sexta-feira, agosto 19, 2011

Dizer por Dizer - Um divórcio precoce

Por Pedro Nacuo

Nunca pareceu que o edil de Pemba, Sadique Yacub, reunisse à sua volta muita solidariedade ou que se reconhecesse muito o trabalho que, afinal, estava a fazer, apesar da sua quase constante ausência por motivos de doença.

Nunca havíamos suposto que estivesse, na verdade, a cumprir, muito bem, o seu mandato, não fosse a nossa participação na XIII sessão da Assembleia Municipal, esta semana, na qual foi apresentado o seu pedido de cessação de funções.

Sinceramente, fazíamos parte daqueles que pensavam que o Conselho Municipal e, sobretudo, o seu presidente estavam ali apenas por estar, pois, infelizmente, também não nos havíamos lembrado de ir ao seu manifesto, que até tínhamos em mão, dos tempos de campanha eleitoral para controlar o trabalho do homem.
Ficaram boquiabertos os seus colegas na edilidade e na Assembleia Municipal, quando ele confirmou, em fórum próprio, que os rumores que circulavam à volta da sua cessação de funções correspondiam à sua vontade, em face de o seu estado, mesmo no tempo em que foi proposto pelo seu partido para concorrer para as “autárquicas” de 2008, não ser dos bons, e ter surgido uma outra enfermidade, a hipertensão arterial.

Sadique disse que esta última doença não se compadece com quem deve todos os dias lidar com vários problemas que os munícipes apresentam, discussões constantes, reuniões sucessivas, muitos interesses em jogo, etc.

Mas a sala gelou quando Sadique Yacub convidou a audiência a ir rever o seu manifesto eleitoral, o programa da sua governação, para se darem conta que o havia cumprido, em dois anos e meio, em 75 porcento, pelo que, para a outra metade restam apenas 25 porcento, razão suficiente para dizer que saía de cabeça erguida e satisfeito.

Convidou as bancadas da Assembleia Municipal a continuarem a vigilância para que as conquistas alcançadas não sejam (como já há sinais disso) vandalizadas ou destruídas de forma precoce e quase criminosa. A seguir apresentou as realizações, desde o pagamento de dívidas que os mandatos anteriores haviam deixado na ordem de 6.370.353,90 Mt.

É aqui onde os seus colegas e outros presentes ficaram mudos, até que um “corajoso” da bancada da Frelimo, três minutos depois de um absoluto silêncio, explicou o que estava a acontecer, resumido em dois aspectos: ser uma grande novidade e ver quem tinha vontade de mais fazer desistir pelo caminho!

Lembrei-me então de que, na verdade, muitas vezes fazemos avaliações erradas sobre o desempenho de alguns quadros, principalmente porque priorizamos o secundário, o adventício, o não muito importante, o não trabalho.

Há-de ser por isso que só hoje, a ir embora, é que nos apercebemos que Sadique Yacub fez muito, sobretudo a nível de infra-estruturas de funcionamento do próprio município, como é ter oito gabinetes de vereadores, que não havia, construir 25 escolas, em meio mandato, quando nos anteriores dois só havia 46, fazer igual número de centros de saúde, de todos os outros mandatos, em apenas dois anos e meio e fazer cinco mercados, neste curto espaço, numa cidade onde só havia três, de dois mandatos.

Ficou a sua marca, na Avenida Eduardo Mondlane, vulgo Emulação Socialista, na ligação com o bairro histórico de Paquitequete e nas obras públicas, incluindo corrimões e plantas, vandalizadas pelo nosso próprio défice em matéria de urbanidade.

Ficou, mais uma vez, claro que não é o número de reuniões nem o número de ocasiões em que prestamos vassalagem a quem acha que merece que constrói pontes ou estradas que traz resultados!

Sabemos que Sadique tinha esse fraco (que acabou sendo o seu forte para o cumprimento do seu manifesto), que muitos de nós reclamamos, habituados que estamos em “importantizar” o formal, em exigirmos o respeito a nós próprios e não ao compromisso e bem públicos e exagerada obediência ao super-estrutural e não ao infra-estrutural.

Só que a doença impediu-nos de assistir, até ao fim, um outro estilo de governação municipal, onde a tendência era uma gestão independente dos compromissos domésticos dos partidos e se afigurava séria, pois parecia que todos estávamos a ser tratados como somos e não como estamos conectados com grupos.

Não é por acaso que um académico da praça questionou, falando em público, se não havia outra forma de Sadique se manter na posição que a muitos desfavorecidos satisfazia que, segundo ele, seria rodeá-lo de mais gente saudável e competente, do que ele sair com toda a sua carga moral e de direcção isenta. Talvez perguntava por perguntar!

Fonte: Jornal Notícias - 20.08.2011

2 comentários:

Muna disse...

Nacuo lucubra.

Pemba conheço mal, ou quase nada.

Tenho lá bons amigos, alguns colegas dos tempos da UP-Nampula, drs. Maziwa, Nankuta, Eduardo Valente (treinador Dado), os Penambas, Lindondes, Nhampulangos, Plácidos, etc.

São muitos anos de ausência (privação do convívio)... E já agora, quem os tiver como amigo peço que os transmita meus fervorosos cumprimentos aos visados.

Enfim, do artigo de Nacuo (rebento do Seminário de Boroma) registei o seguinte:

"Ficou, mais uma vez, claro que não é o número de reuniões nem o número de ocasiões em que prestamos vassalagem a quem acha que merece que constrói pontes ou estradas que traz resultados!"

Zicomo

Reflectindo disse...

O sinal é que o poblema de Sadique pode não ser de gestão danosa, mas falta de cumprimento de ordens superiores. Mas quais eram essas ORDENS?