Retirado na íntegra do: http://www.jornalnoticias.co.mz/pt/contentx/3321
Por JOAO BAPTISTA ANDRE CASTANDE
"Tu eras o combatente sem compromissos, o Homem sem preconceitos, o dirigente que só tinha por inimigos os inimigos do povo. Por isso tinhas a autoridade política e moral para apontar os erros, denunciar os desvios, propor soluções e aplicá-las mesmo quando elas tinham de ser duras e difíceis. Ensinaste-nos que também no corpo político é preciso raspar as feridas para que elas não infectem e contaminem tudo à sua volta. Durante a luta disseras: não lutamos para mudar a cor dos exploradores, para substituir a opressão estrangeira por uma opressão nacional. Contigo desconhecíamos o medo, a dúvida, a vacilação. Contigo tudo era possível. Tu eras a certeza, eras o caminho".- Marcelino dos Santos, 28 de Outubro de 1986.
SR. DIRECTOR!
Assim como entre os diversos órgãos do corpo humano não existe um único órgão que seja mais importante em relação aos restantes, também não existe uma formação política mais importante que as outras, na medida em que todas elas nasceram da vontade do povo e em determinada fase específica da sua história, até que a morte natural as leve.
2. Sim, julgo que o assassinato do partido RENAMO no nosso país pode não ser a melhor solução. E não é preciso ir longe para entender o que aqui afirmo. Para tanto, basta procurarmos saber se hoje, perante a queda do então Bloco Leste, o Ocidente vive mais tranquilo ou em tensão permanente? Será que o resto do mundo aceita e assiste de forma passiva as actuais manifestações da arrogância hegemónica do Ocidente sob pretexto de defesa da democracia?
3. Quer dizer, com a morte apressada do partido RENAMO o combate aos obstáculos eleitos pelo presidente Armando Emílio Guebuza, nomeadamente a criminalidade, o espírito de "deixa-andar", a corrupção e o burocratismo, deixará de ser feito apenas a nível de discursos e traçados de estratégias atrás de estratégias sem fundo nem fim? Digam-nos a verdade!
4. Concluo, para já, afirmando que estamos perante os frutos muito amargos da força isolada e sem aquele ponto de equilíbrio a que atrás me referi, que é o Capitalismo Ocidental, o mesmo tipo de frutos que os moçambicanos poderiam vir a colher no seu país se, alguma vez, a fatalidade do destino nos empurrasse para o abismo do regime de partido único!
5. Temos que ser muito cautelosos no exercício da função política. Precisamos, para tal, de conhecer bem as experiências (boas e más) dos nossos ancestrais, não menosprezando nunca as fraquezas e erros do nosso passado recente, a fim de que possamos caminhar com segurança para o futuro de prosperidade que todos nós almejamos.
6. Nunca nos esqueçamos, pois, que da mesma forma que ontem incomodava-nos a expressão fascista de Salazar/Caetano segundo a qual "Moçambique só é Moçambique porque é Portugal", hoje aborrecem-nos sobremaneira aqueles que afirmam que Moçambique só é isto e aquilo graças ao partido X ou Y. A boa educação ensina-nos que quem na realidade lutou por uma causa justa é sempre humilde, não se vangloria por esse facto e nunca é obcecado pelo poder!
7. Mas os fascistas de então foram mais longe ao afirmar que a expressão Moçambique só é Moçambique porque é Portugal significava que "desfeito o cimento que o ligava e o fazia parte da Nação Portuguesa, não haveria mais Moçambique nem na história nem na geografia"!
8. Já imaginaram, caros compatriotas, até onde é capaz de chegar a loucura política? "Às vezes, a mudança de mentalidades é uma questão muito importante porque os políticos, normalmente (eu posso falar de político porque já fui), pensam que são reaccionários quando se fala em mudança. Os políticos são contra a mudança... porque mudança significa uma ameaça para os políticos..." – Abdul Magid Osman, in semanário savana de 26-05-06, página 4.
9. Por conseguinte, defendo tenazmente a tese de que não são os partidos políticos que fazem os homens. São, antes pelo contrário, os homens que criam os partidos como seus instrumentos de trabalho ou de acção. Nas mãos do camponês, a enxada, a catana, o machado, são instrumentos importantes de trabalho, mas nem por isso estes instrumentos são mais importantes que o próprio camponês, o mesmo acontecendo em relação aos partidos políticos.
