segunda-feira, novembro 09, 2009

MDM faz avaliação preliminar das eleições gerais e provinciais


“Estas eleições foram as mais fraudulentas de que há memória na história democrática eleitoral iniciada em 1994” – Daviz Simango, presidente do MDM

Beira (Canalmoz) - O MDM esteve reunido no fim-de-semana na Beira. Entre outros pontos, para fazer a avaliação do processo eleitoral, prestação de contas dos fundos da Comissão Nacional de Eleições (CNE), definir a estratégia pós-eleitoral, desenhar cenários possíveis de criação de uma bancada parlamentar e projectar a convocação do Congresso do partido. Todavia, o prato forte do evento foi o arrolamento das diversas irregularidades constatadas no processo de votação, em cada ponto do país.
Um relatório sucinto sobre o quadro das irregularidades detectadas poderá ser apresentado na próxima semana pelo presidente do MDM, Daviz Simango, que irá pronunciar-se oficialmente e em geral sobre os escrutínios de 28 de Outubro (eleições presidenciais, legislativas e para as assembleias provinciais).
Enquanto isto, o Canalmoz teve acesso a uma avaliação preliminar das “irregularidades” detectadas no processo, muito embora a versão definitiva, como nos disseram esteja reservada para ser anunciada pelo presidente do MDM, quando se pronunciar oficialmente sobre os três escrutínios que decorreram em simultâneo.
O Relatório preliminar do MDM sobre as eleições é por ora apenas um esboço das constatações em termos gerais, mas os delegados provinciais do MDM, que participaram no encontro deste fim-de-semana dando contribuições exaustivas, nos próximos dias compilarão a versão definitiva para ser tornada pública de forma oficial pelo engenheiro Daviz Simango.

Ilícitos eleitorais e outras ocorrências arroladas pelo MDM

O relatório preliminar fala por exemplo da província de Cabo Delegado onde em muitas mesas de votação foram apresentados cadernos com mais de mil eleitores.
Na província de Nampula falou-se do caso de Angoche, onde uns sem número de supostos observadores, idos da cidade de Nampula, introduziram votos nas urnas.
Na Emopesca, onde funcionaram quatro mesas de votação, os delegados de lista do MDM foram escorraçados pela Polícia da República de Moçambique (PRM).
Na Ilha de Moçambique constataram o aparecimento de cadernos falsos, e pelo facto, uma grande parte dos eleitores não exerceu o seu direito de voto. Os presidentes das mesas alertados sobre a possibilidade de uso dos cadernos manuscritos só o fizeram depois das 16 horas quando praticamente os eleitores já haviam desistido de estarem nas filas a aguardarem pelo seu direito de votar que lhes foi assim negado.
Em Niassa, eleitores não inscritos nos cadernos votaram em todas as mesas. Depois, os seus nomes e números de cartões foram lançados nas respectivas actas e editais. Foram detectados cadernos falsos em toda a província, com destaque para o distrito de Lichinga – só aqui 21 cadernos.

Negadas reclamações na presença de observadores da UE identificados

Em Niassa, MDM constatou ainda a recusa dos presidentes das mesas em receber reclamações dos delegados de lista, e diz que isso foi testemunhado pelos observadores da União Europeia, designadamente Eduardo Salvar e Rumiana Brecheva. Estes solicitaram esclarecimentos aos presidentes das assembleias, que lhes responderam que tinham ordens para não receber reclamações. Foram encontrados cadernos adulterados cujos mapas apresentavam números inferiores aos dos cadernos. Ainda em Niassa, os mapas oficiais não coincidiam com os utilizados nas mesas de voto.

