sexta-feira, outubro 23, 2009

"A pessoa que mais mal fez à Paz, no nosso país, nos últimos anos"


MARCO DO CORREIO

Por Machado da Graça

Olá Bonifácio

Como vais, meu bom amigo? Do meu lado está tudo bem, felizmente.
Só estou espantado a ver como se tenta, nestes últimos dias antes da votação, limpar a borrada feita pelos órgãos eleitorais, para tentar dar legitimidade aos resultados a serem apresentados em Novembro.
Ouvi agora falar de uma homenagem que um tal Movimento para a Paz resolveu fazer ao Dr. João Leopoldo da Costa, na minha opinião a pessoa que mais mal fez à Paz, no nosso país, nos últimos anos.
Mas Maquiavel disse que os fins justificam os meios e deve haver aí, escondido nalguma toca fedorenta, um grupo de maquiavélicos coordenando toda esta série de truques sujos que se sucedem, sem interrupção, desde há vários meses a esta parte.
Se eu fosse mais jovem e ingénuo, acreditaria que tudo são coincidências, coisas separadas, sem ligação umas com as outras.
Como não sou nem uma coisa nem outra acredito mais no trabalho de um grupo de “músicos”, dirigidos por um bom “maestro” , que têm estado a tocar esta sinfonia de abusos, com piruetas inacreditáveis de virtuosismo.
Grupo que estará já a ensaiar uma Marcha Triunfal, a ser levada a público logo depois do anúncio dos resultados.
Os ensaios estão a ser perturbados por alguns músicos, que não fazem parte daquela banda, e críticos musicais que protestam contra as numerosas fífias na música daquele conjunto oficial.
Mas os tocadores oficiosos apenas respondem aumentando o volume dos seus instrumentos abafando tudo e todos. Não há solo de violino que resista ao som avassalador do trombone. E trombones não faltam aos oficiosos. De todos os tamanhos e potências.
São sons sem nenhuma subtileza, sem murmúrios, momentos de suavidade, poesia ou mesmo romantismo.
Pelo contrário são sons marciais, belicosos e ameaçadores.
Houve mesmo um destacado músico daquele conjunto que afirmou que, digam os críticos o que disserem, goste o público ou não, eles não vão sair do palco.
Provavelmente um “solo” não previsto pelo maestro mas, mesmo assim, dentro do tom geral dos outros números.
Mas, neste festival musical, por vezes surgem surpresas e o público acaba por preferir os violinos aos trombones.
E isso só será conhecido no final do festival. Se as músicas finais forem melhores que as anteriores e as fífias não estragarem o som que chega ao público.
Mas deixemo-nos de música e passemos a questões familiares.
Sabes que o candidato presidencial da Frelimo está a ser designado como “filho querido do povo moçambicano”. Mas, por outro lado, num cartaz que atravessa a Julius Nierere quase em frente ao Hotel Polana, em Maputo, diz-se que Guebuza é o pai do povo moçambicano.
Ficamos, portanto, com um grave problema familiar: Será possível alguém ser, ao mesmo tempo, pai e filho do mesmo povo?
Por muito que eu dê volta à minha imaginação, e não sou puritano nessas coisas de paternidades, não consigo descobrir como é que isso funciona. Há ali uma geração, no meio, que não faz grande sentido.
Mas talvez o Ministério da Ciência e Tecnologia nos possa produzir algum estudo científico explicando a lógica desta contradição.
Caso a coisa não seja possível a nível científico, o melhor é chamar o Edson Macuácua. Ele, sem a menor dúvida, terá uma explicação convincente.
Não te esqueças de ir votar. Se não sabes em quem votar, pensa em quem não queres, de forma nenhuma, votar. Isso vai-te ajudar.
Eu estou nessa situação. Ainda não sei em quem vou votar mas estou muito claro em quem não vou.
Não vou votar nos aldrabões, nos corruptos, nos que usam as leis que lhes interessam e desprezam as outras, nos que são arrogantes e gananciosos.
Tu poderás descobrir a quem é que me refiro.
Ganhas uma bandeirinha da Frelimo, se descobrires.
Um abraço para ti, meu amigo
Machado da Graça

CORREIO DA MANHÃ – 23.10.2009, in Mocambique para todos

Nota: Claro que Leopoldo da Costa pode ser homenageado e até lhe merece. O que teremos que analisar é ser homenageado por ter feito o quê e a bem de quem ou quê. Ainda bem que estamos a saber disso antes do dia 28.
Concordo que quem tiver a possibilidade de votar que vá votar, mas escolher com a sua cabeça, ainda que o voto é secreto. Todo o moçambicano que não se beneficia da abstenção tem como combatê-la que é convencendo pelo menos a 5 indecisos para irem votar. Não admitamos o regresso do monopartidarismo.

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