sábado, maio 12, 2012

Rei morto.. Rei posto

Por Palmeirim Chongo

E eis que a nova DJ veio tocar a sua musica em Maputo, por sinal a primeira discoteca em que actua fora de portas. No inicio, como bons anfitriões era tudo sorrisos e som estava bom para valer. Mas não é de repente os passos de dança começaram a falhar, alguns dançarinos que a pouco pareciam eximios, a dado momento estavam a pisar os calos dos respectivos pares. “But Why”? É que de repente no auge de um pandza, a DJ malawiana resolveu misturar aquela desagradavel musica cujo refrão é a “navegabilidade dos rios Zambeze e Chire”. Tudo indica que com esta musica pisam-se muitos calos, calos que doem, calos a mistura com muito pato, que certamente vai miguar se a ração/farelo não passar por uma certa geografia chamada Nacala.
E foi interessante ver o Mestre de Cerimónias Baloi na STV, como um trapezista, se desdobrando em explicações, em relação a “gafe” da nova DJ no “txiling” de hoje, quase ressuscitando um falecido de a pouco. Em resposta rodou uma dzukuta bem conhecida cujo refrão é o estudo de viabilidade.
Por mais boa vontade, que a nova DJ tenha para agradar as plateias de Maputo, ela tem muitos fãs da sua própria discoteca lhe pressionando. 
E não precisa ser PHD para entender a geografia. Fantasma do tribalismo a parte, a que ter em conta tem muito Chechewa/Nynja povoando a nossa patria amada desde Madimba até Mutarara, passando por Milange, Morrumbala, Angonia, Mecanhelas, N´gauma, Chifunde, Macanga e Tsangano, só para citar alguns territórios. É muito povão que se identifica mais com os irmãos kwachas do que com os demais moçambicanos. 
Na verdade, o meu o amigo José Sichinga, que vive em Milange, olha com alguma confusão, o sofrimento que advém da grande volta que o seu primo caminonista Kelvin Phiri, tem que dar para transportar combustivel, fertilizantes e outros bens do porto da Beira para a terra dos seus irmãos.
E mais, o José Sichinga moe o seu milho nas moageiras do outro lado da fronteira. Igualmente, provoca lhe certa perplexidade, ver vezes sem conta as classes média e alta quelimanense, incluindo a elite governamental a atravessarem a fronteira a procura de cuidados medicos em Lilongwe. 
Detalhes do Moçambique real que passam despercebidos entre um trago de chivas e uns tremoços na Sommershield
E o José Sichinga não é burro...
Quem semea ventos...



1 comentário:

Reflectindo disse...

Questionei a razão da oferta tipo caritas em apoio ao funeral de Wa Mutharica precisamente por causa disto. O que o povo malawiano precisa não é esmola, mas verdadeiras boas relacões com Mocambique. Para quem tem cruzado as fronteiras Malawi-Mocambique entende tudo quanto é o dilema de José Sichinga. Eu passei algumas vezes pela fronteira de Entre-Lagos/Naugi que até me convidou para muita curiosidade. Passei com gente para os diferentes sentidos que mudava língua e identidade...
Qual é o nosso problema com o Malawi? Ou é mais problema com tetenses e niassenses do que com Malawi? Se não fosse isso, porque é que as relacões com África do Sul e até com boers, apoiantes do apartheid, são sãs? Aliás parece-me que os racistas que viram-se sem espaco na África do Sul depois de 1994, têm muito espaco em Mocambique...