quinta-feira, julho 09, 2009

CONCENTRAÇÃO OBSSESSIVA DO PODER AFUGENTA DEMOCRACIA


Democracia política sem democracia económica é um logro…

Por: Noé Nhanthumbo

Vender democracia de boca mas com as barrigas dos compradores vazias é demagogia pura. Quando isso acontece, não importa onde, é a democracia que sofre.

Os desaires no processo de construção de um Moçambique pluralista, democrático e desenvolvido tem muito a haver com a postura e procedimentos dos seus actores políticos. Fala-se e exibe-se uma postura de democracia e tolerância mas na realidade os políticos moçambicanos pouco se suportam e muito menos ainda se toleram.


Querem a todo o custo apresentar ao mundo uma imagem de políticos realmente preocupados com o dossier democracia mas nos seus procedimentos quotidianos o que se observa é uma tendência de acumulação e usurpação de tudo o que tenha algum valor. Qualquer relação com aquilo que é a política acontece em virtude de necessidades conjunturais e de enquadramento estratégico de acções mas não por uma decisão consciente tomada nesse sentido por políticos ou seus partidos.

É por demais evidente entre nós que a política se faz para as pessoas se servirem dela e não para servir os cidadãos.

Toda a hipocrisia e exercícios de camuflagem que somos dados a ver e a assistir são frutos de decisões tomadas por políticos com responsabilidades liderança nos seus partidos. Agora com o aproximar das eleições joga-se o tudo ou nada entre os candidatos aos diversos cargos em disputa. Ser-se deputado é tão importante até pode levar a cometerem-se crimes para lá chega.

Algumas das coisas que acontecem parece serem frutos de acordos assinados entre as figuras de proa dos partidos. A falta de consequência de que se reveste muito do que se faz no domínio político e governamental é resultado directo do que quem manda quer.

Desde que esteja salvaguardado o que querem ou supõem importante ou estratégico o resto não conta. E quanto mas militarizado for o partido mais decisões ditatoriais teremos sendo produzidas.

Os arranjos e diferentes saídas encontradas no seio dos partidos com base no centralismo democrático ou simplesmente por ditadura pura são em si o melhor critério para avaliar o cometimento para com a democracia alegadamente existente entre a classe política moçambicana.

Qualquer análise que se faça mostra que os nossos políticos são um conjunto completo de demagogos “tachistas”, oportunistas compenetrados em realizar agendas centradas no individuo e raramente preocupados em trazer a agenda dos cidadãos para a superfície.

O “seguidismo” e o falso respeito que abundam em muitos dos membros e militantes é sinónimo de que os partidos são muito pouco democráticos, reina o culto de personalidade e vive-se uma autêntica mascarada democrática.

Nunca teríamos candidaturas suportadas e declaradamente apoiadas por bases e cidadãos sendo rejeitadas pelos órgãos superiores se houvesse alguma democracia digna desse nome no seio dos partidos. Os arranjos e compras de posições parlamentares através de jogos de cintura, obediência, subserviência são típicos de situações pouco democráticas.

Aquilo que dizem que jamais é confirmado por sua prática e comportamento.

Em qualquer esquina que se fale de política em Moçambique raro é não detectar-se doses altíssimas de lambebotismo.

Os brilharetes na comunicação social, muitas vezes encomendados por figuras bem conhecidas e pagos com o erário público não conseguem esconder a verdade nojenta dos jogos que se fazem para se permanecer no poder.

Todo o cuidado é pouco quanto se trata de procurar entender ou perceber o que realmente querem os nossos políticos.

O culto de personalidade contrário a qualquer preceito de democracia é uma das características do passado marxista-leninista mas também dos movimentos político-militares que o país tem produzido. Também com o tipo de militantes que existem, geralmente com níveis baixíssimos de educação formal, todo o maquiavelismo dos políticos floresce sem dificuldades.

Seguir sem contestar os líderes tornou-se de tal forma normal que rapidamente se entra para o território da bajulação, adulação e “lambebotismo”. Nesta mediocridade em que se vive, no seio dos partidos políticos, os mais destacados lambebotas colhem os seus dividendos que muitas vezes se traduzem em algum cargo político ou governamental.

É só ver o que são alguns dos chefes tantos nas estruturas governamentais como na orgânica dos partidos.

Os factos falam por si...

DIÁRIO DA ZAMBÉZIA – 08.07.2009

Retirado do Moçambique para todos

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim, realmente, democracia deveria de ser sinonimo de 'servir o povo', de 'construir uma nacao' para todos. Texto muito bem compilado, o autor esta de parabens. Concordo na integra com tudo o que ele afirma.
Maria Helena

Reflectindo disse...

Noé Nhantumbo sempre como ele. E quando não escreve muita gente sente falta. Já li comentários sobre a sua ausência no Diário de um sociólogo.