O porta-voz do Fórum dos Desmobilizados de Moçambique, Jossias Matsena, "está detido ilegalmente desde fevereiro" na cadeia de máxima segurança de Inhambane, aguardando um "segundo julgamento pelo mesmo crime", denunciou hoje o seu advogado.
Salvador Camate disse à agência Lusa que o seu cliente está "detido ilegalmente", na medida em que é acusado de ter cometido um crime pelo qual já foi julgado e absolvido em Maputo.
Jossias Matsena é acusado pelo Ministério Público da província de Inhambane (sul) de, juntamente com outros desmobilizados, possuir esconderijos de armas e de incitar à violência, acusações desmentidas pelo seu advogado.
"Isso é tudo forjado. Não há nenhum elemento que consubstancie essas acusações", disse à Lusa Salvador Camate, para quem o objetivo do governo moçambicano "é tirar de cena" o porta-voz do Fórum dos Desmobilizados de Moçambique.
A Lusa tentou obter uma reação da procuradoria provincial de Inhambane, mas uma fonte ligada ao inquérito escusou-se a responder, alegando que os jornalistas não são partes interessadas no processo.
Em novembro de 2011, o porta-voz do Fórum dos Desmobilizados foi preso, presente ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo e absolvido dois dias após ser detido, num processo sumário que a Liga dos Direitos Humanos de Moçambique considerou "obscuro".
Em contacto telefónico hoje com a Lusa, Jossias Matsena acusou as autoridades moçambicanas de "perseguição", violando a Constituição ao pretender julgá-lo pela segunda vez pelo mesmo crime.
"Estou a ser perseguido", disse Jossias Matsena, ex-militar das tropas governamentais durante a guerra civil que, de 1976 a 1992, opôs o governo da Frelimo à guerrilha da Renamo.
Há mais de um ano que o Fórum dos Desmobilizados de Moçambique reivindica o pagamento de uma pensão mensal de 12.000 meticais (cerca de 300 euros) e um encontro com o Presidente da República, que constitucionalmente é o comandante em chefe das Forças Armadas de Moçambique, que responde também pelos desmobilizados.
Jossias Matsena foi um dos rostos da concentração de 1.500 pessoas, na maioria desmobilizados de guerra, que, em novembro, denunciaram ao Presidente moçambicano, Armando Guebuza, a suposta criação de brigadas pelos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE) para amedrontar os "veteranos", que ameaçavam manifestar-se à escala nacional.
Jossias Matsena contou à Lusa que era perseguido pelos serviços secretos "mesmo nos chapas" (transportes semi-coletivos de passageiros) e que a ação era extensiva a "todos os membros" do Fórum dos Desmobilizados.
MMT
Lusa/Fim
Fonte: Notícias Sapo - 08.05.2012
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