Dilema de contratação de professores no país.
A Universidade Pedagógica graduou, só em 2011, mais de 4 mil professores licenciados. Deste número, nem sequer um foi contratado pela Educação, considerando que nenhum licenciado foi chamado a dar aulas nas escolas públicas em 2012, exceptuando os que estavam a estudar como bolseiros. A justificação é a mesma de sempre - falta de dinheiro -, e, em contrapartida, a qualidade de ensino vai degradando-se nos últimos anos por vários motivos, dos quais, a fraca qualidade do corpo docente...
O Ministério da Educação (MINED) não vai contratar nenhum professor licenciado este ano para leccionar nas escolas públicas do país. Os únicos 169 licenciados que passarão para o sistema já davam aulas nas escolas públicas, desde o ano passado, só que os seus salários eram pagos por um doador e o contrato com este financiador só tinha validade de um ano.
No total, o Ministério da Educação contratou, para o presente ano, 8 500 docentes distribuídos por todas as províncias do país.
Na verdade, dos 8 500 professores, 7 300 é que são novos no sistema, enquanto os restantes 1 200 estão a ser integrados na educação, uma vez que já davam aulas nas escolas públicas, mas os seus salários eram pagos por um doador e não pelo Orçamento do Estado. Destes 1 200 professores ora integrados, 169 são licenciados, mas nenhum dos 7 300 novos docentes é licenciado. Ou seja, para o ano de 2012, o Estado moçambicano não contratou nenhum professor com nível de licenciatura.
Graduar licenciados para o desemprego ou baixar de nível para ter colocação?!
Em 2011, só a Universidade Pedagógica, UP-Sede, em Maputo, lançou para o mercado 1 906 licenciados em diversas áreas de saber. Nos últimos cinco anos, a UP-Sede graduou cerca de 5 770 professores com nível de licenciatura. Dados em nosso poder, facultados pela Direcção do Registo Académico daquela instituição de ensino superior, mostram que, só ano passado, apenas seis delegações da UP, nomeadamente, UP-Sede, delegações da Beira, Gaza, Nampula, Quelimane, e da Sagrada Família, graduaram cerca de 4 139 docentes licenciados.
Em termos concretos, todos os 4 139 licenciados formados pela UP em 2011 não vão ter colocação como docentes nas escolas públicas do país, exceptuando os que estavam a estudar como bolseiros da Educação. Como alternativa, alguns destes quadros poderão dar aulas nas escolas privadas ou candidatarem-se às escolas públicas como “médios” ou “bacharéis”, já que o Ministério da Educação apenas contratou professores de nível básico (10a+1) os chamados DN4; de nível médio, (12ª +1), os chamados DN3 e bacharéis ou DN2.
Situação como entrave da qualidade de ensino
O Ministério da Educação reconhece que esta situação é constrangedora para quem quer atingir um nível aceitável da qualidade de ensino, mas diz que sem dinheiro nada pode ser feito.
Os directores das principais escolas da cidade de Maputo, tais como Josina Machel e Francisco Manyanga, reconheceram que, nos últimos três anos, a qualidade de ensino baixou consideravelmente. Na Francisco Manyanga, o director da Escola, Orlando Dima, disse que o aproveitamento pedagógico caiu de cerca de 80 para cerca de 70 por cento.
Enquanto isso, na “Josina Machel”, o aproveitamento caiu de cerca de 80 para cerca de 50 por cento nos últimos três anos, tal como indicou Maimuna Ibrahimo, directora daquela unidade escolar.
Para além disso, o aproveitamento pedagógico das classes com exame, na cidade de Maputo, esteve abaixo de 10 por cento na primeira época do ano passado. Ou seja, as reprovações estiveram acima de 90 por cento.
O director de Planificação a nível da Direcção de Educação da Cidade de Maputo, Samuel Meneses, lamenta o facto, porque, segundo explica, “os professores qualificados são um elemento-chave para a melhoria da qualidade de ensino”, que é um dos principais objectivos do sector da Educação para o presente ano de 2012, “mas sem dinheiro nada pode ser feito”.
Alias, o próprio ministro da Educação, Zeferino Martins, disse, recentemente, que um dos requisitos básicos para a melhoria da qualidade de ensino é ter docentes qualificados e devidamente formados. Martins defendeu, nessa ocasião, a necessidade de reforma de curricula de formação de professores em todos os níveis, bem como a diminuição do rácio aluno/professor. “Este ano, nenhuma turma da 8ª a 12ª classe terá acima de 50 alunos, como forma de melhorar a qualidade de ensino”, garantira Zeferino Martins.
Entretanto, a directora Nacional dos Recursos Humanos, no Ministério da Educação, Celeste Onions, diz que o governo não tem outra alternativa senão trabalhar com os professores que já estão no sistema. “Só temos que trabalhar com os docentes já existentes e reorientá-los para a formação superior, de modo a que sejam reintegrados nas suas escolas de origem com melhor qualidade”, explica.
Fonte: O País - 19.01.2012
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