quinta-feira, março 13, 2014

Tensão político-militar aumenta número de deslocados na Gorongosa

Numa altura em que se registam alguns progressos no diálogo entre o Governo moçambicano e a RENAMO, crescem os números referentes aos deslocados. O Executivo diz que 6.727 pessoas foram obrigadas a sair da Gorongosa.

O primeiro-ministro moçambicano, Alberto Vaquina, revelou recentemente no Parlamento que 6.727 pessoas foram obrigadas a deslocar-se da região da Gorongosa, província de Sofala, no centro do país, devido aos ataques armados da RENAMO, o principal partido da oposição.
Entretanto, na semana passada, o partido liderado por Afonso Dhlakama manifestou-se disponível para “um cessar-fogo” com o Governo, defendendo a libertação de alegados “presos políticos” como essencial para a paz no país.
Face a este novo quadro, os deslocados têm esperanças de que melhores dias virão, para que possa, assim, regressar rapidamente aos seus lares e regiões. É essa também a posição de Teixeira Almeida, delegado do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) na província de Sofala, que a DW África entrevistou.

DW África: Onde estão instalados os deslocados?
Teixeira Almeida (TA): Eles estão em centros de acomodação, mas a situação tende a melhorar.

DW África: E que apoios é que o INGC está a dar à população, nomeadamente aos agricultores e às pessoas que trabalhavam as terras?

TA: Criamos um centro de acomodação, onde a população está a viver, e estamos a apoiá-los com géneros alimentícios. Em suma, estamos a dar assistência humanitária.

DW África: Tem um número de famílias que estão abrangidas por este problema?
TA: São números flexíveis, que podem subir. Não diria diariamente, mas semana a semana.

DW África: E há mais desafios para além da acomodação e da entrega de comida às famílias?

TA: Há outros desafios, como a distribuição de talhões.

DW África: E qual é o objetivo dessa distribuição de talhões?

TA: As pessoas irão construir as suas casas definitivas. E também estamos a apoiar as populações no corte e transporte de estacas.

DW África: E como está a ser resolvida a questão das escolas para as crianças?

TA: As crianças já foram integradas noutras escolas. Foram formadas novas turmas e as crianças estão a frequentar a escola normalmente.
DW África: Mas esse número de deslocados que o primeiro-ministro moçambicano, Alberto Vaquina, revelou no Parlamento são uma consequência dos ataques da RENAMO na região?

TA: Foi resultado disso porque a RENAMO é que está a provocar essas deslocações. Mas as pessoas já estão acomodadas e continuamos com a assistência.

DW África: Será que as condições criadas até agora são as que a população ou os deslocados exigiam para minimizar o drama dessas pessoas? Ou será que ainda é preciso muito mais?

TA: Eu penso que são as condições adequadas.Temos tudo: acesso à saúde,assistência humanitária,água. Temos tudo. São equipas multisetoriais que estão a trabalhar, não é só o INGC: Obras Públicas, Cruz Vermelha, Ação Ambiental... Estamos a seguir as normas internacionais.

DW África: A primeira campanha agrícola praticamente já terminou. A população abandona uma zona potencialmente produtiva, onde há chuvas regulares, e há falta de comida. Isso é um paradoxo.

TA: O local onde os deslocados estão é uma zona similar. As diferenças não são muito grandes. E eles também não estão parados. É uma população trabalhadora, cheia de vontade de trabalhar e que já está a trabalhar em pequenas machambas. Além disso, também têm machambas lá na zona.

DW África: Mas a segunda época da campanha agrícola vai começar agora...

TA: Vai começar, mas eles já estão a trabalhar. Cada um tem um espaço pequeno para trabalhar. Se a situação melhorar dentro de uma ou duas semanas, podem regressar às suas zonas de origem.

DW África: Com o cessar-fogo nesse caso?
TA: Claro, com o parar das armas da RENAMO.

DW África: Então tem esperança de que a situação possa melhorar nos próximos dias?
TA: Vai melhorar porque o Governo está a lutar por isso, está a fazer todos os esforços para que a situação melhore. Estou esperançoso.

Fonte: Deutsche Welle – 13.02.2014

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