Delegados impedidos de assistir ao escrutínio

Na Zambézia, os delegados de lista do MDM em todos os distritos foram impedidos de assistir a abertura das mesas. No distrito de Chinde, os delegados de lista do MDM não foram credenciados pela respectiva Comissão Distrital de Eleições (CDE). Na Maganja da Costa, durante o processo de contagem de votos, os delegados de lista do MDM foram escorraçados das mesas de votação pelos presidentes das respectivas mesas. Em Gilé, durante o processo de contagem de votos, os delegados de lista do MDM foram escorraçados das mesas de votação pelos presidentes das respectivas mesas. Tal como sucedeu em Maganja da Costa, em Gilé apenas foram chamados para entrega de actas e editais.
Em Nicoadala, na Escola Primária Completa de Mussolo Novo, assembleia de voto número 2108, o edital tinha sido preenchido com 810 votos a favor de Daviz Simango, foi alterado para 15, e o candidato Armando Guebuza que contava com 25 viu o número aumentado para 212. Esta situação foi reclamada junto da CDE (Comissão Distrital de Eleições), uma vez que o presidente da respectiva assembleia não aceitou receber a reclamação. Para a alteração foi usada caneta de feltro, no mesmo edital.
Em Pebane, durante o processo de contagem de votos, os delegados de lista do MDM foram escorraçados e os membros da Frelimo votaram com 3 e 4 boletins cada. Situação similar observou-se na cidade de Quelimane, onde os observadores da União Europeia tomaram nota desse tipo de procedimento irregular.
Na província de Tete, no distrito de Changara a CDE não entregou credenciais aos fiscais do MDM para efeitos de fiscalização das mesas de votação em todo o distrito.
Em Angónia, fiscais do MDM foram escorraçados das mesas de votação pelos presidentes das mesas. Aqui os presidentes das mesas obrigaram os eleitores a votarem em Guebuza, dando instruções claras dos procedimentos.
Em Tsangano, os fiscais do MDM não foram autorizados a permanecer nas salas de votação em virtude das credenciais não indicarem o número das mesas e o local onde os fiscais iriam trabalhar. Houve troca de cadernos, impedindo os leitores de votarem. Houve inutilização premeditada pelos membros das mesas dos votos de Daviz Simango.
Na província de Manica houve duplicação de nomes nos cadernos eleitorais. Houve ainda panfletos onde funcionavam as mesas de votação, isto é fez-se campanha eleitoral à boca das urnas a favor do candidato Guebuza nas mesas de votação. Os fiscais estavam impedidos de ter acesso aos cadernos eleitorais, para que os eleitores os consultassem antes da votação. Também houve encerramento da votação antes das 18 horas.
No caso da província de Sofala, constatou-se a falta de três cadernos eleitorais, na Cerâmica, cidade da Beira, e Mafambisse, Dondo. Ainda em Mafambisse foram introduzidos na urna votos na mesa 623, pela presidente da assembleia, Eufrásia, e o professor Conde. O fiscal do MDM foi agredido quando tentou impedir para que se pusesse cobro à situação. Na Escola Primária do Esturro a escrutinadora Teresinha, depois da contagem parcial de boletins, usou uma tinta de almofada para inutilizar 124 votos de Daviz Simango.
Em Maríngue, na Escola Primária Completa da Vila, os presidentes das assembleias de voto davam prioridade aos membros da Frelimo no acto de votação. Houve um apagão de luz e cada delegado devia ter a sua laterna. Os candeeiros dos kit só podiam ser utilizados pelos membros das mesas, eram negados aos delegados de lista. Tal tornou permissível a introdução de votos falsos nas urnas. Houve eleitores em Subuè e Nhavuo a votar várias vezes.

Blindado da PRM ameaça eleitores

Ainda em Marínguè, distrito onde a Renamo teve e tem a base da segurança de Afonso Dhlakama, foi utilizado um blindado da Polícia para afugentar membros do MDM, após o que seguiu o enchimento das urnas, segundo foi também referido na reunião do MDM de que estamos a citar o que ali foi arrolado pelos delegados provinciais este fim-de-semana.
No distrito de Machanga, também em Sofala, registou-se a falta de dois cadernos eleitorais, na escola completa Mupine. Grande parte dos delegados de mesa recusaram-se a entregar editais aos delegados de lista do MDM.
No distrito de Dondo, localidade de Savane, o secretário da Frelimo votou pelo menos três vezes. Na Escola Milha 8, a mesa de votação 0634 foi deslocada para uma distância de sete a 10 quilómetros do local em que deveria ter funcionado como previsto no Mapa de Localização das assembleias.
Em Gaza os presidentes das mesas não afixaram os editais alegando falta de cola. Os mesmos não entregaram actas e editais aos delegados de lista.
Em Maputo-província os delegados do MDM confrontaram-se com dificuldades para recepção de actas e editais. O mesmo passou-se em Maputo-cidade.

Posicionamento do MDM face aos resultados eleitorais

O MDM irá manifestar o seu posicionamento oficial sobre os resultados eleitorais, na próxima semana, após a divulgação dos resultados pela CNE. Todavia, segundo adiantou o presidente Daviz Simango, quando fechava o evento, “estas eleições foram as mais fraudulentas de que há memória na história democrática eleitoral iniciada em 1994”.
Daviz Simango instou os seus correligionários a trabalharem arduamente no sentido de alargarem a base de inserção do seu partido. Recordou ainda que o grande obstáculo foi a exclusão do MDM neste processo, pela CNE.

Quanto ao congresso do MDM nada foi avançado.

