quarta-feira, junho 15, 2016

Consultor: "Nível de dívida pública é determinante para o crescimento de África"

O colapso nos preços do petróleo afetou significativamente as nações africanas, mas o montante de dívida pública será o factor diferenciador para retomar o crescimento, considera o analista da consultora IHS que segue a região.

"Com o passar do tempo, o choque dos preços das matérias-primas vai ser acomodado pelo sistema, e serão outros assuntos que vão ter importância", defende o analista sénior para a África subsaariana, Mark Bohlund.

Numa análise publicada pela agência de informação financeira Bloomberg, o analista salienta que "uma tendência menos notada na África subsaariana é o aumento do endividamento público", que diz ser um dos fatores que pode fazer com que a narrativa celebrizada na expressão 'África em Ascensão' possa mudar para 'África em Inclinação'.

"As nações da África oriental, das quais apenas o Sudão do Sul é um exportador de petróleo e gás, deverão acelerar o crescimento nos próximos anos; a Etiópia, o Quénia e a Tanzânia também investiram na geração de energia interna e melhores infraestruturas de transportes, e ambas deverão dar dividendos; isto pode ver a narrativa 'Africa Rising' evoluir para uma 'África Inclinada', uma vez que os exportadores de petróleo no centro, oeste e sul de África se debatem para encontrar novas fontes de crescimento", escreve o analista.

O crescimento da África subsaariana abrandou para 3,4% em 2015, depois de em média ter crescido 5,2% entre 2010 e 2014, continua o analista, sublinhando que este ano a expansão económica deverá ser ainda mais curta devido às consequências da descida do preço das matérias-primas, que obrigou muitas nações africanas a endividarem-se para compensar os desequilíbrios orçamentais.

"A dívida externa caiu de quase 60% do PIB da região no final dos anos 90, para menos de 12% em 2012, muito por causa das iniciativas de perdão de dívida do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, mas subiu para 16,7% em 2015 e é provável que continue a subir", diz Mark Bohlund.

Para o analista, este nível de endividamento não é problemático se o dinheiro for usado para financiar a construção de infraestruturas, "mas alguns países não foram assim tão cuidadosos" e usaram os fundos emprestados para expandir o setor público e aumentar as hipóteses do Governo em eleições contestadas".

Para Mark Bohlund, "este parece ter sido o caso no Gana e na Zâmbia, e as recentes revelações de empréstimos escondidos levaram Moçambique à beira do incumprimento soberano ['default', no original em inglês]".

Estes países, continua, "deverão ser pressionados para estabilizar ou reduzir a sua dívida pública, que atualmente está entre os 60 e os 100% do PIB, o que vai deixar pouco espaço para gastar nas muito necessárias melhorias nas infraestruturas que poderiam aumentar a produção".

Assim, conclui, "depois de o ajustamento aos novos preços das matérias-primas terminar, os países na África subsaariana que foram menos cuidadosos com as suas finanças vão debater-se para manter o crescimento dos seus vizinhos mais prudentes".


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