MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Meu caro Júlio
Espero que estejas de boa saúde. Do meu lado está tudo bem, felizmente.
Só que com pena da triste figura que o general Khalau andou por aí a fazer no caso dos blindados das Nações Unidas.
Embora, sejamos justos, não lhe caibam as culpas todas.
Se eu bem percebi houve uma empresa, não sei se americana ou sul-africana, que recebeu a encomenda de fornecer cerca de 100 blindados de transporte de tropas para as forças de paz daquela organização. E, sabe-se lá porquê, decidiu montar as viaturas aqui, na Matola, para depois serem embarcadas no porto de Maputo para o seu destino operacional.
E, muito provavelmente, as peças soltas entraram no nosso país em contentores, como é habitual, sem que desse para se perceber o que iria sair dali.
Só depois de montados e pintados é que os veículos ficaram com o aspecto de carros militares. E é já com esse aspecto que 16 deles atravessam a cidade a caminho do porto.
Mas, no meio disto tudo, parece que ninguém se lembrou de informar o general Khalau do que se estava a passar. E o bom do general é confrontado com uma coluna de veículos militares que entram pela capital do país adentro. O que, com a actual situação político-militar tensa, é algo muito fora do normal.
E, vai daí, Khalau mandou confiscar as viaturas. E, devo-te dizer, eu, no lugar dele, provavelmente teria feito o mesmo.
É a partir daqui que o nosso polícia-mor descarrila.
Em vez de se tentar informar, imediatamente, do que se estava a passar (creio que dois ou três telefonemas seriam suficientes para isso) desata a fazer declarações bombásticas aos órgãos de informação, dizendo que os veículos entraram clandestinamente no país e outras pérolas do mesmo tipo. E dá a ideia de que, durante bastante tempo, não fez nenhum esforço para se informar melhor. Enfim, são feitios...
Mas o mais grave foi ele não ter sido informado do que se estava a passar. Veículos militares não são latas de salsichas e a Polícia devia ter sido devidamente informada e, inclusive, deveria ter escoltado os veículos entre a fábrica de montagem e o porto de embarque.
De qualquer forma é interessante saber que existe, neste momento, em Moçambique capacidade para montar aquele tipo de veículos. E, quem sabe, também outros veículos de uso civil. E isso pode, talvez, ser aproveitado quando a actual encomenda tiver acabado.
Se os chineses desistiram de vir cá montar o seu carro Matchedge pode ser que estes possam, e queiram, preencher o vazio.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
Fonte: Correio da Manhã - 25.03.2014
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