se acreditar que há uma grande actuação dos serviços de inteligência do partido no poder no sentido de sabotar os outros partidos e a sua pretensão de um dia governar Moçambique."

Este discurso é novo? Não. O culpado é sempre o outro. Daviz desmantela um órgão eleito pelo Congresso para o qual ele só tem competência para sugerir integrantes e vem aqui o Noé falar de sabotagem DA FRELIMO... come on pa. Estamos fartos. arrumem a casa, cresçam e apareçam.

Basilio Muhate disse...

Noe Nhantumbo provavelmente não teve acesso aos estatutos do MDM para ver as competencias de Daviz Simango na qualidade de Presidente do Partido.
Pelos estatutos que me foram cedidos, o Presidente Daviz Simango acaba de violar os estatutos do seu próprio partido ao dissolver a Comissão política. A Comisão política, segundo os estatutos do MDM, é eleita em Congresso, sob proposta do presidente. As competencias do presidente não dão lugar a dissolução de um órgão eleito pelo Congresso.
Reflectindo, ajude-me a esclarecer esta medida do Presidente do MDM. É a democracia, é a legalidade? de que se trata??

Prefiro não pensar como Noe Nhantumbo, que tal como a renamo, o mdm vai começar a responsabilizar a frelimo dos seus próprios erros.

Reflectindo disse...

Caro Mutisse

Queres saber sobre se existe infiltração nos partidos da oposição ou não? É porquê achas que é mentira? Queres provas? Se é que não sabes, procure saber na Sede da Frelimo se isso não é verdade.
Bom, eu não quero falar muito sobre isso, mas EU TENHO provas, tenho a sorte de delas, que não apresento a pessoas alheias.

Mas meu amigo, porquê evitaste o título do artigo do Noé Nhantumbo? Cá por mim, o centro do artigo é o Peso das etnias e o Poder Político. E Nhantumbo, criticou a questão de dissolução da Comissão Política o que mostra que ele critica o que acha de errado. O meu amigo Mutisse tem essa coragem para além de defender um lado mesmo que seja uma violação de leis? É aqui onde há diferença, meu amigo.

Reflectindo disse...

Caro Basílio

Nem que Noé Nhantumbo não tenha lido os Estatutos do MDM, ele fez a sua parte ao emitir a sua opinião.

Ora, eu questionei e questiono sobre a dissolução da Comissão Política, porque acho que: 1) houve má interpretação dos Estatutos do Partido. Logo, questiono ainda sobre quem aconselhou para a dissolucão? 2)porque acho ter havido uma confusão entre Comissão Política (partido) e Conselho de Ministro (governo). 3) Porque no meu entender (posso estar errado), os membros da Comissão política constituem os conselheiros formais do presidente do partido. Portanto, por mais omissos fossem os estatutos, devia-se procurar o espírito pela qual existe a Comissão Política. Na minha opinião e pelo que tenho assistido em muitos partidos no mundo, uma Comissão Política cessa num congresso ou órgão semelhante ao mesmo tempo que a nova (CP) toma posse. Para mim, por mais que as intenções e os objectivos pela qual se dissolveu a Comissão Política sejam excelentes, os procedimentos são duvidosos e põem logo em causa às intenções e aos objectivos.

Julio Mutisse disse...

Seja qual for "o centro do artigo" o Noé sugere a ideia da SABOTAGEM por parte da FRELIMO. É uma fixação da vossa parte.

Devem haver individuos que até em caso de insucesso sexual numa noite são capaz de dizer que é a FRELIMO... carro não pega...

Daviz tal como o ex-lider dele atropelou os estatutos.

Anónimo disse...

Isto deixa-me bastante preocupada.
Precisamos de saber o que está por detrás disto.
Maria Helena

Anónimo disse...

Isto deixa-me bastante preocupada.
Precisamos de saber o que está por detrás disto.
Maria Helena

Reflectindo disse...

