Por Régio Conrado
Mesmo dentro da humildade de conhecimento, devo aqui ressaltar que para além de enfrentar fisicamente o colonialismo, que tinha marginalizado as “populações indígenas” do processo de construção da historicidade, juntavam-se as contradições internas. Contradições que surgiram de pequenos homens, homens que tinham ainda sequelas do colonialismo, cicatrizes que não as queriam deixar, explorar e continuar a encher os seus buços insaciáveis, barrigas de orangotangos...
Posto isto, sem seguir as regras cronológicas da
nossa história passarei imediatamente, de forma resumida, para a época do
multipartidarismo, década de 1990.
Como estamos recordados, o partido Frelimo a partir de
1977 decidiu seguir a filosofia governativa denominada de marxismo-leninismo,
uma linha governativa que não dava tréguas nem aos imperialistas e muitos menos
aos que tinham comportamentos de imperialistas e exploradores. Assim, o nosso
país por causa da própria situação objectiva histórica entramos para a fase de
uma guerra civil, dos 16 anos ou desestabilização (não sei qual é o nome mais
viável para esta guerra), mas sei que esta não era nada mais que o desejo de
levantar no povo a vontade de ira contra os projectos do partido Frelimo.
Todos eram lacaios dos sugadores dos países pobres, indefesos, eram
moçambicanos que não tinham tomado ainda consciência dos objectivos claros da
Frelimo. Libertar o homem das amarras da exploração, seguindo uma política que
justifique tal fim.
Muitos não consciencializados com esta dinâmica refutaram
de forma veemente e mataram o povo de Moçambique, o sonho de um povo que queria
a paz. Uma guerra bruta como demonstrou Mia Couto no seu “Terra Sonâmbula” e
Severino Nguenha no seu “Por uma dimensão moçambicana da consciência
histórica”. A Frelimo
não desistiu de construir o sonho de um Moçambique próspero, desenvolvido e bem
sucedido. Não é possível falar desta guerra entre moçambicanos (?) porque para
quem, por exemplo, já leu Bill Highs talvez saiba do que estou a falar. Não é
objectivo deste artigo abordar este assunto, mas apenas reviver a nossa
consciência para uma viagem na realidade material, usando a perspectiva
materialista da história para percebermos que o partido Frelimo depois de
percebido que a época era outra e como era a sua própria dinâmica. A Frelimo
não é um partido aniquiloso, por isso nós tivemos na década 1990 uma série de
partidos que surgiram somente para satisfazer desejos estomacais, (politique
du ventre), isto por
causa do dinheiro que se dava aos partidos recém-formados para que pudessem
concorrer nas eleições que se avizinhavam, as de 1994. Eram partidos famintos
porque o seu objectivo não ia para além dos seus próprios interesses,
interesses que se conjugavam com a sua própria origem, uma origem sem
fundamento.
Estes partidos, mesmo assim, foram recebidos como
contribuintes para o aperfeiçoamento da nossa democracia, apesar de a
existência de vários partidos não significar democracia.
Era um desafio que o partido Frelimo aceitou com firmeza
porque tratava-se de uma visão do futuro, que era o presente que assim
obrigava. Foram realizadas as eleições, continuou a crescer o número de
partidos com tendência estomacais e mais nada. Para a Frelimo tratava-se de
moçambicanos, moçambicanos que estavam perdidos. E continuam perdidos porque
ainda continuam a não perceber que não são nenhuma oposição, apenas
obstrucionistas, demagógicos e sem muita relevância e consistência.
Para ilustrar estas asserções podemos ver pela acção que
estes partidos exercem depois das eleições, ou seja, desaparecem depois
de receberem o dinheiro que o Estado disponibiliza. Hibernam e reaparecem
nas vésperas das eleições como ladrões famintos que ficam à espera de uma
oportunidade para agirem. O partido apenas olha-os como filhos da casa e o são.
Afinal, o partido Frelimo é de todos, mesmos aqueles que não percebem o real
papel da Frelimo para nós moçambicanos, nós homens e mulheres.
