EXTRAS: Porta-a-porta!
PARECE verdade que 45 dias de campanha eleitoral são muitos demais. Quem o demonstra são os próprios partidos concorrentes, que antes de um mês estão visivelmente exaustos, à procura de outros meios, de estilos diferentes e outras palavras para apresentarem ao eleitorado. Não há ninguém que aguente pôr pessoas (muitas vezes as mesmas) durante 45 dias a gritarem da mesma forma e com o mesmo vigor
Na verdade, as pessoas estão ficando, uma por uma avariadas. Por causa do cansaço, devido à malária que se apossou de algumas delas, em virtude de um acidente que se teve na caravana, porque se registou um pequeno recontro entre simpatizantes de partidos diferentes, porque o marido (ou a esposa) mandou parar, por muitas vezes chegar tarde à casa, visto que se descobriu que a campanha está a ser usada para alimentar, mais ou menos oficialmente, alguns vícios que trazíamos, de chegar tarde (ou não chegar) à casa, etc.
Por causa de muitos destes acontecimentos e, sobretudo, porque a vida não pára, há família doente, há funerais, alguma documentação tem que ser tramitada ainda em tempo de campanha, as avarias dos que engrossavam as fileiras aumentaram e a exaustão tomou conta dos politicamente activos.
O material propagandístico já escasseia, como se não bastasse o facto de, desta vez, não ter havido à fartura para nenhum partido. Os cartazes voaram com os vários ventos contra a sua exibição, incluindo ventos artificiais de outros partidos que iam rasgando assim que encontrassem postados em postes de iluminação, muros e paredes. No meio da escassez, eles não foram repostos.
As camisetes, que também desta vez foram poucas, depois de se sujarem, foram à ceia e de lá voltaram encardidas e meteram nojo, aconselhando a sua não repetição. Outros há que na opulência de material eleitoral de 2004, havia ficado com capulanas e camisetes novas. Usam-nas agora e parecem os mais privilegiados.
Às avarias dos politicamente activos juntaram-se as avarias dos meios de locomoção usados: as viaturas precisam de manutenção, senão gripam, as motorizadas, idem aspas, as bicicletas precisam de novos raios, se bem que em campanha, já levam mais de uma pessoa. A gasolina para as motorizadas… já o Partido não está a conseguir abastecer todos os dias a todos os adeptos, principalmente porque se vai descobrindo que há muito oportunismo no meio de tudo isso.
Caminhas até à sede do distrito de Mecúfi, a partir de Pemba, 50 quilómetros, não apanhas nem cruzas com nenhuma bandeira, grupinho ou caravanas em campanha política. Na sede do distrito de Mecúfi, até parece que houve uma ordem de que ninguém ponha lá os pés. Por duas vezes fizemos este trajecto. Pelo menos na primeira havíamos colidido com um grupo de petizes, guiado por um adulto, com uma bandeira, a correr, gritando nomes de um Partido e do seu candidato à presidência da República. Foi o mais vistoso sinal de que estávamos em campanha política. Nada mais do que isso.
É por isso que a “calma” voltou, sobretudo às aldeias, sedes de postos administrativos, vilas e mesmo nos bairros da cidade. Questionados os simpatizantes, já cansados, da razão porque já não saiem à rua, a resposta é que estão a fazer a campanha porta-a-porta.
Entretanto, há muitas portas que não foram visitadas e, provavelmente, nunca serão, porque a repetição das mesmas palavras, dos mesmos gestos, também fadiga. Os verbos, principalmente os adjectivos foram todos usados a favor dos Partidos e candidatos. E não ficou mais nada para dizer e, tal como um bom mulherengo, os partidos, já “tontos” estão a namorar os mesmos eleitores pelos quais passaram no mesmo dia, na mesma semana. Já não sabem com quem haviam falado ontem e onde poderão levar a sua mensagem amanhã.
Jornalistas já não têm nada para escrever, porque não há nada de novo em todas as manifestações políticas que justifique o uso do conceito de notícia. Ficaram relatores, que fazem actas diárias sobre o que é que cada partido fez em determinado dia. Não interessa se o impacto responde ao que é na verdade notícia.
Ainda não fizemos um mês de campanha. Seria interessante que os habituados às estatísticas, como mostram desta vez quase todos os partidos, nos dissessem quantos chegaram ao fim sem terem avariado ou sido avariados. São muitos, 45 dias! Daí o refúgio para as campanhas porta-a-porta, uma saída feliz para justificar perante a imprensa e a opinião interna do partido, a exaustão que se apossou dos mais directos protagonistas da campanha eleitoral.
Fonte: Jornal Notícias
Nota: Não aparece o nome do autor, mas suponho que seja Pedro Nacuo.
