O primeiro-ministro britânico David Cameron anunciou na última quinta-feira (11/08) que estuda adoptar uma polêmica medida com o objectivo de combater a onda de distúrbios violentos ocorridos nos últimos cinco dias em algumas das principais cidades do Reino Unido.
O governante pretende bloquear toda a comunicação de serviços de internet e telefonia móvel on line durante eventos que considere comprometedores à segurança. "Trabalhamos com a polícia, os serviços de inteligência e a indústria para avaliar se seria correcto interromper a comunicação das pessoas via websites e serviços electrônicos quando soubermos que eles estão a conspirar para a violência, desordem e criminalidade", disse Cameron numa sessão de emergência no Parlamento. As informações são da agência de notícias Reuters.
Esses bloqueios serviriam especialmente para redes sociais como Facebook e Twitter, além do dispositivo BBM (Blackberry Messenger), usado para comunicação em aparelhos da marca Blackberry, apontada como a ferramenta favorita usada pelos manifestantes britânicos para coordenarem os seus actos. Uma das razões do seu uso se deve ao facto de as suas mensagens serem privadas e criptografadas.
Dessa forma, o governo conservador poderá seguir o exemplo de regimes com os quais está em conflito diplomático e militar, como a Líbia e a Síria, respectivamente. Os dois países interromperam as mídias electrônicas por diversas vezes durante os conflitos e a onda de protestos que luta para derrubar esses regimes. O Egipto durante os últimos dias sob o poder de Hosni Mubarak, derrubado em fevereiro, também utilizou a mesma medida.
Sigilo
A Research in Motion, empresa responsável pelo BBM, já havia informado na segunda-feira (08/08) que vai cooperar com as autoridades de órgãos regulatórios, da Justiça e telecomunicações. Entretanto, não informou se irá entregar detalhes de usuários ou de conversas para a polícia.
Por outro lado, as mídias sociais on line também foram usadas pelos britânicos para organizar informações sobre como evitar zonas onde os distúrbios estivessem a ocorrer e para coordenar a limpeza das ruas.
Censura às redes sociais na Inglaterra é criticada pelo mundo fora
A declaração do Primeiro-Ministro David Cameron no Parlamento inglês a respeito da possibilidade de restrições às redes sociais e sistema de mensagens de celular, a fim de impedir que novas manifestações se propaguem pela web, foram criticadas por especialistas do mundo inteiro, informa a Agência O Globo.
Segundo os estudiosos, a medida, classificada como censura, não é condizente com a tradição histórica de liberdade de expressão no país, que promulgou a Magna Carta em 1215. "Sem dúvida que seria um contrassenso com a tradição histórica britânica", comenta o professor Williams Gonçalves, do curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Brasil). "Uma coisa é pôr ordem nas ruas, outra é coibir os meios de comunicação".
Quando os protestos no mundo árabe explodiram, que foram possíveis principalmente por causa da organização massiva realizada pelo Twitter e Facebook, o mundo ocidental, inclusive David Cameron, exaltaram a coragem dos árabes em confrontar a forte censura a que eram submetidos, e o poder de liberdade das mídias sociais. Agora, perante a ineficiência do governo britânico em conter as manifestações de jovens em violentos confrontos com a polícia, os parlamentares querem banir os "vândalos" das redes e realizar "apagões" nos meios de comunicação.
O discurso de Cameron reverberou nas redes sociais, onde diversas personalidades e especialistas criticaram a posição britânica. "Se o Reino Unido limitar as mídias sociais para conter os distúrbios, então estaremos a testemunhar um momento revelador para os regimes do Primeiro Mundo", escreveu o blogueiro egípcio Mahmoud Salem, conhecido como Sandmonkey. A pesquisadora da Universidade de New South Wales em Sydney, Kate Crawford, postou em na página no Twitter: "Oh, Cameron, você sabe que bloquear as mídias sociais não vai deter os distúrbios. Mas pode temporariamente interromper as críticas ao seu governo".
Fonte: Rádio Mocambique - 12.08.2011
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