É preciso resistir a qualquer tentativa de reimpor a ditadura
É ainda prematuro fazer-se uma apreciação exaustiva destas eleições, porque ainda não se conhecem os resultados oficiais. Mas uma coisa é já certa: com a dimensão da vitória, o cometimento de Armando Guebuza com a Democracia está definitivamente à prova.
Vamos ver, daqui em diante, se Armando Guebuza vai respeitar as minorias que não se identificam com o seu projecto, que é o mesmo que dizer com o projecto do Partido Frelimo.
Vamos ver se o uso abusivo de bens do Estado vai parar, continuar ou, ainda, agravar-se.
Vamos ver o que o Chefe de Estado irá fazer com as instituições críticas da Sociedade Civil, como são os casos da Liga dos Direitos Humanos (LDH), Centro de Integridade Pública (CIP), Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), e os órgãos de comunicação social que rejeitam a subjugação a poderes políticos.
Vamos ver como é que as universidades se vão comportar, na promoção de uma cidadania crítica e interventiva.
Vamos ver como é que os doadores se comportarão, perante o risco de Moçambique voltar a ter uma governação totalitária, repressiva e sem respeito pelas minorias. O grau de respeito pelas minorias é o teste fundamental do cometimento de quem está no Poder com a Democracia.
Vamos ver, também, se os doadores continuarão a patrocinar a desproporcionalidade dos recursos eleitorais, acabando, assim, por financiarem a construção de uma ditadura, em vez de contribuírem para a construção da Democracia.
Vamos ver se os representantes dos doadores continuarão a doar à Frelimo e a enganar os contribuintes dos seus países, alegando que estão a ajudar Moçambique, o Povo Moçambicano.
Vamos ver se os representantes dos doadores terão a coragem suficiente de dizer basta à sua estratégia falhada, por via da qual, em vez de contribuírem para a construção da Democracia em Moçambique têm estado, antes, sim, a fazer tudo para que a ditadura regresse a Moçambique e, dessa forma, a suscitar argumentos de quem precisa de os encontrar para voltar a instabilizar o País, obrigando-nos a todos a viver sob o espectro das armas.
Pode-se dizer que a Frelimo se submeteu a sufrágio e venceu claramente. Mas essa vitória foi indiscutivelmente comprada com recursos do Estado, com recursos provenientes em cerca de 60%, se não mais, da contribuição de doadores e da manipulação de instituições públicas, para as quais todos os cidadãos nacionais endossam os seus impostos directos e indirectos.
Qualquer partido com esse tipo de poderio financeiro estaria capaz de conseguir o mesmo que a Frelimo conseguiu. Qualquer candidato, partido ou coligação, com os mesmos recursos estaria, também, em condições de matar a democracia.
Depois desta vitória do Partido Frelimo e do seu candidato, fica um grande aviso: há uma grande urgência de se salvar a Democracia.
Na cidade do Maputo, a capital do País, as elites e uma grande parte de cidadãos provou ter consciência disso mesmo. O nosso apelo é: continuem a resistir e a trabalhar para que se alargue a base de resistência à ditadura.
A Democracia é um bem comum que devemos legar às gerações vindouras.
A Democracia nasce de uma consciência crítica e activa.
Voltou a ser necessário lutar para se defender aquilo que se pensava que era já um bem adquirido. Os próximos anos irão provar isso mesmo. É preciso que a cidadania se empenhe a defender a Democracia.
Fonte: Canal de Moçambique – 04.11.2009 in Macua de Mocambique
1 comentário:
Impressão minha ou o meu amigo mudou de abordagem? Reconhece a derrota? Não vai, como o outro, pôr o pais a "arder chamas"?
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