PARECE verdade que 45 dias de campanha eleitoral são muitos demais. Quem o demonstra são os próprios partidos concorrentes, que antes de um mês estão visivelmente exaustos, à procura de outros meios, de estilos diferentes e outras palavras para apresentarem ao eleitorado. Não há ninguém que aguente pôr pessoas (muitas vezes as mesmas) durante 45 dias a gritarem da mesma forma e com o mesmo vigor
Na verdade, as pessoas estão ficando, uma por uma avariadas. Por causa do cansaço, devido à malária que se apossou de algumas delas, em virtude de um acidente que se teve na caravana, porque se registou um pequeno recontro entre simpatizantes de partidos diferentes, porque o marido (ou a esposa) mandou parar, por muitas vezes chegar tarde à casa, visto que se descobriu que a campanha está a ser usada para alimentar, mais ou menos oficialmente, alguns vícios que trazíamos, de chegar tarde (ou não chegar) à casa, etc.
Por causa de muitos destes acontecimentos e, sobretudo, porque a vida não pára, há família doente, há funerais, alguma documentação tem que ser tramitada ainda em tempo de campanha, as avarias dos que engrossavam as fileiras aumentaram e a exaustão tomou conta dos politicamente activos.
O material propagandístico já escasseia, como se não bastasse o facto de, desta vez, não ter havido à fartura para nenhum partido. Os cartazes voaram com os vários ventos contra a sua exibição, incluindo ventos artificiais de outros partidos que iam rasgando assim que encontrassem postados em postes de iluminação, muros e paredes. No meio da escassez, eles não foram repostos.
As camisetes, que também desta vez foram poucas, depois de se sujarem, foram à ceia e de lá voltaram encardidas e meteram nojo, aconselhando a sua não repetição. Outros há que na opulência de material eleitoral de 2004, havia ficado com capulanas e camisetes novas. Usam-nas agora e parecem os mais privilegiados.
Às avarias dos politicamente activos juntaram-se as avarias dos meios de locomoção usados: as viaturas precisam de manutenção, senão gripam, as motorizadas, idem aspas, as bicicletas precisam de novos raios, se bem que em campanha, já levam mais de uma pessoa. A gasolina para as motorizadas… já o Partido não está a conseguir abastecer todos os dias a todos os adeptos, principalmente porque se vai descobrindo que há muito oportunismo no meio de tudo isso.
Caminhas até à sede do distrito de Mecúfi, a partir de Pemba, 50 quilómetros, não apanhas nem cruzas com nenhuma bandeira, grupinho ou caravanas em campanha política. Na sede do distrito de Mecúfi, até parece que houve uma ordem de que ninguém ponha lá os pés. Por duas vezes fizemos este trajecto. Pelo menos na primeira havíamos colidido com um grupo de petizes, guiado por um adulto, com uma bandeira, a correr, gritando nomes de um Partido e do seu candidato à presidência da República. Foi o mais vistoso sinal de que estávamos em campanha política. Nada mais do que isso.
É por isso que a “calma” voltou, sobretudo às aldeias, sedes de postos administrativos, vilas e mesmo nos bairros da cidade. Questionados os simpatizantes, já cansados, da razão porque já não saiem à rua, a resposta é que estão a fazer a campanha porta-a-porta.
Entretanto, há muitas portas que não foram visitadas e, provavelmente, nunca serão, porque a repetição das mesmas palavras, dos mesmos gestos, também fadiga. Os verbos, principalmente os adjectivos foram todos usados a favor dos Partidos e candidatos. E não ficou mais nada para dizer e, tal como um bom mulherengo, os partidos, já “tontos” estão a namorar os mesmos eleitores pelos quais passaram no mesmo dia, na mesma semana. Já não sabem com quem haviam falado ontem e onde poderão levar a sua mensagem amanhã.
Jornalistas já não têm nada para escrever, porque não há nada de novo em todas as manifestações políticas que justifique o uso do conceito de notícia. Ficaram relatores, que fazem actas diárias sobre o que é que cada partido fez em determinado dia. Não interessa se o impacto responde ao que é na verdade notícia.
Ainda não fizemos um mês de campanha. Seria interessante que os habituados às estatísticas, como mostram desta vez quase todos os partidos, nos dissessem quantos chegaram ao fim sem terem avariado ou sido avariados. São muitos, 45 dias! Daí o refúgio para as campanhas porta-a-porta, uma saída feliz para justificar perante a imprensa e a opinião interna do partido, a exaustão que se apossou dos mais directos protagonistas da campanha eleitoral.
Fonte: Jornal Notícias
Nota: Não aparece o nome do autor, mas suponho que seja Pedro Nacuo.
2 comentários:
Grande Pedro Nacuo. Eu adoro ler as suas crónicas.
Abraços
E muito reconhecível, Pedro Nacuo.
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