Saco Azul
Por Luís Guevane
Nenhum dos três candidatos à Presidência da República gostaria que a sua vitória fosse produto de uma minoria de votantes. É óbvio! Minoria seria, neste caso, qualquer valor abaixo de 50%, tomando em conta o total do universo de eleitores.
Será que a campanha em curso poderá vir a garantir uma participação acima de 50%?
Esta questão remete-nos a um leque de prováveis respostas que se podem agrupar em “sim”, “não” e “pode ser que sim e pode ser que não”.
A campanha eleitoral está a decorrer, de um modo geral, de forma satisfatória, se assumirmos que os pequenos incidentes que se vão registando (cada vez menos) não têm constituído factor de instabilidade. Está a decorrer conforme algumas previsões.
Por exemplo: era de esperar que o eleitorado da Província de Gaza mantivesse um comportamento menos receptivo à pluralidade partidária. Ou, se preferirmos, menos dado ou menos aberto a mudanças. Isto na essência, porque nesse mesmo eleitorado existem aqueles com atitudes ou convicções contrárias mas que pouco se expõem com receio de serem banalizados no futuro em função de um resultado já cimentado nas suas mentes. Outro pequeno incidente, previsão feita antecipadamente e que se vai confirmando, mas que também não afecta o bom decurso da campanha eleitoral, é o facto de a televisão pública, a nossa TVM, e não só, dar mais destaque e ênfase ao partido no poder e ao seu candidato. Aqui, a regra é simples: se ninguém reclama seguindo os procedimentos previstos, é porque tudo está bem. Será?
No Diário de Campanha não se segue a ordem dos lugares que constam nos boletins de voto. Se assim fosse, quem abriria essas reportagens seria o primeiro da lista, o Sr. Engenheiro Daviz Simango, seguido do Sr. Armando Guebuza e, por último, o Sr. Afonso Dhlakama. O que acontece é que, no Diário de Campanha, por exemplo, na TVM (e não só), o do meio é o primeiro, o último é o segundo e o primeiro é o último! Pode ter havido um sorteio paralelo mas, ao que tudo indica, o eleitorado parece estar a ser preparado para uma determinada ordem. Esta ordem pode ser de preferências, de resultados finais ou, se calhar, não tem a ver com nada! É um menu e quem escolhe é o interessado - o eleitorado.
Agora, se os resultados finais, por exemplo nas eleições presidenciais, seguirem exactamente a ordem que é dada ao consumo do eleitorado antes da votação, é caso para repensar nesse modo de a imprensa (sobretudo a pública) fazer o Diário de Campanha. É que esta situação poderá ter alguma influência negativa ou aumentará o descrédito daquele eleitorado que deve ser resgatado, aquele que tem por hábito não votar por acreditar que o resultado já foi antecipadamente construído e que o acto (de votar) simplesmente serve para legitimar a ordem dos resultados. Estes podem, simplesmente, coincidir ou não, o problema estará na interpretação ou em “falas” muito acatadas como a seguinte: já era previsível, se a televisão já nos mostrava os resultados. Estavam à espera de quê, isto é África!
É preciso fazer de tudo para que a campanha em curso garanta uma participação acima de 50%.
A maneira como a Imprensa pública faz a divulgação da campanha eleitoral deve ser, antes de tudo, a campanha da sua própria isenção, o show da sua própria imparcialidade, a campanha da observância de regras básicas que comandam um órgão público de informação, o show da equidistância da Imprensa pública, o show do descomprometimento, etc. E aqui dirão: este homem esquece-se que isto é África! Mas é exactamente por ser África que temos que mudar, que temos que optar e defendermo-nos pelos princípios universalmente aceites.
Cá entre nós: que todos sonhem com uma vitória retumbante e limpa, sem favorecimento de espécie alguma, verdadeira… é essa vitória que se pretende para que, de facto, respiremos legitimidade! E para terminar, fechar com o seguinte: nenhum dos três candidatos à Presidência da República gostaria que a sua vitória fosse produto de uma minoria de votantes.
Fonte: SAVANA (31.10.2009)
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