Perante falhanços reais alguém tinha que pagar?...
Por: Noé Nhantumbo
Sem dúvida que é uma novidade no panorama político nacional ter uma pessoa eleita renunciando ao cargo e mais a mais em cadeia. Se tivesse sido uma renúncia num só município por motivos como doença ou outra com forte sentido as pessoas compreenderiam e os comentários já estariam frios.
A novidade deste conjunto de renúncias e outras anunciadas para breve parece ser algo muito mais do simples. Estamos sem dúvidas em presença de manifestação do forte centralismo que governa o processo de tomada de decisões na Frelimo. De algum tempo a esta parte tem surgido na comunicação social sinais de colisão entre os edis que agora anunciaram sua renúncia e as estruturas políticas da Frelimo dos municípios por eles dirigidos.
Uma desorganização e história de fraca capacidade de execução e orçamentação, a falta de recursos humanos tecnicamente capacitados
para realizarem com sucesso projectos de infraestruturas, a febre pelo enriquecimento rápido, uma falta de cultura genuinamente democrática, uma separação de poderes clara e superiormente definida colocou os edis que a gora renunciam em rota de colisão com as entidades que dirigem o partido Frelimo tanto ao nível local ou de município como ao nível central.
Se em alguns casos houve uma tentativa de usurpação de competências municipais por determinados membros de topo da Frelimo sobretudo na polémica questão de terras urbanas apetecíveis em outros casos houve uma simples falta de acompanhamento técnico desses titulares de cargos municipais.
Em alguns municípios criados à luz de uma tentativa de descentralização acelerada do país ainda não existem de facto condições de know-how para que se implementem com sucesso diversos dos projectos definidos.
Alguns dos edis que agora renunciam não tinham condições para triunfar e foram opções que foram tomadas por clara falta de candidatos com melhor perfil.
Não basta ter curso universitário ou outro para executar com sucesso o cargo de presidente de município de cidades e vilas com enormes desafios do ponto de vista de infraestruturas e outros.
Querer ocupar um cargo e concorrer apoiado por uma máquina partidária aparentemente forte foi fatal para os que agora renunciam pois durante o tempo que durou seu exercício não conseguiram ter apoio de quem mais conta que são os dirigentes locais de seus partidos. É caso para dizer que sua cama foi feita com esmero pelos que também ambicionam ocupar tal cargo. Faz grande diferença ser dirigente partidário sem poder económico nem financeiro e ser um edil com orçamento à sua disposição. Isso parece que criou, produziu clivagens e conflitos entre pessoas de um mesmo partido.
Outro ângulo sob o qual se pode observar estes fenómenos novos entre nós é todo um esforço de antecipação estratégica definido nos altos escalões do partido governamental.
Terá havido uma reflexão sobre o desempenho dos municípios governados por seus membros que apontava para riscos se estes continuassem a liderar. A experiência da Beira com a gestão de um seu membro, Chivavisse Muchangage ter sido utilizada pela oposição para vencer as eleições na Beira terá sido apreendida?
Em todo o caso estamos perante a confirmação do facto de que a propalada disciplina partidária não passa de uma das manifestações do forte centralismo democrático que governa a Frelimo.
“Afinal a Frelimo é que pôs, a Frelimo é que tirou”…
Fonte: Diário da Zambézia - 24.08.2011
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