Alegado homicida é Benilson Pereira Bravo da Silva, conhecido por "Tucayanu". Ter-se-á feito passar por membro dos revolucionários para atrair as vítimas. Colegas de Kamulingue e Cassule em choque com a informação.
A notícia da libertação do alegado homicida foi avançada pela última edição do semanário angolano Folha 8. Tucayanu, um destacado informador dos Serviços de Inteligência de Angola (SINSE), era "controlado e orientado pelo ex-ministro do Interior Sebastião Martins", denuncia o referido jornal, e foi a pessoa incumbida pela secreta de "atrair" Kamulingue e Cassule para a morte.
Alves Kamulingue e Isaías Cassule faziam parte de um grupo de ex-militares e combatentes que reivindicavam as suas pensões e outros direitos, ameaçando organizar manifestações contra o regime angolano.
Atraídos para a morte
No dia 27 de maio de 2012, Alves Kamulingue é raptado por elementos dos serviços de informação e segurança de Angola. Dois dias depois, a 29 de maio, desaparece Isaías Cassule.
Só um ano e meio depois, em novembro de 2013, surgem novas informações sobre o destino dos dois desaparecidos: Cassule foi espancado até à morte e atirado a um rio, enquanto Kamulingue foi morto a tiro e abandonado numa mata.
"O processo de Kamulingue e de Cassule andou muito tempo fechado e sem que as autoridades se pronunciassem", adianta William Tonet, advogado e editor do semanário Folha 8. “Se não fosse a pressão da sociedade civil este processo não teria emergido", acrescenta.
"Entretanto uma das peças-chave de todo este processo foi Tucayanu, agora libertado. Foi ele que foi indicado para atrair os raptores", avança William Tonet.
"No dia 29, Tucayanu atrai Cassule com a promessa de lhe dizer onde estaria o Kamulingue, que tinha desaparecido há dois dias. Atrai-o para um dos bairros mais populosos de Luanda", relata Tonet. "Cassule vai com um colega, o Santos. O Santos percebe que é uma cilada e consegue fugir. Kamulingue ainda empreende uma fuga, mas é capturado e levado para o Bengo onde é morto", descreve o editor do semanário Folha 8.
"Não se pode a esta altura do processo libertar um indivíduo com este elevado grau de responsabilidade, sob pena de muitas provas serem apagadas", frisa Tonet.
Segundo apurou a DW África, "Tucayanu", classificado como "agente cinco estrelas dos serviços de informação" estava ao mesmo tempo infiltrado no chamado movimento "Revu", o movimento dos jovens revolucionários.
"A informação é bastante preocupante. Deixou-nos abalados. Estamos mesmo surpreendidos. Este jovem é o mesmo que andava connosco? Se é, então é um traidor á nossa causa", lamenta Teca Pedrowski, um dos vários membros do movimento revolucionário que à DW África se mostraram chocados com a notícia.
Outras suspeitas
Não é a primeira vez que surgem suspeitas de que os serviços secretos angolanos tentam infiltrar-se no movimento dos jovens revolucionários.
Adolfo Campos, outro membro destacado do movimento "Revu", lembra-se de ter desconfiado de “Tucayanu” quando este se apresentou como funcionário de uma empresa petrolífera.
“Realmente foi um pouco suspeito quando ele nos pediu currículos para trabalhar na área petrolífera. Nós sabemos que em Angola o emprego é difícil. Achámos suspeito. Aquilo criou algum tumulto entre nós”, recorda Adolfo Campos.
“Ele disse que era um tio que tinha dentro dessa empresa e que podia possibilitar alguns trabalhos. Nós não tínhamos razões para desconfiar. Mas agora com esta notícia, estamos a aprofundar esta informação. Se isto for verdade, temos que rever o caso do movimento revolucionário integral. É arrepiante, eu próprio estou em perigo de vida neste momento, é assustador”, denuncia.
Nas palavras de William Tonet, a libertação do agente da secreta Tucayanu é uma "barbaridade" e um caso de discriminação jurídica.
Tonet exige que a Procuradoria corrija imediatamente o erro e volte a prender o agente dos serviços de inteligência. O advogado vai mais longe e defende que é necessário responsabilizar não só os assassinos própriamente ditos, como todos os cúmplices, inclusivé os responsáveis a nível político.
“À luz da Constituição, neste caso concreto, o Presidente da República é também responsável criminalmente. Quer o ministro do Interior quer o diretor dos Serviços de Segurança são auxiliares do titular do poder executivo que é José Eduardo dos Santos. Eles não fazem nada sem conhecimento de José Eduardo dos Santos”, conclui.
Fonte: Deutsche Welle - 08.03.2014
Fonte: Deutsche Welle - 08.03.2014
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