A Economist Intelligence Unit (EIU) considerou hoje que o Governo de Moçambique vai "acabar por tomar medidas para recuperar o apoio dos doadores" e reformar as empresas deficitárias, mas uma mudança política rápida é improvável.
"Esperamos que o Governo acabe por tomar medidas para recuperar o apoio dos doadores e reforme as empresas públicas deficitárias, mas para um partido dominante que está relutante em permitir transparência orçamental e é ideologicamente oposto à privatização, uma mudança política rápida é improvável", escrevem os analistas da Economist.
De acordo com uma nota de análise com o título 'A austeridade morde', a que a Lusa teve acesso, os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist escrevem que "a transparência e a privatização são direcções políticas que não estão normalmente dentro da cabeça do partido no poder, e o Governo vai estar relutante em aceitar que Moçambique precisa de ajuda externa".
Em causa está a degradação das condições económicas e financeiras do país no seguimento da divulgação de dívidas ocultas de mais 1,4 mil milhões de dólares, o que levou à suspensão da ajuda dos doadores internacionais e do programa de ajuda técnica e financeira do Fundo Monetário Internacional, para além de um agravamento das condições dos mercados financeiros, já com efeitos no incumprimento do pagamento de uma ‘tranche’ de 178 milhões de dólares da Mozambique Asset Management, no final do mês passado.
Para os analistas da Economist, "a suspensão do apoio orçamental do G14 sobe o défice orçamental para mais de 6% do PIB se o Governo mantiver o plano de despesa inicial".
No entanto, acrescentam, "com a actividade empresarial e o consumo privado a diminuíram, as receitas vão ficar aquém das metas orçamentais", o que obriga a que o ajustamento a curto prazo terá de ser feito pelo orçamento, "com consequências negativas para o crescimento económico e para numerosas empresas que dependem dos contratos com o Estado".
A descida da cotação do metical e a escassez de dólares pode, "no pior cenário, obrigar o Governo a cobrir o custo dos bens básicos", o que, para a EIU, será muito difícil de acontecer se o Governo for obrigado a cobrir os empréstimos das empresas públicas, que atiraram a dívida pública e garantida pelo Estado para valores insustentáveis.
O Governo moçambicano reconheceu no final de Abril a existência de dívidas escondidas das contas públicas de 1,4 mil milhões de dólares (1,25 mil milhões de euros), justificando com razões de segurança e infra-estruturas estratégicas do país.
A revelação de empréstimos com aval do Governo, contraídos entre 2013 e 2014, levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a suspender a segunda parcela de um empréstimo a Moçambique e a deslocação de uma missão a Maputo.
O grupo de 14 doadores do Orçamento do Estado também suspendeu os seus pagamentos, uma medida acompanhada pelos EUA, que anunciaram que vão rever o apoio ao país.
O ministro das Finanças moçambicano disse que o volume total da dívida do país atinge 11,6 mil milhões de dólares (10,1 mil milhões de euros), dos quais 9,8 mil milhões de dólares de dívida externa (8,6 mil milhões de euros) e os remanescentes de dívida interna.
Este valor representa mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) e traduz uma escalada de endividamento desde 2012, quando se fixava em 42%.
Fonte: LUSA – 13.06.2016
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