Mais de 50 partidos existem no país, mas que importância
têm? Tem alguma coisa que fazem com que o povo os reconheça como algo que
transforma a sua vida? Não! Apenas o que tenho vindo a ver é alguma acção que
se pretende mais interventiva mesmo estando fora do poder do Partido
Independentemente de Moçambique (PIMO), que se mostrou disponível em contribuir
com os vários instrumentos que vão responder aos apelos constantes do partido
do povo, a Frelimo, de que todos os partidos devem participar para o progresso
do país e dos moçambicanos no geral. A Frelimo nasceu para o povo.
Eu estive há dias a ler os planos que o PIMO entregou ao
Governo e vi que é um dos partidos que mesmo não sendo grande tem ideias que
ultrapassam muitos outros partidos, que se pretendem que sejam alguma coisa no
país. Também li que o PIMO pretende trazer investidores para investirem no
país. É uma acção louvável. Porém, é preciso recordarmos que o PIMO é filho da
Frelimo, desde o próprio líder, Sibindy, é produto da Frelimo e por isso vejo
que merece uma atenção que a Frelimo já está a dar. Recebeu-o como foi
defendido no dia da tomada de posse do Presidente da República, Armando
Guebuza, em que se falou da governação inclusiva. Recebeu-o e estou feliz por
isso, porque isto prova que a Frelimo por mais que cometa erros, tem sempre
tentado corrigir para o bem do povo.
Contudo, o que me deixa entristecido e estarrecido é ver
uma série de partidos que logo depois que foi recebido o PIMO e seu líder
Yá-Qub Sibindy correrem para lá sem nenhum plano concreto. Era apenas um
mimetismo doentio e morfo, que cheira a desconcentração e fome, são partidos
efeitos dos primeiros anos do multipartidarismo. Não apresentaram nada que
realmente seja material e materializável, era apenas uma emoção petrificada e
precoce que era tão vazia quanto os seus estômagos. O PIMO apresentou
documentos que já os tinha escrito há mais de 7 meses. E esses partidos que
correm para o Primeiro-Ministro, que é que tem senão emoção fracassada pela
falta de ideias. Imaginem então que esses partidos vençam, que perigo
corremos?
A acção do PIMO convenceu-me de que tudo que nasce da
Frelimo tem suas diferenças e especificidades. A Frelimo é uma escola onde se
aprendem as grandes ideias e ideais.
Sendo assim, estes partidos desnorteados que o partido
Frelimo com o seu espírito democrático abre as portas são um perigo. A Frelimo
deve precaver-se, porque dando uma abertura não controlada pode vir a ser
extremamente caro para a própria Frelimo num futuro próximo. É preciso receber
quem merece e tem alguma coisa concreta para apresentar e não porque um
partidinho moribundo decidiu e quer sair nos jornais e televisões. Esses
partidos se continuarem a serem dados todos esses mimos podem
habituar-se, alguns poderão começar a exigir coisas que não merecem e nem o
podiam pedir se fossem conscientes da sua dimensão como partidos. Eu peço como
um pacato cidadão, humilde e não muito esclarecido, que o partido Frelimo
comece a ser mais rigoroso no que diz respeito a recepção de partidos. Recebamos
partidos que justifiquem essa honra. Fora disso a Frelimo não é obrigada a ter
de receber partidos que não apresentam e representam nenhuma vantagem para os
moçambicanos.
O partido no poder deve começar a ser mais rigoroso na
sua abertura, porque abertura não significa aceitar tudo e todos os mesquinhos
que aparecem. Democracia não significa deixar tudo e correr sem regras, mas dar
oportunidades aos que realmente querem, para participar com objectivos claros e
orientados.
Que a Frelimo continue dando oportunidade aos
moçambicanos de ser o que sempre sonharam ser, isto é, moçambicanos donos da
sua história, a história de Moçambique. A minha existência como ser humano só
me é possível se eu ganhar consciência da importância de ser o sujeito da minha
história, como um indivíduo integrado numa sociedade da qual faço parte.
Os erros existem e a Frelimo tem os seus, que a cada dia
aumentam ou diminuem. É a dinâmica das coisas, a vida é um processo e a Frelimo
vencerá os obstáculos que se opõem. A Frelimo é o povo moçambicano e este está
decidido a vencer.
Fonte: Jornal Notícias – 26.02.2012
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