segunda-feira, outubro 03, 2011

Força aérea

Por Machado da Graça
Aqui há poucos dias, a propósito do 25 de Setembro, a Rádio Moçambique entrevistou o Vice-Ministro da Defesa. Entrevista daquelas em que os ouvintes podem ligar para lá e comunicar com o entrevistado.

E foi o que eu fiz. Liguei e perguntei ao sr. Vice-Ministro onde estava todo o equipamento de voo que a nossa força aérea possuia ainda quando foram assinados os acordos de paz entre o Governo e a Renamo.
E foi aí que eu descobri que aquele dirigente militar teria dado um excelente futebolista. Fintas, de todo o tipo, eram com ele. Deu voltas e mais voltas sem nunca, no entanto, responder à pergunta.
O entrevistador insistiu e recebeu novo festival de fintas. Mais adiante, um outro ouvinte declarou que não tinha ficado satisfeito com as respostas à minha pergunta e o bom do Vice-Ministro acabou por dizer que todo o material que havia naquele tempo continua a existir. O jornalista perguntou se esse material continuava em estado de voar e o dirigente acabou por se refugiar no segredo militar para não responder à pergunta.
Porque, diga-se a verdade, é uma pergunta incómoda que levanta muitos fantasmas do passado.
Como se compreende, por exemplo, que o Chefe de Estado gaste rios de dinheiro a alugar helicópteros no estrangeiro, para as suas presidências abertas, se a nossa Força Aérea tem esse tipo de aparelhos?
A resposta é que não tem. Se bem me apercebo a nossa Força Aérea tem, neste momento, um único aparelho que voa, um avião de treino que Portugal ofereceu há uns meses. E que creio que foi o aparelho que andou a sobrevoar a baía no passado domingo.
O resto desapareceu sem deixar rasto. Ou deixando muito pouco rasto…
Eeben Barlow é um ex-militar sul-africano que criou uma empresa de mercenários que actuou em vários países africanos, a Executive Outcomes. E escreveu um livro a contar a vida dessa organização. Na página 333 desse livro conta como a Executive Outcomes foi contratada para actuar na Serra Leoa. E de como precisavam de helicópteros de combate para essa missão. E de como, nas suas palavras, “comprámos dois helicópteros Mi 17, em segunda mão em Moçambique”. Talvez não seja difícil, sabendo-se a data (1995) descobrir quem foram os vendedores, do lado moçambicano.
E, percorrendo-se os jornais, poder-se-á descobrir as notícias que, por essas alturas, vieram a público notícias de camiões interceptados, a caminho da fronteira, carregados com motores de avião e de helicóptero.
Mas isso era se houvesse vontade política de descobrir estes mistérios. O que não parece nada provável


Fonte: Savana - 30.09.2011

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