A Renamo, principal partido de oposição em Moçambique, anunciou hoje que vai reunir o seu Conselho Nacional na próxima semana na cidade da Beira, de onde espera "decisões muito importantes para o país no âmbito político, económico e social".
O porta-voz da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) adiantou hoje em conferência de imprensa que se trata de um Conselho Nacional alargado para analisar a situação do país e que terminará a duas semanas do fim do prazo do ultimato do presidente do partido, Afonso Dhlakama, apresentado à maioria da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) para ultrapassar a atual crise política.
Segundo António Muchanga, não houve avanços nas negociações entre Governo e Renamo sobre o projecto de criação de autarquias provinciais, entretanto chumbado no parlamento, nem quanto a um encontro iminente, anunciado na semana passada Afonso Dhlakama, com o Presidente da República, Filipe Nyusi.
"Que seja do nosso conhecimento não há nada, porque o Presidente da República só anda a falar, não há coisas concretas que ele demonstre", afirmou Muchanga, acusando Nyusi de fechar os canais de comunicação entre as partes.
"No passado, pelo menos o outro [ex-Presidente Armando Guebuza] enviava pessoas e aí tínhamos alguma coisa para pegar, porque fulano tal foi mandatado para ter com a Renamo e tratar isto e aquilo", disse Muchanga, enquanto Nyusi, prosseguiu, "usa um discurso de oportunidade e ocasião sempre que lhe convier".
Na conferência de imprensa de hoje, o porta-voz da Renamo acusou também a Frelimo de "extinguir unilateralmente" a Equipa de Observadores das Hostilidades Militares (EMOCHIM), destacada para acompanhar o desarmamento do partido de oposição e integração dos seus efetivos nas forças de defesa e segurança de Moçambique.
"Estamos habituados a que a Frelimo nunca tenha cumprido com nenhuma com nenhuma coisa acordada, o Governo Frelimo sempre violou as leis, incluindo as que foram aprovadas pela própria Frelimo", declarou Muchanga, referindo que espera dos membros do Conselho Nacional da Renamo "um mecanismo para fazer face a esta situação", tal como um pronunciamento sobre as autarquias provinciais, já que foi o mesmo órgão que as propôs.
A crise política entre Governo e Renamo arrasta-se desde as eleições gerais de 15 de Outubro, cujos resultados o maior partido de oposição não reconhece.
Para ultrapassar o impasse, a Renamo propôs a criação de autarquias provinciais nas seis regiões onde reivindica vitória eleitoral, mas o projecto foi chumbado pela maioria parlamentar da Frelimo.
Afonso Dhlakama tem reiterado que não conduzirá o país para uma nova guerra, mas também já admitiu várias vezes tomar o poder pela força.
Nyusi e Dhlakama avistaram-se duas vezes este ano e ambos anunciaram disponibilidade para um novo encontro, com o Presidente da República e da Frelimo a exigir uma agenda concreta e sempre dentro dos limites da Constituição.
Paralelamente, as negociações de longo prazo entre Governo e Renamo sobre o desarmamento do partido de oposição e despartidarização do Estado caíram num impasse ao fim de mais de cem rondas de diálogo, e esta semana o executivo encerrou a missão de observação militar, que, em mais de seis meses, esteve parada devido ao bloqueio das conversações entre as partes.
Após o chumbo do projecto das autarquias provinciais, Dhlakama dirigiu, a 02 de Maio a partir da Zambézia, um ultimato de 60 dias à Frelimo para mudar de opinião sobre as autarquias provinciais ou enfrentar consequências não especificadas.
Fonte: LUSA – 04.06.2015
Sem comentários:
Enviar um comentário