A talhe de Foice
Por Machado da Graça
O jornal Correio da Manhã publicou, há poucos dias, na sua primeira página, um artigo em que se falava de uma recente palestra de Marcelino dos Santos a membros do seu partido.
Segundo aquele jornal, o veterano político terá defendido aquilo que, na sua opinião, seria a solução para os problemas do nosso País: o regresso ao sistema de partido único.
Sim, leitor, foi isso mesmo que eu escrevi: O regresso ao sistema de partido único.
Ora se é verdade que estamos num país livre, em que cada um é senhor de si e das suas ideias, também é verdade que há algumas que se adaptam melhor aos tempos que correm do que outras.
E se Marcelino dos Santos nunca escondeu as suas ideias e o seu projecto político, já me parece mais estranho que o Partido FRELIMO tenha convidado uma personalidade tal para palestrar aos seus militantes, no contexto da preparação do seu próximo congresso.
Este Partido FRELIMO actual, de hoje.
O jornal não diz e eu fico cheio de curiosidade de saber: no final da palestra o público aplaudiu? Houve debate? A ideia do orador foi apoiada?
Um amigo, com quem comentei a notícia, perguntava: mas porquê a proposta? Não estamos já em partido único?
Se juntarmos isto tudo às frequentes acusações de dirigentes da RENAMO de que a FRELIMO está a querer acabar com a oposição e às muito publicitadas passagens de militantes oposicionistas para as fileiras do partidão, podemos começar a recear que não estejamos apenas perante problemas nas artérias do histórico dirigente, mas, sim, de uma tendência mais séria e a merecer atenção.
O culto da personalidade do novo Chefe de Estado, embora feito em moldes mais modernos e menos ostensivos, não deixa de estar presente no nosso quotidiano, a começar nas primeiras páginas do principal matutino, e a continuar nas notícias de abertura das rádio e televisão públicas.
E creio que posso falar deste tema à vontade, pois nunca escondi que, nos primeiros anos a seguir à Independência, era de defender o sistema do partido único. Naquele período extremamente difícil da saída dos colonos e consolidação do novo poder, um sistema mais aberto e democrático poderia ter sido aproveitado para lançar o caos no país.
Há quem defenda que, com o prestígio que a FRELIMO tinha nessa altura, poderia ter aceite um estado multipartidário, pois ganharia facilmente todas as eleições. Pode ser que sim, mas a solução escolhida permitiu um mais fácil estabelecer do novo estado independente.
Dito isto, no entanto, não podemos esquecer que, desde essa altura, passaram mais de duas dezenas de anos. O mundo deixou de estar dividido ao meio, como no tempo da Guerra Fria, e a época dos regimes de partido único parece ter passado à história, como aconteceu com os dinossauros.
No entanto, o exemplo da China pode estar a trazer ideias a algumas cabeças da nossa terra. Influenciados pelo comunismo chinês, naqueles tempos, podem estar agora a sentir-se atraídos pelo capitalismo de estado chinês dos nossos dias.
O que não me pareceria uma boa ideia.
Ao contrário do que acontece na China, entre nós já se vive em regime de multipartidarismo há um número significativo de anos. Já se consolidou essa forma de vida política e um regresso a um estado de partido único seria sentida como uma forma de opressão brutal por uma significativa percentagem da população nacional. Daí à desestabilização e à guerra iria um passo tão pequeno que quase não o veríamos ser dado antes de lhe sentirmos as consequências.
Consequências em todos os aspectos da vida nacional e da vida particular de cada um de nós.
E, estou perfeitamente convencido disso, ninguém em seu juízo perfeito quer um cenário desses.
Creio, portanto, que será de desincentivar esse tipo de namoro com ideias que tiveram o seu tempo, mas já nada de positivo podem trazer ao nosso País, nos tempos que correm.
Pelo contrário, deve ser no diversificar das propostas políticas que devemos encontrar a riqueza para a procura de soluções para os problemas nacionais.
Só quando deixarmos de considerar os adversários políticos como inimigos poderemos apresentar calma e racionalmente as nossas propostas, sem algazarras clubistas na sala do parlamento.
Só quando abolirmos a recordação do passado do outro, à falta de melhor argumento para um debate actual, poderemos seguir em frente como país plural e politicamente criativo.
Devemos, pois, mandar calar os Marcelinos dos Santos que existem ainda entre nós? Não, de maneira nenhuma. Têm tanto direito a falar como qualquer um de nós.
Se calhar pode-se é evitar dar-lhes um espaço de afirmação muito maior do que o peso real das suas propostas no contexto actual do país.
Até para o bem do prestígio de que ainda gozam junto de muitos de nós.
Tal como ele eu acho que ficámos ainda longe de atingir os objectivos a que a Revolução moçambicana se tinha proposto.
Ao contrário dele, penso que os métodos para lá chegar já não passam pelos experimentados por Lenin e pelos países “socialistas” do Leste da Europa.
Terão que ser formas novas e criativas, baseadas nas experiências de vida dos homens e mulheres do nosso tempo actual.
Semeadas e desenvolvidas num clima de liberdade, segurança e espírito de tolerância pelas ideias dos outros.
É esse o caminho a seguir. Não o regresso ao passado.
