quinta-feira, outubro 08, 2009

Outros “rostos” da campanha

DIALOGANDO

Mouzinho de Albuquerque

MAIS uma vez voltamos a abordar este assunto. Poder-se-á questionar com insistência, porquê assim? Porquê focar de novo este tema? É que, aliás, convirá precisar e lembrar que a generalidade dos moçambicanos sabe que este assunto mexe com tudo e todos neste momento. Não há quem não fale deste assunto que terminará com a realização das mais esperadas eleições do país no 28 do corrente mês.

É o assunto que está em pauta todos os dias na nossa vida, tanto é que é tão curioso que todas as caravanas de propaganda eleitoral dos partidos políticos sejam feitas pela maioria das pessoas “descalças”, que andam longas distâncias a pé, para levar as mensagens dos seus partidos aos potenciais eleitores, pelo que nos dá a vontade de lamentar.

A actividade política é mesmo tarefa ingrata em todos os meios e muito mais nos mais “flagelados” pelo peso insustentável da pobreza. É por isso que são de saudar todas as iniciativas que possam dar de comer, saúde, emprego, educação e outras coisas boas àqueles que mesmo sem esperanças de terem esses benefícios, todos os dias andam de punho erguido, reivindicando a vitória desta ou daquela formação política.

Algumas coisas são de algum modo incompreensíveis. Esta é a razão de ser da nossa intervenção. É ou seria de louvar que num país onde ainda reina ou a maioria é ignorante politicamente, como o nosso, todo o esforço que fosse feito, por um partido político, para que os que mais se destacam nas campanhas eleitorais não continuem a revelar vulnerabilidades sociais.

É que basta olhar para as caravanas de quase todos os partidos políticos envolvidos na presente “caça” ao voto para perceber que as nossas forças políticas aparentemente ainda não compreenderam que a sua força neste momento assenta na imagem que muitos membros delas fazem.

Se na realidade a consciência de que membros e simpatizantes dos partidos políticos do nosso país que estão a fazer a campanha eleitoral está tranquila, na perspectiva de que haverá mudanças, para a melhoria da qualidade da sua vida, depois das eleições, mas o receio de que com tanta pobreza não chegue só a força, mas a de vontade política, parece que continuará na mente da maioria dos cidadãos deste país. Isto continuará a ser assim, porque, na verdade, continua a ser permitido pelos nossos políticos.

A fixação de cartazes é um dos momentos mais interessantes da disputa política, como está dito, gente que, em geral, desgraçada, não tem tido benefício nenhum dos resultados eleitorais, que não espera pelo menos um seu conhecido ou familiar ser eleito deputado da Assembleia da República, o seu bairro ser melhorado, a sua estrada reabilitada e outras realizações que lhes beneficie, procura convencer os eleitores a votarem neste ou naquele partido.

Por tudo isto, é mais conflito o que vamos ter no futuro. Situações como estas vão continuar enquanto não se criarem mecanismos para a sua prevenção. Vamos continuar a assistir políticos a “castigarem” os pobres nas campanhas eleitorais. Vamos continuar a ver os pobres ou desgraçados a ficarem horas a fio no sol à espera de um político que depois de ter comido bem e bebido água mineral chega ao local de comício só para dizer mentiras grosseiras.

Ou, revelando não só as coisas que quer que se vejam como também as que aparentemente não se conseguem perceber. Esta situação já deveria ter merecido, por isso, uma análise séria e cuidada. A ignorância política que ainda domina a nossa sociedade não poderia ser aproveitada pelos políticos, pois de nada serve e servirá estarmos “fervorosos” nas campanhas de mobilização política dos partidos se não temos e nunca teremos proveitos ou mais tarde somos ignorados.

Esta semana um deputado dum partido político surpreendeu-nos ao dizer que nenhum dos seus colegas decidiu fazer campanha eleitoral com o seu carro nas zonas recônditas província de Nampula, maior círculo eleitoral do país, temendo que sofresse danos, estando neste momento a fazerem campanha usando viaturas do Estado. Segundo ele, esta atitude pode demonstrar falta de amor à camisola.

Disse ter chegado o tempo de facto para que aqueles que “comem” e que dizem que fazem campanha eleitoral, enquanto o povo sofredor de vários males é que faz, de serem penalizados, sem contemplações, partindo da seriedade e responsabilidade do próprio partido. Tal penalização passaria pela não renovação do mandato na Assembleia da República.

Por outro lado e porque não podemos continuar a pensar da mesma maneira, convém sublinhar também o facto de as crianças sem idade de votar estarem a ser instrumentalizadas pelos partidos políticos na presente campanha e se estar igualmente a querer assumir e perpetuar o “localismo” político de alguns partidos.

Um Moçambique de cidadãos de diversas convicções politico-partidárias é ou deve ser algo belo para conseguir cimentar cada vez mais o nosso processo democrático, em que um Presidente da República eleito, dirigente de um partido político, deputado da Assembleia da República, ministro, governador provincial, administrador distrital e outros responsáveis respeitem o povo.

Fonte: Notícias




2 comentários:

Maria Helena disse...

Parte-se-me o coração quando leio notícias deste género.
O povo tem de ser educado, isto é, Moçambique tem de apostar na educação do seu povo, em construír milhares de escolas, só assim todo o povo terá acesso à educação e ganhará conhecimento e sabedoria para combater males destes.
Isto mais parece estar a fazer pouco dos menos privilegiados, dos humildes ou dos que a vida ainda não lhes sorriu ou foi madrasta para eles.

Reflectindo disse...

Sabe Maria Helena, segundo o meu ponto de vista, podem-se construir muitas escolas básicas, universidades em todos os distritos podem não resolver nada, se essas continuarem com o mesmo conteúdo. Ora, milhares e milhares dos eleitores que estão a assistir as trafulhices eleitorais (emprestado a expressão de Machado da Graca) têm o nível suficiente para condenarem e sancionarem o que se passa em volta. Sabe, aqui há luta para manter-se o cidadão ignorante mesmo que tenha um alto nível de educacão.