domingo, janeiro 01, 2012

Saifa Pichora CABO DELGADO - Saifa Pichora: Apresenta preocupações para o Chefe do Estado

Por Pedro Nacuo

É PORTADORA de deficiência física, porque leprosa, vive na aldeia Nkoripo, arredores da sede distrital de Meluco, que teve a sorte de acolher a visita da Primeira-dama da República, em 19 de Novembro deste ano que hoje termina. Levantou-se para dar uns recados dirigidos ao Chefe do Estado na esperança de que, desta vez, como sublinhou, cheguem na verdade.


Chama-se Saifa Pichora, a mulher que pouco antes estava integrada num grupo de dança feminina denominada Nihitchiliha, por sinal por si comandada, mas pouca gente soube que se tratava duma deficiente, que nem sequer anda pelos seus próprios pés, mas sim, tudo, incluindo a dança, fá-lo de cócoras.

Depois de terminadas as actividades culturais de mais de três grupos e no meio do comício dirigido pela Primeira-dama, Maria da Luz Guebuza, esta pede intervenções de quem quisesse expor questões que complementassem a reunião, na base do carácter participativo que identifica os dirigentes do nosso país.

Entre outros intervenientes salientaram-se duas idosas, todas falando da discriminação em relação aos benefícios decorrentes do facto de serem velhas, dependentes e reconhecidamente vulneráveis, sem no entanto receberem nada para a sua sobrevivência.

“Mamã, vai dizer ao seu marido que encontraste uma mulher em Nkoripo, distrito de Meluco, que dançou bem Nihitchiliha, mas que não tem pés nem mãos, porque é leprosa. Chama-se Saifa e, mesmo assim, ninguém olha para ela”, disse a interveniente.

Saifa destacou ainda o facto de que, desta vez, estava convencida de que a mensagem chegaria ao Presidente da República, pois havia sabido que estava perante a sua esposa, sendo que, provavelmente, evitaria a sinuosidade do canal que normalmente poderia fazer chegar as inquietações populares ao mais alto magistrado da Nação.

“Desta vez tenho a certeza, mamã. Não pode ir dizer no serviço do Presidente. Espere ele vir do serviço e contar-lhe a minha história, em casa. Aqui já estou cansado de reclamar, sempre que há encontros apresento este problema, já me alistaram algumas vezes, mas nunca encontrei a resposta positiva”, reiterou Saifa Pichora.

Mais à frente revelou que, como se tudo isso fosse pouco, há um ano perdeu o seu irmão, o único que a sustentava, ficando ainda mais desprotegida, tendo a seguir desabafado:

“Mas nós costumamos ouvir que nas outras regiões deste mesmo país e da província, pessoas idosas, portadoras de deficiência ou de qualquer modo impossibilitadas de se sustentarem por si, têm apoio do Governo. O que é preciso fazer para nós aqui também, sem ser necessário nos transferir para essas regiões?”Questionou a oradora.

Saifa Pichora disse ainda que era antiga combatente, por o período a que se referem os seus estatutos (dos combatentes) ter passado em zonas de guerra e vivido como muitos viveram, mas que entretanto, hoje, ao contrário dela, beneficiam de uma pensão.

Terminou com a alegoria de que uma mãe que tenha gémeos não deve amamentar apenas uma criança, ainda que tenha pouco leite, sob o risco de estar a discriminar a outra, antes mesmo de ser a sociedade a fazê-lo.

A outra, cujo nome não conseguimos apurar, depois de colocar quase os mesmos problemas de alegada discriminação entre regiões, mesmo no interior de Cabo Delgado, começou por pedir para que não ficasse presa por ter falado para a esposa do Presidente da República e explicou-se melhor:

“É que aqui na nossa terra, parece que falar é faltar respeito. O que eu queria dizer a mamã, é isso, agora não sei o que é que se vai passar cá atrás, mas seria bom que me dissessem agora mesmo, se faltei respeito ou não”, disse aquela anciã.

A Primeira-dama disse lamentar que o que Saifa estava a dizer fosse tal como apresentava, ao mesmo tempo que chamou à atenção de todos, para o facto de que não se deve abandonar os parentes, sejam eles idosos ou portadores de deficiência.

“Cada família com o seu idoso, não se pode abandonar o idoso de cuja responsabilidade nascemos nós, porque nos cuidou até crescermos”, disse Maria da Luz Guebuza.

Na mesma oportunidade, encontrados em contra-pé desfilavam os responsáveis provinciais pela Acção Social e dos antigos combatentes para se certificarem do facto dela ter sido alistada em algum momento ou apresentado a sua questão em outras ocasiões.

Fonte: Jornal Notícias - 31.12.2011

2 comentários:

Naja das Índias disse...

Muita coragem, mas sera que o recado chegou ou chegara!?

Reflectindo disse...

Nadia, se o recado ainda não chegou ao destinatário, e o nosso dever fazê-lo chegar. Pedro Nacuo escreveu e nós publicamos e discutimos o que a Saifa Pichora disse para que isso chegue aos destinatários.

Feliz Ano Novo para ti!