Resumindo
10. Resumindo: os partidos políticos não devem ser motivo de divisão, ódio ou de desunião entre moçambicanos. Eles, os partidos políticos, devem ser entendidos tão somente como instrumentos de trabalho e de acção na conquista da harmonia social, paz e bem-estar para todos.
11. Fazer do distrito pólo de desenvolvimento não constitui invenção de hoje, assim como não é nenhuma novidade o desafio do combate à pobreza absoluta. São desafios que vêm do nosso passado recente, inseridos na vontade de "Fazer da Década de 1980-1990 a Década da Vitória sobre o Subdesenvolvimento". Talvez a diferença desta vez esteja no facto de o tal combate ser palavra de ordem que emana da ONU, com todas as motivações que quiçá todos nós conhecemos: os malefícios do capitalismo mundial criaram exércitos de pobres e desempregados que metem medo às grandes nações!..
12. Mas voltemos as atenções para dentro do nosso país e interroguemo-nos porquê é que aquelas nossas duas apostas da década de 1980-1990 não vingaram? Não vingaram precisamente porque a nível interno tínhamos apenas uma única formação política forte, muito organizada e batalhadora, mas isolada, isto é, sem a necessária e indispensável força da oposição, situação esta cuja consequência imediata foi a ausência total da estabilidade política. Daí, os insucessos sucessivos de quase todos os nossos planos, ainda que tecnicamente bem concebidos e delineados.
13. Por isso, a retomada da nossa aposta de fazer do distrito a base de planificação e pólo de desenvolvimento pode falhar de novo, se não formos prudentes. Assim, e para o sucesso dos nossos actuais propósitos, sugiro que: a) Devemos evitar transferir para aquele nível territorial (distrito) as injustificadas e insanáveis querelas políticas que infelizmente continuamos a assistir nas sessões plenárias da Assembleia da República, sob pena de comprometer o sucesso das actividades produtivas das populações. b) Com a atribuição dos famosos sete biliões de meticais a cada distrito, devemos evitar fomentar aí a ganância pelo dinheiro, a vida fácil e outros males ou vícios que imperam e enlutam nos principais centros urbanos do nosso país. c) Não aproveitemos da pobreza da esmagadora maioria do povo e da situação económico-financeira avantajada mas muito duvidosa de alguns de nós para exercer pressões, vinganças ou corromper os demais cidadãos que pouco ou nada possuem, mas que entretanto têm vontade de trabalhar em prol do bem-estar de todos!... d) E sobretudo devemos ter cuidado com a prática de dividir para reinar, em função da cor da camisola partidária dos cidadãos, sob pena de reeditar as causas dos males que o Acordo Geral de Paz fechou com chave de ouro no dia 4-10-92, em Roma - Itália.
Reiterando
14. Reitero assim que fazer do distrito pólo de desenvolvimento não deve nem tão pouco significar a invasão da criminalidade e da corrupção ao campo, da mesma forma que o combate à pobreza absoluta ora preconizado pela ONU não deve significar a formação de elites pseudo-capitalistas e corruptas nos países ditos da periferia, ao serviço das ambições imperialistas dos estados mais industrializados do mundo, sob pena de criar mais inimigos.
15. Como bem opina o semanário "Domingo" de 28-05-06, "mergulhar no povo é exercício de lavagem e refrescamento e é regressar à metodologia do movimento de libertação". Alerto entretanto que esse novo mergulho no povo e o pretenso regresso às metodologias da época libertadora só serão aceites pelo povo real se tivermos a coragem de nos redimir das nossas mãos e rostos manchados pela corrupção e demais injustiças cometidas contra o mesmo povo, devido à impunidade que criamos e cultivamos durante estes últimos anos da vida da nossa mãe-Pátria!
16. Finalmente, aqui deixo renovada a minha convicção de que é pura ilusão, pensar que na República de Moçambique existe alguma formação política que merece morte precocemente arquitectada, a fim de que algo de positivo possa vingar.
17. Com efeito, e parafraseando o veterano Marcelino dos Santos, exigimos que também aqui, no campo político, o jogo seja executado de forma regrada e limpa. Nada de candonga! Tenho dito.
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