Faltam estratégias claras
para resolver o problema, que afeta sobretudo as cidades de Nampula, Nacala
Porto, Angoche e Ilha de Moçambique. Violência doméstica, pobreza e orfandade serão as
principais causas.
Nampula tem vindo a registar nos últimos
meses um número invulgar de crianças de rua, que vivem ao relento, sem
condições de higiene e sem terem o que comer. A situação pode estar ligada a
questões de pobreza, violência doméstica, orfandade e falta de apoio, entre
outros aspectos ainda por investigar.
Ahade Daúde, do Departamento de Apoio às Crianças Vulneráveis e Carenciadas
na Direcção Provincial da Mulher e Acção Social de Nampula, diz desconhecer o
número exacto de crianças de rua, mas avança que no ano passado foram
registados 13 casos de meninas nesta situação, o que é considerado um caso
raro.
Segundo Ahade Daúde, nalguns casos as crianças são marginalizadas pelos
respectivos familiares, devido a fatores que se prendem com falta de
alimentação e com violência física e psicológica. “Por vezes as crianças vivem
num ambiente em que os donos da casa não têm uma relação de parentesco com
elas”, explica. Outra vezes as crianças são fruto de outras relações e são
tratadas de forma diferente das outras crianças que vivem na mesma casa e, por
isso, decidem abandonar o lar, acrescenta.
Crianças de rua na primeira pessoa
Nas ruas de Nampula encontramos Castro
Furtado, de 12 anos de idade. Natural do distrito de Meconta, o menino diz que
vive na rua por causa da violência de que foi vítima depois da morte dos pais.
“Lá na minha terra batiam-me e não me davam de comer”, conta.
Além de chegar a passar um ou dois dias sem comer, relata também que quando
vivia em casa de familiares era obrigado a trabalhar. Situação que o motivou a
abandonar aquela casa e a rumar para a cidade de Nampula à procura de melhores
condições de vida.
Também Calisto Issufo, outra criança que a DW África encontrou nas ruas da
cidade, fugiu de casa. “Saí de casa do meu tio porque não me davam comida e
comecei a viver aqui na rua”, explicou.
Crianças do sexo feminino são muitas vezes sujeitas a violação sexual. É o
caso de Anifa, de 13 anos, que preferiu que o seu depoimento não fosse gravado.
Relata que vivia com o seu tio e que abandonou a sua casa porque este a
obrigava a manter relações sexuais com ele.
Faltam
estratégias claras
Paulito Lucas, responsável por um centro de
acolhimento de crianças carenciadas na cidade de Nampula, afirma que são as
políticas implementadas pelo Governo e a falta de dignidade de pais e
encarregados de educação que levam as crianças a sair de casa e a optar pela
vida na rua. Lembrando que “as crianças são uma camada vulnerável, defende que
“os órgãos do Estado que velam pelas crianças deviam fazer uma grande campanha
cívica” dirigida aos pais.
“É uma tarefa que cabe a todos nós, mas com a ajuda de quem de direito. Não
vejo nada que se faça em prol da criança, mas há pessoas que recebem por isso.
Temos de mandar as crianças para a escola”, frisa ainda Paulito Lucas.
Os investimentos económicos em várias cidades de Moçambique são também
vistos como alavanca para o aumento de
meninos de rua em Nampula.
O Governo local diz estar atento ao problema, mas admite não ter condições para resolvê-lo. Para a inverter a situação, defende a adoção de novas estratégias de assistência a estas crianças, sublinhando que isso passa necessariamente pelo envolvimento da sociedade e de outros setores públicos e privados.
Fonte: Deutsche Welle – 10.03.2014
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