O país vai sair a perder com a interdição de se navegar o Zambeze para o transporte de carvão, considera Casimiro Francisco, presidente da Associação Moçambicana para o Desenvolvimento do Carvão Mineral (AMDCM).
É que, esta semana, o ministro dos Transportes e Comunicações, Paulo Zucula, anunciou a rejeição, pelo Governo, da utilização de barcaças no rio Zambeze para o transporte de carvão a partir de Moatize, em Tete, até à costa.
Em reacção, no programa “O País económico” da STV, o presidente da AMDCM referiu que existem, em Tete, quantidades significativas de carvão mineral de valor comercial relativamente baixo, cujo transporte só seria viável por meios menos onerosos, vantagem que se esperava que fosse proporcionada pelo transporte fluvial.
Casimiro Francisco defende que o transporte do carvão de baixo valor comercial por via férrea acaretaria custos muito altos às mineradoras, sendo que se impunha uma solução de transporte também de baixo custo, para que o país pudesse colocar, no mercado internacional, todo o seu potencial carbonífero. No entanto, com a rejeição do projecto, ainda segundo a fonte, o país é que vai sair a perder. “O carvão mineral de baixo custo deixa de ter mercado, porque não existem soluções de transporte de baixo custo”, repisou Casimiro Francisco.
A proposta de navegação do Zambeze através de barcaças, lançada pela mineradora Riversdale em 2009 e mais tarde defendida pela Rio Tinto, era também vista como uma solução adicional de transporte de carvão, para responder aos planos de escoamento de carvão pelas das mineradoras, face ao défice de infra-estruturas ferroviárias.
Decisão sem provas documentais
A AMDCM diz, ainda, não dispor de documentos que consubstanciam a decisão tomada pelo Governo. Casimiro Francisco refere que “o Governo decidiu no interesse do país”, mas “existem dados que não estão ao nosso alcance”, isto é, o Governo ainda não avançou detalhes sobre as causas da rejeição da proposta de navegação do rio Zambeze, e “não parece que o Governo disponha de meios sólidos para avançar com esta decisão”, sendo que “vamos ter, oportunamente, de encontrar elementos circunstanciais sobre o assunto”.
De facto, o Governo, através do ministro Paulo Zucula, anunciou a sua decisão, mas não apresentou ainda a versão documental, isto é, os detalhes do estudo, em papel, que determinaram a decisão de afastar a hipótese de transporte fluvial de carvão pelo rio Zambeze. Zucula disse, apenas, que o impacto ambiental da proposta é muito negativo e, não havendo soluções para mitigar esse efeito, não é possível utilizar o transporte fluvial para transportar, até à costa, o carvão mineral extraído na província de Tete.
Ainda esta semana, questionado pelo repórter do “O País económico” sobre os detalhes daquela decisão, o governante remeteu-nos ao Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA) para os devidos esclarecimentos. No entanto, Lino Manuel, representante do Centro Terra Viva, instituição parceira do MICOA, também convidado ao programa “O País económico”, disse, por seu turno, que os resultados do estudo estão na posse do Ministério dos Transportes e Comunicações. Isto é, ainda não há clareza quanto às circunstâncias que ditaram a interdição da alternativa fluvial no transporte de carvão através do Zambeze, pelo que ainda “existem elementos que serão analisados”, de acordo com Casimiro Francisco.
Fonte: Rádio Mocambique - 10.03.2012
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