Mas só o tempo dirá se o governo vai tomar outra
postura, sublinha Pereira
O director
executivo da Fundação Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (MASC), João
Pereira, elogia a pressão das Nações Unidas para a justiça em Moçambique, mas
sublinha que a política africana não segue necessariamente os parâmetros
internacionais.
Zeid Al Hussein,
Alto comissário das Nações Unidas para o Direitos Humanos, pediu, ontem, ao
governo de Moçambique para o fazer o seu melhor para levar os autores das
execuções sumárias, promotores da corrupção e violência à justiça.
Al Hussein, que
discursava na 32ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra,
Suíça, disse que em Moçambique registam-se maus tratos aos defensores dos
direitos humanos e jornalistas.
Para Pereira, só o
tempo dirá se a pressão internacional fará o governo assumir outra postura.
“Pode ser um dos
mecanismos, mas nós temos que compreender que em África temos exemplos muito
concretos de que essas pressões não surtiram efeito,” diz Pereira.
Ele dá o exemplo do
Zimbabwe, onde o Presidente Robert Mugabe e o seu Zanu-PF não optaram pela boa
governação, apesar de sanções e inúmeros apelos internacionais para a mudança.
“A cultura destes
países africanos tem as suas próprias dinâmicas, que muitas vezes não funciona
na lógica dos parâmetros internacionais,” afirma Pereira.
Em relação à dívida
pública moçambicana e ao conflito, Pereira diz que a explicação que o governo
tem estado a dar não é suficiente e a demora em apresentar a real situação
apenas agudizará a situação económica, em particular dos mais vulneráveis.
“Existem sinais de
aumento de preços de alguns produtos e de escassez de outros, mas o efeito
ainda não se sente em grande medida, porque o governo ainda consegue pagar o
salário aos trabalhadores da função pública”, observa Pereira.
Pereira adverte que
em seis meses ou um ano a situação poderá mudar.
Moçambique, caso de
sucesso…
“A retomada do
confronto armado entre a ala armada da Renamo e o exército nacional provocou o
deslocamento de pessoas nas áreas afectadas,” criticou Al Hussein em Genebra.
Ele sublinhou que
“Moçambique mostra sinais de retorno à violência, após ter sido considerado
história de sucesso em África”.
Mas Pereira diz que Moçambique nunca foi nenhum caso
de sucesso.
Diz Pereira que “na
altura precisa-se de um caso de sucesso em África e grande de parceiros
internacionais, organizações da sociedade civil internas e regionais quiseram
apresentar Moçambique como um caso de sucesso”, mas no fundo era como o
Zimbabwe “numa dimensão menor”.
Pereira diz que a
sociedade civil sempre alertou a comunidade internacional sobre essa situação,
“mas muitas vezes os doadores têm um sistema que não permite grandes mudanças”
e há vezes que carecem de conhecimento profundo sobre a realidade dos países
onde operam.
Irresponsabilidade política de africanos
Alargando a análise
para a generalidade do continente, Pereira diz que há também jogos de
interesses que podem impedir a aceitação de críticas oportunas.
“Neste momento de
grandes descobertas de recursos naturais, crise na Europa e necessidade de
conquistar novos mercados em África, esta questão de boa governação poderá ser
esquecida” para favorecer interesses comerciais, económicos ou geoestratégicos,
destaca.
Pereira conta que a
Fundação Masc tem discutido estas questões em África, “mas cabe aos partidos
tentar mudar a lógica de fazer política em África”.
Este defensor dos
direitos humanos reconhece que “isso torna-se difícil, porque temos uma cultura
de anos e anos de total irresponsabilidade política das elites africanas
perante o seu povo”.
Fonte: Voz da América – 14.06.2016
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