quarta-feira, janeiro 11, 2012

Manifestações de Cateme, em Tete Governo acusado de ter traído povo

* MDM exige imediata soltura dos detidos

O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) diz que as manifestações de terça-feira última, protagonizadas pelos reassentados do centro de Cateme, no distrito de Moatize, em Tete, são resultado da flagrante traição do Governo moçambicano, que presta mais atenção aos interesses estrangeiros e ignora as mais elementares necessidades dos cidadãos nacionais. Na voz do seu delegado na província de Tete, Celestino Bento, aquela formação política afirma que “a sublevação daqueles concidadãos significa um cansaço, porque há vários anos que vêm reclamando a falta do cumprimento das promessas feitas como condição para abandonarem as suas zonas de origem no município da vila de Moatize, para dar lugar à extracção do carvão pela empresa Vale”.
“O povo descobriu que tinha sido traído. Foi retirado de zonas onde havia mínimas condições de vida para um terreno sem hipóteses para a agricultura. A água escasseia e as casas construídas no local são um atentado à vida, porque em pouco tempo apresentam rachas, agravando-se com o facto de muitas delas terem sido erguidas nos corredores da água da chuva, o que faz ocorrer inundações dentro das habitações” – disse Celestino Bento, que, no entanto, reconhece que “às vezes, quem tem fome pode não controlar as suas emoções”.
O delegado político do MDM na província de Tete, que procurou a nossa Reportagem para repudiar as más condições de vida oferecidas aos reassentados em Cateme e solidarizar-se com eles, exige que o Governo acelere os contactos com a Vale para que esta empresa, a breve trecho, rectifique os erros de construção nas residências e honre os seus compromissos. Assim, segundo as suas palavras, “aqueles compatriotas deixarão de se sentir estrangeiros dentro do seu próprio país”.
“A luta armada contra o colonialismo foi para libertar a terra e o homem. Infelizmente, verificamos que, em Moçambique, a prioridade é para o estrangeiro. As actividades dos megaprojectos, vezes em conta, não se fazem sentir na vida dos nacionais e os lucros, esses, só Deus sabe para onde vão. Perante isso tudo, não se pode obrigar a população a ficar indiferente” – disse Celestino Bento, que apela aos residentes de Cateme a conterem as suas emoções, sob o risco de todos acabarem parando na cadeia, “dada a vontade de calar as legítimas reivindicações populares”.
O delegado do MDM em Tete exige a libertação imediata dos 14 detidos pela Força de Intervenção Rápida, “porque não têm a culpa de os seus direitos não terem sido respeitados. Não é com o uso da força que se vai calar a boca de um esfomeado, de um expropriado, de quem está com falta de água para beber, de quem, em suma, foi traído pelo seu próprio Governo”.
Os apelos de Celestino Bento estendem-se “à população da província de Tete, para observar esta traição do Governo, que faz com que o moçambicano não se sinta dono do seu país. Temos que ver se vale ou não a pena confiar nesta gente, que usa a cobardia para a governação. Por fim, apelar para que a empresa Vale Moçambique, humanamente, resolva os problemas apresentados pela população de Cateme e que o Governo aprenda a tratar o moçambicano como o real dono deste país.

GOVERNO CONFIRMA REGRESSO À CALMA

As autoridades administrativas do distrito de Moatize voltaram a assegurar ontem que continua a reinar a calma no centro de reassentamento de Cateme. Esta situação verifica-se desde cerca das 10 horas da própria terça-feira, depois de perto de oito horas de movimentações tumultuosas que incluíam a montagem de barricadas na rodovia e linha férrea.
“Todas as barricadas já foram removidas, os comboios e carros circulam normalmente e os próprios insurgentes regressaram à sua rotina diária. Estamos a acompanhar a situação e a trabalhar com a empresa Vale no sentido de honrar os seus compromissos, pelo menos no que diz respeito aos acordos rubricados e que sejam do domínio do Governo” – palavras do administrador de Moatize, Manuel Guimarães.
No entanto, o administrador Guimarães reconheceu que algumas reivindicações da população de Cateme têm a ver com compromissos assumidos verbalmente, em reuniões que aquela empresa foi tendo com os então residentes no município de Moatize, naquilo que era tido como sendo sessões de sensibilização e esclarecimento sobre as condições que iriam ser criadas no centro de reassentamento.
Apesar disso, o administrador de Moatize diz que o Governo não vai ignorar o seu dever de defender os interesses da população, sua razão de ser. Segundo suas declarações, em contacto telefónico ontem, “qualquer que seja um acordo, verbal ou subscrito num papel, deverá ser honrado e nós estamos para monitorar a sua execução”.

Fonte: Diário de Mocambique - 13.01.2012

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