sábado, outubro 12, 2013

O "CASO DIAMANTINO MIRANDA", O DUMBA-NENGUISMO DO NOSSO GOVERNO E A NOSSA MOCAMBICANIDADE DE VIDRO EM 4 PONTOS

Por Edgar Barroso

1. É uma interpretação manifestamente politizada, infantil e infeliz essa de chamarem de "assunto de Estado" às declarações privadas do treinador de futebol português, Diamantino Miranda, gravadas sem o seu consentimento e proferidas no calor de uma discussão pessoal havida apenas entre ele e um jornalista desportivo. Diamantino Miranda não proferiu o pretenso "insulto ao povo moçambicano" como representante do Estado português, meus senhores. E mais, o objecto do "insulto", por mais generalizado que tenha sido, não é em nenhuma circunstância o povo ou o Estado moçambicano. Ele afirmou tais palavras no contexto da discussão que travava com o jornalista e manifestando o seu descontentamento, indignação ou frustração pelo modo como o futebol moçambicano de alta competição é gerido e como os nossos jornalistas desportivos o têm abordado no seu trabalho. Pode ter sido extremista na generalização, como todo e qualquer indivíduo o pode fazer no calor de uma discussão. Meus senhores, é tão verdade que há corrupção no nosso Mocambola como que há jornalistas que agem como autênticos mercenários, clubistas ou intriguistas nas suas abordagens desportivas, favorecendo ou prejudicando uns e outros.


2. Os nossos governantes, particularmente os responsáveis pelo "tens 48 horas para sair deste país, c*******" demonstram, mais uma vez, que se deixam agir por impulsos circunstanciais, subjectivos e populistas nas suas decisões do que por preceitos legais objectivos e que visam em última instância a reposição da justiça ou da verdade. Diamantino Miranda disse o que disse sem saber que estava a ser gravado e sempre em reacção ao que o jornalista afirmava ou questionava, sem saber que estava a ser atraído para uma ratoeira que seria instrumentalizada, de má fé, para que fosse elemento de prova e de fundamentação para que o GOVERNO MOCAMBICANO o expulsasse sumariamente do país. Isto é, no mínimo, patético!

3. Esses "moçambicanos de gema" que estão com o cabedal inchado de orgulho e a ter orgasmos múltiplos de satisfação pela decisão governamental de expulsão do treinador português seriam capazes de sentir o mesmo se eu andasse por aí a provocar cidadãos estrangeiros e a gravar clandestinamente as nossas conversas para que também sejam usadas como prova para que a Ministra do Trabalho - ou o Ministro do Interior, ou o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação - os declarar "personna non grata" e determinar a sua expulsão imediata do país? Francamente... Quantos cidadãos estrangeiros andam por aí, em ambientes privados ou públicos, a chamar aos nossos compatriotas de nomes muito mais indignos e degradantes, de forma indiscriminada e generalizada? Há chineses que espancam cidadãos moçambicanos aqui. Há sul-africanos que nos insultam à torto e à direito aqui no nosso próprio país. Há brasileiros, nigerianos, vietnamitas ou angolanos que nos ofendem todos os dias aqui. Não são expulsos em 24 ou 48 horas apenas porque não são gravados em off record pelos nossos jornalistas, não é verdade?

4. Acredito que os que se ofenderam e se têm insurgido pública e veementemente contra as palavras ditas por Diamantino Miranda, em FÓRUM PRIVADO, são mesmo os ladrões a quem ele se referia. Ou têm relações directa com os visados. Ou têm pendentes históricos de socialização com os portugueses. Admira-me muito que só tenho estado a ver reacções condenatorias, muitas delas sem fundamentação racional objectiva, apenas de alguns jornalistas, dirigentes desportivos, membros do Governo moçambicano e um ou outro "moçambicano de gema" com indisfarcaveis nuances xenófobas à flor da pele... Nem eu, nem a comunidade desportiva no geral ou os restantes mais de 22 milhões de moçambicanos se têm insurgido, em público ou em privado, contra Diamantino Miranda... Porque será?

Fonte: Diálogo sobre Mocambique - 11.10.2013

8 comentários:

António Manna disse...

Não acho que uma coisa tenha a ver com outra.
O facto de ser verdade tudo o que o Edgar escreveu não iliba um treinador que sabe que é uma figura pública de se expressar da forma como se expressou e ao contrário do que o edgar pensa, acho que alguma vez tinha que se começar a tomar medidas drásticas para este tipo de atitude.
Penso também que daqui para a frente esses individuos aqui referidos pensarão duas vezes antes de abrirem a boca para desrespeitar o cidadão.

Reflectindo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Reflectindo disse...