Caro Mutisse

O teu problema é defender a Frelimo a todo o custo. Quanto à ACCÃO DE SABOTAGEM à oposição, só tu e mais uns aí dizem que não acontece, independentemente se há provas ou não, se há registo ou não, se há ferido ou não, se há morto vítima da Frelimo ou não. É o que temos notado e isso CANSA A MIM. Nunca consegues discutir questões do país com o mínimo de imparcialidade possível. ISSO CANSA, meu amigo. Discutes como se fosses SACERDOTE da Frelimo. És um fanático frelimiano. Esse é o que o teu problema. Já viste como nunca quiseste aceitar que a CNE o CC estavam a sabotar a oposição? No relatório final ficaste molhado pois, nada do que defendias foi ANUNCIADO como violação à lei. Devo conhecer eu a lei mais do que tu?

Eu estou a dizer que há frelimistas infiltrados nos partidos da oposição por uma prova. Não te dou os detalhes que tenho, mas são casos vergonhosos, sobretudo, se estivesse mos num país VERDADEIRAMENTE democrático. Infiltrar-se noutro partido costuma ser escândalo nas sociedades democráticas.

Quanto ao atropelo de Estatutos do MDM, já que eu procuro no mínimo ser coerente e contribuir para a democracia em Moçambique por meio do MDM, estou a questionar e manifestei a minha preocupação, dentro do partido e mesmo aqui neste tema. O que escrevi em resposta ao Basílio está claro, não está? Felizmente a reacção dos meus companheiros do MDM quanto à minha preocupação é muito positiva. Eles concordam com o que me preocupa, mesmo que se expliquem e isso me ajuda dá-me um espaço para discutir os problemas do meu partido livremente. A MINHA PERGUNTA É SE O JÚLIO MUTISSE ERA CAPAZ DE FAZER ISSO NA FRELIMO? A outra é se o Mutisse aceitaria o debate sobre a postura da Frelimo sem que dissesse que o objectivo é pôr em causa a Frelimo?

Ora, quanto à violacão de estatutos de partidos e leis, incluindo a Constituicão da República, por líderes políticos e o Presidente da República, preocupa-me. E eu já estou imaginando que sejam enganados por JURISTAS não por ignorância, mas devido ao conflito de interesse. Ao meu amigo Mutisse só se preocupa quando é Daviz ou Dhlakama que viola estatutos dos seus partidos???? A mim preocupa tanto isso me preocupa como quando o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza viola a lei mãe. Recordas da tantas incostitucionalidades praticadas? Recordas de tantas violações da CRM e da lei eleitoral nas últimas eleições? Qual foi a tua contribuicão?

O Centro do sobre o peso das etnias no poder político. Queres comentar sobre isso? Há disso na Frelimo ou não?

Um democrático e de luta pela coerência.

Linette Olofsson disse...

Noé Nhantumbo!
Não há crise no seio do MDM.
Peça a lista da Assembleia Constutiva, verá que todas as etnias, raças, e religióes estão representadas do Rovuma ao Maputo!

Deixe o fantasma do tribalismo de lado, não podemos julgar só porque o partido nasceu no centro e na Provincia de Sofala.
A Beira sempre foi a Beira, foi graças a revolta dos Beirenses em 28 de Agosto, que temos hoje um partido chamado MDM.
´Nós de outras Provincias apoiamos a revolução a coregem das ex bases da renamo e não só, outras camadas sociais.
Nem nós Zambezianos não temos a coragem dos Beirenses, estamos todos impávidos e serenos a ver a distruição e aumento da Pobreza falta de investimentos na nossa Província, por sinal,uma das mais ricas mas empobrecidas.

A nossa A.C. não faltou uma provincia de Moçambique!

As pessoas são livres de escrever e se expressar.
A crise está nas mentes curtas que não conseguem alcançar um horizonte...
o que muito pretendem fazer é apenas um aproveitamento político.

Em minha opnião, o seu texto é muito pesado para um partido recem formado com todas as suas vecissitudes e ainda muitos rios para atravessar.
Acredito que cometemos erros ao longo deste processo!
Mas eventuais erros não tem a haver com questóes tribais.

Temos sim, que concentrarmo-nos em novas estratégias; de como alcançar de uma forma celere um Moçambique para Todos, cujo slogan foi a nossa fonte inspiração e o expoenta na criação do Partido.

