segunda-feira, novembro 09, 2009

POR MAIS 5 ANOS!


Por Viriato Caetano Dias

“A matemática eleitoral é das mais difíceis disciplinas. A não ser quando da equação resultar um vencedor claro.” Luís Manete, jornalista português

Hoje vou desiludir alguns dos meus leitores que me pediram ao longo da semana passada, para que eu fizesse um comentário especulativo sobre os resultados eleitorais de 28 de Outubro que dão vitoria à Frelimo e o seu candidato às presidenciais Armando Emílio Guebuza. Dizem querer ouvir de mim as causas primeiras e últimas da derrota eleitoral do MDM e da Renamo, mas também compreender a razão da vitória (ainda não promulgada) da Frelimo e de Guebuza, como se eu na verdade fosse detentor de um carimbo que outorgasse a verdade nas coisas. Eu costumo dizer, em jeito de brincadeira, que mais não sou do que o último vagão de um comboio, que está atrelado à cabina do maquinista, neste caso, à luz dos ensinamentos de Deus, dos mais velhos e até mesmo das crianças!

Herdei dos mais velhos o ensinamento de que prognóstico, só depois do jogo jogado. Antes, nem pensar! Não faço, nem com 600 diabos, qualquer investimento em matéria de diagnósticos daquilo que mal foi oficialmente promulgado até porque, caso houve no país e no estrangeiro, em que foguetes lançado antes da hora custou caro ao suposto atrevido. Em política, como no desporto, não se brinca com prognósticos, por isso, remeto aos meus colegas de ofício e à plateia do social esta missão, sem antes pedir desculpas aos desiludidos. Que pena! Recuar não é fugir...

Sem querer avaliar a derrota dos vencidos e a vitoria dos vencedores (entrego a mão à palmatória em caso de um eventual incumprimento da promessa feita), Armando Guebuza e o seu partido Frelimo poderão ser confirmados vencedores destas eleições, uma vez que a nossa oposição continua a faz o “jogo de caranguejo” – a tentativa de um escapar da bacia é o esforço adicional de outro para o deitar abaixo – é uma patologia sem cura! Creio que é uma herança herdade do estrangeiro, mas com uma originalidade moçambicana. A desorganização da nossa oposição é prémio para a Frelimo se perpetuar no poder. O problema até não está propriamente na oposição como um conjunto, mas sim nos ambiciosos políticos que fazem dela um terreno fértil para ganharem estatutos de empresários. Quão empresários esfomeados mentais! É só alguém lançar um partido, lá estarão eles feito lombrigas a feder, tal e qual a lixeira mal escoada do Hulene! Que descalabro, Jesus!

A se conformar a vitória eleitoral de Guebuza e do seu partido Frelimo, por razões que eu desconheço, que não pela vontade do povo moçambicano (porque às eleições em África, na sua maioria, não são nem justas nem transparentes, mas tendem a ser livres. Não sou eu quem o diz, são os relatórios. Eu apenas limito-me a seguir às pegadas desses relatórios, embora com algumas reticências) dará, repito, à Guebuza e a Frelimo, o direito de governarem por mais 5 anos na “Roode Hoek” (em inglês “Reuben Point”), actualmente “Ponta Vermelha”, nome dado pelo Engº holandês Konick, no período da ocupação holandesa (1720-1730).

Há uma semana que ando a falar com os botões da minha “esfarrapada camisa” para tentar (é mesmo tentar) perceber as razões da vitória do programa da Frelimo (praticamente o mesmo desde há 34 anos), mas sem encontrar uma explicação plausível que me ajudasse na minha intenção, talvez ai pudesse auxiliar de facto alguns dos meus leitores. As perguntas que os botões da minha “esfarrapada camisa” não deram as respostas mas que, provavelmente, Guerra Junqueiro dará são estas:
1. O país continua a depender da ajuda externa para colocar a máquina administrativa do Estado a andar para a frente, embora de forma deficitária. A velocidade da nossa economia não está nem no 8 nem no 80. Está muito abaixo das expectativas do povo. O povo, este eterno vivente confiou, ainda assim, no programa eleitoral da Frelimo! Porquê será?

2. As manifestações de 5 Fevereiro que causaram vítimas humanas e materiais a lamentar foram, na minha maneira de ver, o culminar de uma crise aguda há muito anunciada pelos termómetros do país que é o estômago de cerca de 22 milhões de moçambicanos, aqueles que mais sofrem na carne o duro decreto governamental de todo o tipo de dor, e de outras hecatombes naturais. Mesmo assim, o povo votou no programa da Frelimo! Porquê será?

3. A corrupção continua a disparar de índice e cada vez mais a ter seguidores de luxo, dentro e fora do país; a educação é um fardo que também continua a feder, tal como a justiça e o desemprego. O país continua a arder! Não precisa o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, sujar às suas mãos. O povo, esta muralha de ferro, ainda assim, votou no programa da Frelimo. Porquê?