Mano Tony Manna, que medida é esta? O que há a ver nesta intriga com o Estado Mocambicano? Isto aqui, para além de ser populismo é extremismo, XENOFOBIA. Muito mau para Mocambique. Quando estrangeiros começam a desconfiar a todo e qualquer mocambicano que esteja a espiar-lhe é muito mau para nós todos.
Ainda bem que muitos mocambicanos se distanciam com este acto extremista.
Vivi na Dinamarca durante um ano e entre estudantes africanos e europeus, incluindo dinamarqueses, mas nós tinhamos o direito de falar o que era mau em dinamarqueses e ninguém foi expulso nem julgado. Ainda me lembro dum colega guinense que expulsou um dinamarquês do seu quarto e ele não foi julgado e nem sequer visto na escola como quem faltava respeito à Dinamarca. Estou a quase vinte anos na Suécia trabalhando com estudantes e colegas estrangeiros e nós falamos abertamente o que sentimos da Suécia e dos suecos e outros até exageram quando falam do lado negativo, mas não há deportação. Digo há estrangeiros aqui que até proibem aos seus filhos para qualquer relação com os os suecos porém vieram cá a procura de proteção. Em 2002 fiz um artigo académico baseado em Nós e Outros na Suécia e nesse eu falava daquilo que muitos suecos escondem. Tudo isso num grupo onde o único estrangeiro era eu. Quando apresentei aquela tese todos pegaram no queixo e colocaram-me questões muito profundas. No fim agradeceram e tive uma nota excelente apesar de eu ter falado do lado negativo dos suecos.
Mano Tony, vamos acordar! Vamos, mano! O governo de Guebuza não pode andar a procura de manter-se no poder à custa de estrangeiros como Mugabe fez. Isso será mais caro para cada cidadão moçambicano. E mana Taipo não pode procurar limpar a sua imagem com populismo.

Anónimo disse...

Caros concidadaos, em primeiro lugar sera preciso entender que cada Estado tem as suas leis. Se nao foi expulso na Dinamarca por falar mal deles é porque teve sorte ou lá a Lei nao liga a isso. Neste País é diferente, e muitas coisas soa diferentes entre Moaçambique, Dinamarca, Guine, etc. ESte argumento nao vale!
Por outro lado, e preciso notar que de forma generalizada os portugueses tratam mal os mocambicanos, angolanos, gunenes ... porque se acham no direito de continuar a os oprimir.
Se divulgar ou entregar a quem de direito as gravações desses fulanos acredito que em função das ofensas proferidas também serão autuados.
Houve muitos sul-africanos que foram obrigados a abandonar o país por atitudes racistas, portanto este caso do miranda não é insólito. O melhor é aprender a falar....

Reflectindo disse...

Anónino
Primeiro, tu não és nenhum cidadão sério e eu podia dispensar qualquer comentário;
Segundo, mostras que de lei nada sabes. Essa é a razão que te faz não rebater o artigo. Tu pensas que a tua opinião é lei. Não é não.
terceiro, quem violou as leis mocambicanas é o próprio jornalista. Já podias ter te apercebido se de leis algo soubesses.
Quarto, os direitos humanos são internacionais. Só para te provar, há alguns anos a Suécia permitiu que duas pessoas procuradas pelo regime de Hosni Mubarak no Egipto fossem deportados, mas a Suécia foi e é severamente criticada por ter feito isso.
Quinto, associar Miranda ao comportamento de supostos portugueses é ainda muito perigoso. Miranda não estava directamente ligado ao jornalista-espião e intriguista aos a um clube de futebol. Ele lidava diariamente com mocambicanos, mas é estranha que não se diga que tratava mal os jogadores da equipa que treinava.
Quinto, será por retaliacão que Miranda é álvo? Em Estados sérios retaliacão é aberta. Note o que acontece muitas vezes entre Rússia e Estados Unidos. Mas note que isso se faz com o pessoal diplomático o que näo é o caso do Miranda.

Reflectindo disse...

Um cidadão sério tem nome e identificacão personalizada

JOSÉ disse...

Eu estou a ler tudo, aqui e em muitos sitios! Cada um tem as suas ideias que devem ser respeitadas mas sinceramente penso que as pessoas falam e escrevem muito sobre o Diamantino mas ignoram como fica o Estado de Direito neste caso! A minha inquietaçao é apenas esta: onde esta o Estado de Direito?
Quando uma pessoa é acusada e expulsa, sem direito a defesa, por ter emitado uma opiniao em privado, tendo como prova uma gravaçao ilegal, quando um assunto de Tribunnal é tratado como assunto de Estado, eu fico muito preocupado por o Estado de Direito ter sido vergonhosamente pontapeado!
O resto é conversa para nos entreterem!

António Manna disse...

Entendo o que dizes e reconheço as regras do Estado de Direito.
Não acho que esta atitude tenha a ver com aproveitamento politico, não acho mesmo.
Reajo assim porque tenho testemunhado estrangeiros, mais sul-africanos e portugueses, destes recém chegados, a terem atitudes de que só me lembro ter visto no tempo colonial; distratando os trabalhadores dos restaurantes, supermercados, estâncias turísticas, os vendedores ambulantes etc .
O sr diamantino até podia ter uma relação profissional e social correcta mas ao estalar do verniz na discussão com o jornalista mostrou o que lhe vai na alma e isso é lamentável.
Talvez não devesse ter sido expulso, talvez a mão do estado tenha sido muito pesada, talvez.
Mas duma coisa estou certo, atendendo ás facilidades dadas por este governo incapaz, se não se tomarem medidas as coisas no futuro serião bem piores e deste modo esses abusadores pensarão duas vezes antes de desrespeitarem seja quem for.