O jornal Correio da Manhã publicou, há poucos dias, na sua primeira página, um artigo em que se falava de uma recente palestra de Marcelino dos Santos a membros do seu partido.
Segundo aquele jornal, o veterano político terá defendido aquilo que, na sua opinião, seria a solução para os problemas do nosso País: o regresso ao sistema de partido único.
Sim, leitor, foi isso mesmo que eu escrevi: O regresso ao sistema de partido único.
Ora se é verdade que estamos num país livre, em que cada um é senhor de si e das suas ideias, também é verdade que há algumas que se adaptam melhor aos tempos que correm do que outras.
E se Marcelino dos Santos nunca escondeu as suas ideias e o seu projecto político, já me parece mais estranho que o Partido FRELIMO tenha convidado uma personalidade tal para palestrar aos seus militantes, no contexto da preparação do seu próximo congresso.
Este Partido FRELIMO actual, de hoje.
O jornal não diz e eu fico cheio de curiosidade de saber: no final da palestra o público aplaudiu? Houve debate? A ideia do orador foi apoiada?
Um amigo, com quem comentei a notícia, perguntava: mas porquê a proposta? Não estamos já em partido único?
Se juntarmos isto tudo às frequentes acusações de dirigentes da RENAMO de que a FRELIMO está a querer acabar com a oposição e às muito publicitadas passagens de militantes oposicionistas para as fileiras do partidão, podemos começar a recear que não estejamos apenas perante problemas nas artérias do histórico dirigente, mas, sim, de uma tendência mais séria e a merecer atenção.
O culto da personalidade do novo Chefe de Estado, embora feito em moldes mais modernos e menos ostensivos, não deixa de estar presente no nosso quotidiano, a começar nas primeiras páginas do principal matutino, e a continuar nas notícias de abertura das rádio e televisão públicas.
E creio que posso falar deste tema à vontade, pois nunca escondi que, nos primeiros anos a seguir à Independência, era de defender o sistema do partido único. Naquele período extremamente difícil da saída dos colonos e consolidação do novo poder, um sistema mais aberto e democrático poderia ter sido aproveitado para lançar o caos no país.
Há quem defenda que, com o prestígio que a FRELIMO tinha nessa altura, poderia ter aceite um estado multipartidário, pois ganharia facilmente todas as eleições. Pode ser que sim, mas a solução escolhida permitiu um mais fácil estabelecer do novo estado independente.
Dito isto, no entanto, não podemos esquecer que, desde essa altura, passaram mais de duas dezenas de anos. O mundo deixou de estar dividido ao meio, como no tempo da Guerra Fria, e a época dos regimes de partido único parece ter passado à história, como aconteceu com os dinossauros.
No entanto, o exemplo da China pode estar a trazer ideias a algumas cabeças da nossa terra. Influenciados pelo comunismo chinês, naqueles tempos, podem estar agora a sentir-se atraídos pelo capitalismo de estado chinês dos nossos dias.
O que não me pareceria uma boa ideia.
Ao contrário do que acontece na China, entre nós já se vive em regime de multipartidarismo há um número significativo de anos. Já se consolidou essa forma de vida política e um regresso a um estado de partido único seria sentida como uma forma de opressão brutal por uma significativa percentagem da população nacional. Daí à desestabilização e à guerra iria um passo tão pequeno que quase não o veríamos ser dado antes de lhe sentirmos as consequências.
Consequências em todos os aspectos da vida nacional e da vida particular de cada um de nós.
E, estou perfeitamente convencido disso, ninguém em seu juízo perfeito quer um cenário desses.
Creio, portanto, que será de desincentivar esse tipo de namoro com ideias que tiveram o seu tempo, mas já nada de positivo podem trazer ao nosso País, nos tempos que correm.
Pelo contrário, deve ser no diversificar das propostas políticas que devemos encontrar a riqueza para a procura de soluções para os problemas nacionais.
Só quando deixarmos de considerar os adversários políticos como inimigos poderemos apresentar calma e racionalmente as nossas propostas, sem algazarras clubistas na sala do parlamento.
Só quando abolirmos a recordação do passado do outro, à falta de melhor argumento para um debate actual, poderemos seguir em frente como país plural e politicamente criativo.
Devemos, pois, mandar calar os Marcelinos dos Santos que existem ainda entre nós? Não, de maneira nenhuma. Têm tanto direito a falar como qualquer um de nós.
Se calhar pode-se é evitar dar-lhes um espaço de afirmação muito maior do que o peso real das suas propostas no contexto actual do país.
Até para o bem do prestígio de que ainda gozam junto de muitos de nós.
Tal como ele eu acho que ficámos ainda longe de atingir os objectivos a que a Revolução moçambicana se tinha proposto.
Ao contrário dele, penso que os métodos para lá chegar já não passam pelos experimentados por Lenin e pelos países “socialistas” do Leste da Europa.
Terão que ser formas novas e criativas, baseadas nas experiências de vida dos homens e mulheres do nosso tempo actual.
Semeadas e desenvolvidas num clima de liberdade, segurança e espírito de tolerância pelas ideias dos outros.
É esse o caminho a seguir. Não o regresso ao passado.
SAVANA – 09.06.2006
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