(Adelino Timóteo)

Fonte: CANALMOZ (2009-11-09)

13 comentários:

Nkutumula disse...

Já vi tudo.

O MDM acha que se não fosse a fraude teriam ganho estas eleições?

Reflectindo disse...

Mano Nero

Há umas coisas que eu gostaria de saber:

1. O mano concorda que houve fraude ou não?

2. Segundo o teu ponto de vista, fraude eleitoral é crime ou não?

Para mim, o MDM a Renamo estão apenas a nos ajudar revelando o crime praticado no acto eleitoral. Claro, estes partidos tiveram condicão por tiveram seus delegados de listas nas assembleias de voto. Mas indigna-me que a Frelimo que também teve delegados de mesa não denunciem o crime. Será que tenho que vê-los (todos eles) como complacentes ao crime? E se continuam não denunciando, que mensagem nos deixam?

Viriato Dias disse...

Amigo Rflectindo,

Não bata a cabeça. É cultura da Frelimo a Fraude. Mas não se preocupa, há sempre um dia em que o bandido dorme ai a lei pega. Eu já vi regimes mais duros no Malawi, mas acabou!

Um abraço

Obed L. Khan disse...

Reflectindo, diga-me francamente. Acredita mesmo que os quase 80% de Guebuza se devem à fraude? Acredita que os resultados que estão a ser anunciados só se justificam devido à fraude? Acredita que sem a tal fraude Dlhakama ou Daviz teriam ganho as leições?

Se não acredita, porque não felicita os vencedores?

Outra coisa. Vocês não diziam que tinham delegados treinados para conterem todas as tentativas de fraude? A Renamo não jurava a pés juntos que desta vez os seus delegados (que incluiriam antigos guerrilheiros) impediriam a fraude? O que aconteceu com todos esses delegados (da Renamo e do MDM) e respectivos guerrilheiros? Apanharam sono? Ficaram bébados? Foram todos presos? O que aconteceu com eles Reflectindo?

Por último: Não vê que já cansa esta cantiga de fraude? Eu acho que o Reflectindo por ser pessoa esclarecida, devia ajudar Daviz a descobrir, a analizar e a corrigir as causas da derrota. E não ambala-lo com a cantiga da fraude.

Um abraço amigo

Obed L. Khan

Reflectindo disse...

Meu caro Obed L. Khan

Desde há muito que acho de falta de ética que quando se fala de alguma fraude começar-se a falar de percentagens. Os que assim fazem os seus cálculos não sei donde buscam. Como separam os números de votos reais aos dos fantasmas?
A mim, meu caro Obed, o mais que preocupa é exactamente isso de uns serem treinados ou auto-treinarem-se para sujarem todo um processo eleitoral, sujarem a mim como mocambicano e qualquer que não pactua com coisas sem escrúpulo como encher urnas ou usar tinta indelével. Peguemos num aluno que é apanhado a cabular num exame final. Que resultado vai ter no fim? Como será ele visto em toda a sua vida académica? Minimiza-se o acto fraudulento?

Meu caro, a minha educacão não permite aceitar que o enchimento das urnas e os dedados para invalidar alguns votos se deram porque não haviam fiscais de todos os partidos. Se fosse ou se for isso perguntaria ou continuo a perguntar sobre o que fizeram os fiscais da Frelimo? Encher urnas e invalidar votos?

Para mim, uma fraude é nojente, falta de escrúpulo, falta de educacão, é ladroagem, prática de um crime. Indigna-me como pessoas que suponho terem uma boa educacão podem defender este tipo de actos.

Quem resolve este tipo de crime não é um partido e muito menos quando for da oposicão, como queres me convencer. A solucão não passa por mais guardas e se fosse até a Frelimo devia ter aceite a última proposta da bancada da Renamo. Lembra-te de qual? Mas também é preciso saber que o voto não é de algum partido, mas do cidadão eleitor.

Para mim, em todas as mesas por onde ocorreu este tipo de crime, as eleicões deviam ser anuladas, os suspeitos deviam ser investigados, julgados e condenados se culpados. As assembleias de voto tinham presidentes e eles tinham uma responsabilidade acrescida.

Digam se é difícil detectar os que com tinta indelével invalidaram alguns votos? Não havia muita gente na assembleias de voto e em cada uma havia presidente e vogais, repito.

Será que estás a pactuar com criminosos?

Reflectindo disse...

Caro Obed.

Volto para a tua última frase:

"Por último: Não vê que já cansa esta cantiga de fraude? Eu acho que o Reflectindo por ser pessoa esclarecida, devia ajudar Daviz a descobrir, a analizar e a corrigir as causas da derrota. E não ambala-lo com a cantiga da fraude."

