Por Arlindo Oliveira
PARA nós, os africanos, têm-se propalado por aí que o poder, sobretudo político, é bastante saboroso. Cá no nosso continente, o chamado negro, muita coisa feia tem acontecido, desde que a epopeia das democracias começou a marcar a sua presença.
Desde que os europeus ditaram outra sorte para os africanos, estes têm feito guerras entre si, com o intuito de ocuparem lugares cimeiros em cargos políticos de maior relevo. No outro tempo, aquele em que os europeus ainda não tinham marcado a sua presença, os africanos residentes nas suas terras africanas viviam à sua maneira.
Não pretendo dizer que a gente já não se lembra daquelas dinastias que se travaram entre os africanos pela posse do poder monárquico, em que um punhado da classe nobreza, ou considerada da alta sociedade, detinha o poder. Só que, neste caso, mesmo os europeus, considerados gente que descobriu a civilização, teve as suas dinastias, teve também guerras intestinais. Isto significa que o poder pelos governados sempre foi polémico. Todo o mundo vive da política, mesmo aqueles que dizem que não querem saber nada dela. Ninguém se alheia a esta febre que entra na mente de qualquer um com mente sã. É que mesmo que a gente não queira, acaba dando por lá. Os ocidentais, como são chamados os progenitores da democracia moderna, ditam as suas regras, cuja história dos povos os ajuda a convencer que assim sempre foi, para a civilização atingir a todos. E nós cá do continente que fica no Hemisfério Sul, do lado africano, parece-me que não questionamos, aliás, nem temos outra saída. Ora, depois que alguns africanos tiveram sorte de serem ouvidos logo à primeira pelos europeus, para que os seus territórios se vissem livres dos forasteiros, outros seguiram o exemplo, de tal sorte que a década de 60 ficou conhecida como da revolução independentista dos povos do continente negro.
Os países africanos ficaram independentes, uns sem derramamento de sangue, outros, como Moçambique, o tempo ditou que 10 longos anos passassem, até que a revolução de 25 de Abril em Portugal ditasse outro rumo da História. O regime fascista caiu e as colónias portuguesas tiveram facilidades para acelerarem as suas independências. Assim, até 1975, muitos países africanos já haviam adquirido a sua autodeterminação nas suas terras, nos seus territórios. A maldita Conferência de Berlim era posta em causa, pois aquela divisão caiu por terra. E depois surgiu a Guerra-fria, entre dois blocos com ideologias opostas. E o destino ditou que Moçambique alinhasse do lado leste europeu. Gorbatchiov, no início da década de 90, virou o rumo da História e o Comunismo da União Soviética desmoronou-se, dando lugar à economia de mercado, em que a propriedade privada passou a estar na mó de cima, dominando o mundo, até hoje. E a epopeia democrática legitimada pelos sufrágios universais e secretos, ocuparam o lugar das ditaduras do proletariado e dos campesinos, enfim.
Fonte: Jornal Notícias - 16.04.2011
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