A persistente crise económica em Portugal obriga cada vez mais portugueses a emigrar. Angola e Moçambique são destinos de eleição, por afinidades históricas e linguísticas.
A emigração portuguesa aumentou em 2013, e poderá continuar a crescer, por força do desemprego, apesar dos indicadores oficiais referirem a tendência de queda para os próximos anos. Se Angola e Moçambique recebem uma parte importante desta emigração, a Europa continua a ser o mercado preferencial para os jovens licenciados que encontram poucas oportunidades de trabalho no país. Este fenómeno foi tema de debate na conferência promovida na quarta-feira, 13 de março, em Lisboa, por especialistas do Centro de Investigação de Estudos de Sociologia, da Rede Migra e do Observatório da Emigração.
A emigração portuguesa tem uma tradição longa de séculos. Um facto de que estão cientes também os numerosos jovens estudantes do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE ) interessados no debate sobre a versai atual da deste fenómeno, que leva a uma fuga de cérebros do país. A conferência internacional, que reuniu vários especialistas durante um dia inteiro, analisou as origens da nova emigração, concluindo que elas podem ser encontradas na atual conjuntura de crise. Perante o elevado desemprego, muitos portugueses – sobretudo jovens licenciados qualificados – tiveram que deixar o país, nos últimos dois anos, em busca de alternativa profissional, na Europa, Ásia, América Latina e África.
Cresce a emigração para Angola
Em declarações à DW África, Rui Pena Pires, do Observatório de Emigração, diz que a emigração para a Europa, que tinha baixado, voltou a subir com o advento da crise de dívidas em Portugal. E confirma à DW África, embora com alguma cautela, que a nova emigração para Angola tende a crescer: “Todos os números que nós temos demonstram o facto. Mas temos indicadores indiretos”.
“Por exemplo, o indicador das remessas”, diz Pena Pires, que explica: “Hoje as remessas de Angola para Portugal são muito maiores do que as remessas de Angola para Portugal e estão a crescer. Se há remessas é porque há pessoas a enviar dinheiro. E portanto nós sabemos que a emigração para Angola tem crescido”. As estimativas deste investigador apontam para uma emigração anual média de dez mil portugueses para Angola nos últimos dez anos: “O que é um número muito grande. Mas é um número que é muito difícil de comprovar”.
O que leva os portugueses a optar por Angola e Moçambique?
No entanto, de acordo com as estimativas apontadas por José Cesário, secretário de Estado das Comunidades, que falava na abertura da conferência, saem para Angola cerca de 20 mil portugueses por ano, a maior parte para o setor da construção civil. Outro destino de eleição dos portugueses é Moçambique Cesário diz que as perspetivas de crescimento em Angola e Moçambique vão atrair cada vez mais portugueses, onde “há uma facilidade que os portugueses têm, que é a comunicação, a língua”.
O aumento do fluxo para estes dois países de África, acrescenta, dependerá do interesse das empresas em contratar mais mão de obra portuguesa. José Cesário admite haver também um aumento da emigração para outras regiões, nomeadamente para o Reino Unido, mas não reconhece ser este um fenómeno maciço. O secretário de estado refere que saíram de Portugal em 2012 cerca de 120 mil pessoas. Não há dúvida que houve um aumento importante da emigração na sequência da crise, remata.
Como vêm os angolanos a chegada dos portugueses?
A diáspora portuguesa em Angola foi debatida na conferência, num painel onde esteve também Azal Augusto, um jovem angolano a estudar no País de Gales, no Reino Unido. Os seus estudos são dedicados ao tema da emigração: “A emigração de Portugal é interessante porque é Norte-Sul. Em termos de teoria é um pouco complicado, porque, geralmente, ninguém consegue explicar. Apesar da economia angolana crescer bastante, em termos de problemas sociais á uma grande disparidade. Eu gostaria de investigar como é que esta imigração é vista também na teoria, e não só na prática, pelos angolanos”.
Para Azal Augusto, Angola saiu de uma guerra de muitos anos que destruiu o tecido social e económico e, como tal, precisa de pessoas qualificadas para responder à dinâmica de crescimento.
Fonte: Deutsche Welle – 13.02.2014
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