4. No desporto, a nossa selecção nacional de futebol (os “Mambas”), que em principio devia ser um chamariz para o nosso maravilhoso país além fronteira e, acima de tudo, constituir o orgulho de todos nós – moçambicanos –, infelizmente, mesmo com o seu perigosíssimo veneno, os “Mambas” continuam a ser presa fácil das suas congéres em clara desvantagem económica que às outras selecções nacionais (para aqueles que advogam que os bons resultados vêm apenas de investimentos financeiros e não de atitude e responsabilidade, aqui está um facto que prova o contrário). Os “Mambas” que eu até já propus chamar-se “Nhanzalumbos” (serpente apararentemente inofensivo) está à beira do colapso. A corrupção já chegou no desporto. Mesmo assim, venceu o programa eleitoral da Frelimo. Porquê?

5. Os “sibindianos” não param de se multiplicar e a infestar cada vez mais o “bom” ambiente democrático que se vivia no país. Gente como ele, a troco de dinheiro, vende o próprio cônscio. É uma patologia grave quanto cedo for o combate, melhor é a pureza da sociedade. Uma das doenças patalogias que mais vítimas fazem no país, depois da SIDA é, sem dúvida, gente como os “sibindianos”, cansados de pescar em águas turvas, tentam agora com a pouquíssima sorte que ainda lhes resta, para vender a própria alma. Que erosão mental! O povo, que sabe de tudo isto, ainda assim votou no programa eleitoral da Frelimo. Porque o fez?

Repito o aviso: não me venham perguntar a mim porque será que o povo votou no programa eleitoral da Frelimo, porquanto nem eu seria capaz de responder. Talvez a plateia do social, ou talvez não! Mas há um morto que nos pode ajudar a responder estas e outras questões colocadas: Guerra Junqueiro! Sim, ele mesmo, o poeta português...

Eis as respostas:

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. (sublinhado meu)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

(Guerra Junqueiro, 1896).

PS1: Dhlakama é o máximo. É recordista no dito pelo não dito. Deve estar a quer amealhar um prémio com estas suas estultices. Eu não sei quem na Renamo tenha poder para o conter, mas aconselho a dona Rosária, sua esposa, para o fazer. É triste ver um ancião como Dhlakama que o destino lhe conferiu à coroa de “pai da democracia” e obreiro da liberdade de imprensa no país e com muita vénia (que não se negue este facto) esteja a alimentar-se de si mesmo, do seu próprio sangue, da sua própria desgraça, feito “chicomba” animal que, na falta de comida, come-se a si mesmo.

PS2: O artigo “Manuel de Araújo seria a escolha ideal” publicado na semana passada, “invadiu” a minha caixa de entrada (e-mail) com mensagens de felicitações de várias estirpes, umas mais suculentas que as outras... Para aqueles que, ao invés de discutir ideias (também não sabem fazer outra coisa do que caçar a desgraça do próximo) como é o caso de um A... (não vale a pena promover a sua identidade), porém, os “socos” que me deu foram todos arroteados. Os socos injustos criam em mim e não só (creio que em qualquer outra pessoa que segue de forma incondicional o farol da razão), uma espécie de anestesia. É claro, as críticas construtivas são sempre bem-vindas. A todos vós, dito em minha língua mãe “zicomo kwabiri”. Muito obrigado!

PS3: Li com alguma indignação os pronunciamentos do Sr. Okay Machisa, director da Associação Zimbabueana de Direitos Humanos que acusa Mugabe de ser o problema do Zimbabwe. Sempre que leio comentários disparates desta natureza, lembro-me da frase filosófica de Jean-Marié Cotteret, estudioso francês, que disse (estou a citar): “mais vale por vezes calar-se do que ser conduzido, através de uma entrevista difícil, a dizer o que não quer ou o que não pode dizer.”

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Viriato

Está a mostrar com o seu PS2 que é um indivíduo arrogante e que não sabe assumir criticas alheias diferenetemente do Reflectindo. Afinal de contas quando agradece fa-lo com cinísmo e hipocrisia. Continue trilhando por esse caminho pensando que está acima de todos e verá os resultados.

Ali

Viriato Dias disse...

Meu caro Ali,

Eu sabia que o "A" iria causar-lhe uma má interpretação. O Ali não escreveu para o meu e-mail, logo não é o Ali, nem António, mas pode ser o Alberto, Artur. Por amor de Deus, não se sinta ofendido.

Outra coisa, eu não procro grandeza nenhuma. Creio que foi aqui que me lembro de ter dito que tenho uma vida razoável para me vergar as pessoas, ainda que nunca tenha aceite curvar-se seja lá por quem for.

Quanto a ameaça que me faz - entendo que é uma ameaça - não tenho medo de nenhum ser vivente. Se acha que me vai calar ou mandar calar oisto não faz caso, eu já nasci morto!

Um abraço ao pessoal ai da Zambézia