A mim me cansa sim a cantiga, mas não só. Envergonho-me pela fraude pois sei que podemos fazer um processo eleitoral sem actos de vandalismo como já vimos desde inicio deste processo. A minha indignação é sobre quem selecciona bandidos para um processo sensível e grande responsabilidade como eleições. Com que intenção se seleccionam pessoas sem escrúpulo para eleições?

A solução não é ignorando os criminosos, mas responsabilizando-nos pelos seus acto, não pactuando com o crime. Será que há falta de código penal para este tipo de acto?

Alguns lugares e mesmo alguns autores foram identificados, espero que o meu amigo Obed, o meu irmão Nero não os protejam.

Nkutumula disse...

Mano Reflectindo,

Se houve fraude, porque e' que nao encaminham para os orgaos competentes ao inves de nos cansarem com esta velha cantiga?

Que seja a CNE ou o Conselho Constitucional a dizerem que houve fraude. Antes disso, por favor, poupem-nos desses detalhes sordidos.

Eu sou contra a fraude. Sou tambem contra a invencao de fraudes...

Reflectindo disse...

Mano Nero

O que é invencão de fraude? Vais me dizer que analisas tudo menos quando se falar de fraude e crime feitos por certas pessoas? Vais me dizer que nunca se provou que Alburqueque, Amido, Antoninho foram detectados a fazerem fraude eleitoral? Queres me dizer que em Tsangano não se encheram as urnas?

O que estou a notar por vossa parte é um esforco de negar a existência de crime deste que esse seja conveniente. Se disseres que estamos a divertir, tudo bem.

Na boletim da AWEPA de hoje, o 34 traz fotos de boletins dedados, e se for o Nero a dizer-me que não há maneira de detectar o autor, então, estamos muito mal em Mocambique, isto é não temos a quem confiar no combate aos criminosos. Porém, para aprovacão das candidaturas presindeciais o CC deu muita esperanca ao recorrer peritos para análise das falcatruas.

Afinal quem deve levar os criminosos ao tribunal?

Porquê cabe apenas ao CNE e CC a dizer que houve fraude, houve crime? Não estou a perceber a tua filosofia. E se forem só essas insistituicões que fruto esperas?

E depois da CNE ou CC dizer que houve fraude, que temos que fazer nós como cidadãos? Engolir sapos como sempre? Pois eu não tenho preguica de voltar até aos casos anterior de fraude em que não se fez NADA.

Diz-me mano Nero, a mim não podem poupar?

Um abraco

Anónimo disse...

Há muitos factores que nos permitem ver ou não a gravidade de fraude e desonestidade.

Reflectindo disse...

Cara Linette

Os dados que vêm depois de uma lição ordeira, são alarmante sob ponto de vista ético-moral. Também é alarmante saber que há gente que não sente vergonha de defender actos deste tamanho. É questionarmo-nos a que isto se deve. A qualidade da nossa educarão?

Todavia, o que notamos hoje, é a apenas uma reprodução de Albuquerque, Amido

Jonathan McCharty disse...

Falar de Etica, Moral, Educacao a estes frelimistas fanaticos e' como mostrar Luz e Colares de Alho a Vampiros!! E, parece que a sua memoria e' mesmo curta!! Os mesmos individuos que, com os seus colarinhos brancos, defendiam que politica e' um jogo sujo, que se faz de forma suja, hoje, com as suas caras de pau habituais, querem escamotear os factos e fazer "by-pass"(es) a realidade, fingindo que nao sabem de que se trata e pretendendo minimizar as extensas irregularidades apontadas, nao so pelo MDM, mas por diversos sectores!!

E' preciso nao ter um minimo de vergonha, para estar aqui a querer que sejam congratulados!! Congratulados de que??

Apontem um pais que conseguiu ser algo, com esta mediocridade, que vos faz correr!!! Deixem de ser hipocritas!!!

P.S- O Schalke 04 foi campeao alemao de futebol por 6 vezes, quase que consecutivas, entre 1934 a 1942. De la' para ca', nunca mais venceu!! "Guess what": Este era o clube de eleicao de Hitler e, nao haja duvidas que, ganhou naqueles "anos doirados", porque era uma formacao "organizada", "cheia de talento" e "vedetas"!!

Reflectindo disse...

Jonathan, não sei em que posso ver que se congratula por este acto NOJENTE.

Lamento, mas não aguento.

Cocktail Molotov disse...

Os crimes eleitorais prescrevem no prazo de um ano. Os Albuquerques infelizmente podem sair impunes da roubalheira de 1999, 2004 e 2008