[Antônio Veríssimo] Para quem teve o azar de nascer e sobreviver em Portugal e nas colónias do regime salazarista não é novidade que esse regime sempre que precisava de demonstrar que era apoiado pelas populações recrutava todos os transportes possíveis para levar milhares aos locais das manifestações de apoio. Acontece em todas as ditaduras. Até nas ditas "democracias". Vejam-se atualmente certas concentrações de quase todos os partidos políticos em Portugal.
Na capital do então "império", Lisboa, as manifestações de apoio a Salazar e ao seu regime fascista, quando aconteciam, tinham por recrutadores os caciques e as chamadas Casas do Povo dos mais recônditos lugares do país. Ali se concentravam camionetas de passageiros ou de transporte de gado para trazer a Lisboa muitos dos cidadãos que vinham pelo aliciante do passeio à capital do país – que antes não tinham visitado e provavelmente nunca mais a veriam. Era o "passeio" e não Salazar que os fazia mover, mas para o caso servia às mil maravilhas. Os caciques controlavam. Ai daqueles que não estivessem presentes nas manifestações de apoio com as bandeiras, cartazes e faixas elaboradas nas organizações salazaristas (Movimento Nacional Feminino, Mocidade Portuguesa, Legião e outros) e que já no local da manifestação lhes eram distribuídas.
Nas então colónias, como em Angola, Moçambique e outras, sempre que um ministro ou qualquer "alto representante" do regime salazarista ali se deslocava acontecia o mesmo, para a manifestação de boas-vindas... Era a organização do regime colonial-fascista.
Neste momento, em Luanda, está a acontecer o mesmo, numa manifestação de apoio ao ditador Eduardo dos Santos. A organização da manifestação de apoio é do MPLA, temente da manifestação anunciada com intenção de repudiar Dos Santos, que se encontra há 32 anos no poder sem que para isso tenha sido eleito pelos angolanos.
O MPLA, partido da resistência histórica ao colonialismo, que nas suas fileiras contém inúmeros patriotas heróis, recolhe e pratica os ensinamentos do regime que oprimiu os angolanos durante séculos, contra o qual combateu. O MPLA recorre aos métodos colonial-salazaristas na pretensão de demonstrar que o ditador José Eduardo dos Santos tem o apoio dos angolanos. Uma falácia. Em Luanda está a acontecer aquilo que acontecia em Lisboa durante os negros anos do fascismo salazarista.
Talvez de modo mais discreto mas a fazer recordar a cópia do nefasto regime colonialista, as forças da repressão fiéis a Eduardo dos Santos controlam, intimidam e encarceram opositores. Já há notícias de que isso está a acontecer em Luanda e um pouco por todas as principais cidades angolanas onde existam opositores ao regime mais destacados. Estão a acontecer raptos no mesmo modo dos da PIDE colonialista. Opositores que serão libertados (ou não) quando este regime opressor e ditatorial angolano considerar que "a vaga de terrorismo passou". "Terrorismo" que mais não é que a contestação à manutenção de um ditador e de um regime que subjuga os angolanos há 32 anos e que os traz na miséria, na fome, na ilusão de dias melhores com promessas que levam décadas a serem minimamente concretizadas, as que são. Fartos de guerra, fartos de opressão, fartos de padecer, fartos de acreditar em autênticos traidores dos propósitos que fundaram o MPLA, os angolanos estão a dizer NÃO! É esse o propósito da manifestação convocada para 7 de Março. Só esse propósito. Propósito mais que suficiente para ser temido pelos que fizeram do MPLA um movimento hibrido angolano-colonial-salazarista, ou deve dizer-se angolano-traidores de um povo farto de ser roubado e massacrado?
Quantos milhares de pessoas já foram e estão a ser transportadas para o local da manifestação de apoio ao ditador, em Luanda, no figurino salazarista? Quase todas. Santos e os que o ladeiam, os alunos de Salazar, assimilaram-no, aprenderam e usam os seus métodos. Que não sendo uma novidade... não deixa de ser uma enorme vergonha para todos que amam a Pátria Angolana e que quase até agora foram crentes e fiéis a este regime por demais caduco!
Fonte: Diário de Liberdade - 06.03.2011
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