Deixe a renamo de lado com os seus problemas, nem a frelimo com todos estes anos de governaçao, ainda não conseguiu ultrapassar estas questóes que afligem a todos nós.
Gosto de ler seus artigos!
Mas...este! foi um pouco pesado
Linette

Reflectindo disse...

Cara Maria Helena

Na minha opinião, a sua preocupação é legítima. Está preocupada por Moçambique todo e pela democracia no país. A minha sugestão é de nunca deixarmos que o MDM permaneça nesta situação. O nosso manifesto é Moçambique para todos e isso passa por uma sociedade democrática.

Reflectindo disse...

Cara Linette

Permita-me descordar contigo em alguns pontos:

1. Noé Nhantumbo está a fazer uma excelente observação pois o tribalismo em Moçambique não é fantasma é uma realidade. Mas este passa por oportunismo de umas pessoas, porque na verdade, nada mais faz que prejudicar em primeiro lugar a maioria da tribo/região dos oportunistas. Noé não disse que não haviam membros do MDM vindo de todas etnias, todas regiões, mas como o título diz, questiona o “peso das etnias no poder político”. Portanto, o MDM tem que se esforçar em integrar todos os grupos étnicos, todas as regiões, nos órgãos decisórios do partido. Que o MDM não use a postura da Frelimo e da Renamo como argumento. Afinal queremos um partido diferente neste aspecto. Um pensamento nacional é necessário, sim.

2. Eu não concordo com a visão segundo a qual o MDM é o resultado da revolta da Beira. Esta é uma visão simplista. Aliás, mesmo a reeleição de Daviz Simango para Presidente do Município não pode de modo algum reduzir-se à revolta de 28 de Agosto. O apoio foi nacional e internacional e sem o tal apoio, Daviz podia ter enfrentado alguma dificuldade, mesmo que pudesse ganhar. Eu que nem conheço a Cidade da Beira usei todos os meios que tive para apoiar a candidatura de Daviz. O mesmo fizeram muitos outros, o José, o Jonathan. Alguns outros, mesmo de Mocimboa da Praia, Xai-Xai, Quelimane, etc, comprometidos com a democracia apoiaram da maneira que podiam à candidatura de Daviz. Um apoio psicológico é também muito importante. Mesmo a derrota dos candidatos da Renamo pode-se interpretar como apoio à candidatura de Daviz reagindo contra decisões anti-democráticas. A revolução 28 de Agosto já estava preparada pelo reconhecimento nacional e internacional do bom desempenho de Daviz Simango. Não estou a reduzir a importância da revolução 28 de Agosto, antes pelo contrário estou a tentar demonstrar a realidade dessa revolução.

3. Voltando ao MDM, este é um partido que nasceu em Maputo, foi na capital onde foi projectado por ti Linette e teus companheiros vindos de todos os quadrantes da sociedade moçambicana, de todos grupos étnicos, todas as regiões e moçambicanos no exterior com quem trabalhavas noite e dia. A escolha de Daviz para presidente do novo partido também não é resultado da revolução de 28 de Agosto na Beira e muito menos pela sua vitória no Município da Beira. Essa ideia já vinha desde há anos. A discussão foi sempre acesa ao nível nacional como se pode ler por exemplo na comunidade imensis.

Espero que eu tenha contribuido algo para a história.

JOSÉ disse...

Alguns pontos aqui merecem alguma reflexão:

1 – Em democracia não há intocáveis e debate-se vigorosamente. Neste contexto, eu não apoio a dissolução da Comissão Política do MDM e questiono as motivações desta decisão.

2 – O tribalismo não é uma miragem e precisamos de estar vigilantes contra tendencias tribalistas.

3 – É legítimo questionar mas eu desconfio quando as acusações partem de pessoas que sofrem de indignação selectiva, só questionam quando lhes convém.

4 – É altura de apresentar uma perspectiva histórica da génese do MDM. Tenho muita admiração e respeito pelos beirenses, mas não é verdade que o MDM seja um Partido da Beira, o MDM foi un sonho de muitos moçambicanos de todas as proveniencias, etnias e camadas sociais. Os acontecimentos da Beira foram importantes mas a semente já há muito tinha sido lançada, mesmo em outras localidades, principalmente em Maputo. Isto não tira o mérito à Beira mas o MDM é mesmo um Partido inclusivo.