segunda-feira, julho 27, 2009

Qual oposição que os moçambicanos clamam? (Concl.)

Confira a parte 1 deste artigo aqui

Por Randulani

A dado passo na nossa abordagem da semana transacta, mostrávamos ser necessário atendermos aos indivíduos que se prestam asseverar que a oposição em Moçambique é inexistente ou coisa parecida, a fim de aferirmos seguramente o grau de verdade ou inverdade dessas afirmações. Com menor esforço se vê não uma única vez, mas tantas quanto a veemente vontade de ver e festejar a extinção dessa oposição que teima resistir, os titulados do partido governamental e seus seguidores é que estão na vanguarda desses pronunciamentos, as prerrogativas que lhes assistem na imprensa (escrita, radiofónica e televisiva) fazem com que tais afirmações ecoem à velocidade da luz para a maior parte dos moçambicanos que, porventura habituados a exercitar a reflexão do menor esforço, são induzidos a aceitar tudo o que daqueles indivíduos provier, é a tal característica dos da mente estabilizada. Quantas vezes o jovem deputado da AR (Assembleia da República) pela bancada da maioria, a do partido Frelimo, o exímio secretário da Mobilização e Propaganda do partido dos cartões que irritam o touro, é procurado ou ele mesmo intercepta a imprensa para descarregar toda a casta de ditos sarcásticos contra a oposição? Quem nunca deu conta da paciência dos seus ouvidos de estar momentos a fio ouvindo apoucamentos, rebaixamentos da oposição deste país? Assistimos dia após dia ora este parlamentar ora aquele ministro; acompanhamos este governador ora aquele antigo combatente a dizer o melhor que sabe de bem falar a pejorativo contra a oposição. Se dependesse deles, há muito, essa oposição, teria-se esfumado. Mesmo assim temos vindo a acompanhar as consequências decorrentes dessas campanhas de desmoralização, de destabilização, de desgaste da oposição deste país. Os meos preparados e menos discernidos precepitam-se; os que estão cá fora da política partidária activa engolem secamente e repercutem entusiasticamente o dito por aqueles, alguns na oposição se insurgem e desertam, mas nós outros nos remetemos à reflexão e análise crítica de cada uma das situações.

Portanto, como se pode ver, quem efectivamente esgrime a desfavor da oposição, é quem teme essa oposição, são todos aqueles que têm consciência plena de que aqui em Moçambique houve e há condições mais do que suficientes para a oposição assumir a direcção do Estado moçambicano. Porquê colocar as coisas desta forma? Por uma coisa muito simples, como dizíamos nas últimas semanas, muitos posicionamentos dessa oposição constituem aspirações da maior parte dos moçambicanos: a partidarização do Estado tendeu a minorar graças a pressão da oposição; tendeu, sim senhor, mas agora que parece que todos andamos a dizer que esta oposição não presta, não presta…as coisas estão voltando com vigor, que o digam os funcionário do Estado se é que querem ser honestos e dignos. Há gente que não perscruta a perniciosidade de um Estado partidarizado quanto aquel que não vê a perigosidade de um país democrático sem oposição, quer ver para crer.

O vocábulo “inconstitucionalidade” foi estreado por essa oposição e não imaginamos quantas leis injustas íamos conviver com elas; a propalada planta milagrosa, a “jatropha” e a badalada revolução verde foram questionadas pela tal oposição e hoje, mais claro do que nunca, poucos é que não vêem a burla porque todos passamos e nada podermos fazer nem para a reposição do dolo nem para acabar com a fome e a miséria reféns daquelas ideias geniais; enfim, uma longa lista de contribuições que, tivessem sido tomadas em consideração, tornariam o nosso país mais firme e clarividente rumo a um desenvolvimento tangível para todos.

A oposição jamais sera agraciada por todos aqueles que gravitam na mesa governamental nem por aqueles outros que se satisfazem com os rótulos, com as etiquetas, com as marcas, com a forma… é verdade que vivemos num mundo em que se cultiva mais a aparência. A oposição no nosso país dificilmente sera encarada como força útil e dinamizadora do desenvolvimento e do bem-estar enquanto mostrar sinais evidentes de alcançar o poder.

Diríamos, assim, que a oposição desejada por moçambicanos, se é que de facto há uma noção do que é, ou deve ser, uma oposição em África pós-colonial, está por vir, talvez na quinta geração dos homens que transformaram os movimentos armadas em partidos políticos, porque, a nosso modesto ver, o problema é das identidades contruídas à volta desses partidos: um que se isola do povo e assumir sozinho a epopéica história de ter libertado o país do jugo colonial e o outro que é isolado do povo para assumir a diabólica história de ter desestabilizado o país; o primeiro é-lhe imputada a responsabilidade de ter perpetrado as mais desumanas atrocidades aos cidadãos por eles libertos e o segundo vangloria-se de ter reposto os direitos fundamentais dos cidadãos e hasteado a bandeira pluralista. O caro leitor acha que o primeiro sentir-se-ia à vontade se governado pelo segundo? E o segundo, pensa que desistirá antes de conquistar a legitimidade para, sobretudo, para apagar as negras nódoas que o primeiro tem vindo a pintá-lo, por um lado, e, por outro, exumar todo aquele lado negro pós independência e durante a epopeia? Mas, para que tal não prevaleça até a quinta ou mais gerações desses homens, nossos compatriotas, devemos todos assumir o nosso papel de cidadãos , lutarmos pela dignidade e nunca continuarmos a ser instrumentos daqueles, mas mantermos invariavelmente uma posição crítica em relação a tudo que diz respeito ao património colectivo, como diz António Sérgio; “ Nunca devemos aclamar um homem público, um governante, um politico, seja ele democrata ou não o seja; por maioria da razão, nunca ser temido diante dele, não sentir por ele institivo respeito, ou temos aflitivo, ante o seu contacto: mas conservar sempre uma attitude-crítica, desconfiada, exigente, fiscalizadora, ainda que concordemos com a sua obra, ainda que o ajudemos na sua acção.

As almas bem nascidas só se inclinam interiormente ante as puras grandezas espirituais quando desacompanhadas de qualquer poder”. Não obstante, e por incrível que pareça, somos todos bajuladores dos que detêm o poder, morremos de paixão e amor ardentes por eles, mesmo que não atinjamos o orgasmo prazeiroso. E como assim vamos perceber a racionalidade da nossa oposição? Como, desta maneira, compreenderemos a actuação oposição se ela, em bastas ocasiões, está pondo em cheque os nossos amados que só Deus deles nos separará?

ZAMBEZE, 23 de Julho de 2009

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