sábado, outubro 01, 2011

DIZER POR DIZER - Tratamento VIP para Gabriel Jr.

Por Pedro Nacuo

Estamos habituados ao fenómeno da criação de novas instituições quando as existentes não funcionam, pois não há quem se responsabiliza por pedir contas ou penalizar aquelas inertes, apáticas, moribundas (desculpem-me por recorrer ao vocábulo completamente samoriano, o que não é proibido, porque essa figura já é propriedade de todos nós).

Às vezes, sustenta-se a incapacidade de mexer naqueles que as lideram, por razões que são mais próximas do nepotismo, amiguismo (de novo com aquele vocábulo!) e pelas mesmas razões criam-se outras instituições que fazem a mesma coisa, para acoitar irmãos, sobrinhos, primos e cunhados.

É assim que nasceu o BAU (Balcão de Atendimento Único), para substituir o Departamento de Relações Públicas, em todas as Repartições do Estado. O BAU existe para fazer aquilo que as instituições não fazem, embora tenham departamentos inteiros para isso. Pelo contrário, na sequência da criação do Balcão, nenhuma daquelas repartições ficou extinta. Criou-se mais um posto de emprego para acomodar e nos dois lados ficam indivíduos subempregados (tanto nas instituições como no próprio BAU), pois cada uma destas partes faz meio-trabalho.

É assim que num ministério, como do Turismo, nasceu a INDIGO Lda., com PCA e tudo, simplesmente para tratar de um projecto a implementar em Inhassoro, Nampula, Cabo Delgado e Niassa, que é obrigação daquele implementá-lo. Quer dizer, para uma tarefa do ministério criou-se um complexo conselho de administração, que por si devia ser um ministério ou este substituiria aquele.

Nas Obras Públicas, a coisa é demais: só nas estradas e pontes, para além dos departamentos provinciais existentes, temos a Administração Nacional de Estradas (ANE), que se supunha fosse constituída por técnicos competentes a nível dos propósitos profissionais a que estão ligados, incluindo a própria administração, como o próprio nome diz.

Mesmo assim, foi necessário criar mais uma máquina pesada só para administrar o fundo que entra nos cofres do Estado para fazer estradas. Com o seu PCA, sem no entanto extinguir os departamentos ligados à administração e gestão financeira nem do ministério, nem dos departamentos, muito menos da própria ANE. Muita gente a fazer a mesma coisa!

Nas políticas públicas agora nasceu o recurso à publicidade (sem aspas) para fazer chegar a mensagem que é obrigação de alguns sectores governamentais ou políticos. Quando um ministério não consegue levar a mensagem, contrata uma empresa de publicidade, grosso modo, de televisão.

Gasta-se dinheiro para pagar a publicidade e ninguém no sector fica desempregado por não ter cumprido a sua tarefa de ir ao povo, que é sua obrigação. Quer ir por via da televisão e assim cumpre a sua missão, através da factura que vai trazer, do custo da publicidade. Só que na factura não vem a quanta gente abrangeu, se bem que ainda a TV é para uma grande minoria neste país.

Por ocasião do 25 de Setembro, o governo de Cabo Delgado entendeu convidar “Moçambique em Concerto”, um programa da TVM, que tem à cabeça o apresentador Gabriel Jr. Houve muita publicidade sobre a vinda da equipa liderada pelo animador de um dos programas de maior audiência naquela estação televisiva.

Para além de Pemba, o programa teve de ir a Chai, onde uma outra tarefa lhe esperava, no quadro da (des) necessidade que agora se afigura premente de dizer quem é quem no processo da luta de libertação do nosso país. Aqui o “quem” era a figura do respeitado veterano General Alberto Chipande, o autor do controverso primeiro tiro!

Para isso, o governo provincial criou todas as condições reservadas aos seus melhores hóspedes. Para além da passagem de vinda e volta, a equipa de Gabriel Jr. tinha dois membros do governo a fazerem o seu protocolo, fora aquele existente no gabinete do governador, o principal hospedeiro.

Aqui surgiram problemas, entre protocolos, de tal forma que o cumprimento das etapas programáticas da cerimónia de Chai foi uma autêntica bagunça, pois em nenhum momento houve coincidência entre o que estava escrito no programa e o que Gabriel Jr. queria fazer na mesma circunstância. Houve disputa de participantes, como as guerrilheiras que se esperavam para iniciar o desfile ficaram ocupadas pela TVM (Moçambique em Concerto), durante o tempo suficiente para fazer esperar Chipande e Machava, durante muito tempo e de forma pouco vergonhosa, por Gabriel Jr.

O comício popular, esse quase não acontecia, tal foi o atraso! Não fosse a necessidade de ver o mapiko de Nangade, por causa de uma inovação que lhe foi introduzida, do “leão” que dança, todos teriam ido embora!

E Gabriel Jr., na mesma fila onde se encontravam destacadas figuras, a segunda, depois daquela onde se achavam o General Chipande, o governador provincial e o administrador de Macomia, etc., etc., etc., foi apresentado ao público, pelo punho do governador provincial, como uma das destacadas figuras de Moçambique, na área de comunicação social. Palmas! Que tinha sido convidado para levar ao país a verdade sobre a nossa história! Palmas!

É aqui onde vi alguns colegas aos murmúrios, por se terem achado subalternizados! Um deles não hesitou em falar para quem o conseguiu ouvir: estás a ver, nós todos os dias nos matamos para levar a província de Cabo Delgado para o país e o resto do mundo e por causa de um animador que chegou hoje, para amanhã ir embora, publicamente somos secundarizados!

Percebeu-se, então, porque é que só para Gabriel Jr., para além do protocolo do gabinete do governador, havia a directora provincial da Educação e Cultura e o director do Conselho Nacional de Combate à Sida, à ilharga, exclusivamente indicados para o atender no que precisava para a sua estadia.

São os erros que sempre nos arriscamos a cometer quando queremos comparar! Gabriel Jr. foi (ou não foi?) e ficaram aqueles de todos os dias, que ontem estiveram no longínquo Olumbe, distrito de Palma, para trazer de lá a distribuição gratuita de redes mosquiteiras.

Há que ter muita atenção às comparações e, no caso, nem havia necessidade, se bem que não faz sentido comparar jornalistas com animadores ou apresentadores de programas. Desta vez não disse por dizer!

Fonte: Jornal Notícias - 01.10.2011

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