terça-feira, abril 12, 2011

TRABALHADOR DA G4S FERIDO PELA FIR PERDE A VIDA

MAPUTO, 10 ABR (AIM) – Um dos trabalhadores da empresa de segurança privada Grupo Four Securicor (G4S) que se manifestaram na manhã de quarta-feira diante das suas instalações perdeu a vida, na sequência dos violentos golpes sofridos durante a brutal intervenção da Força de Intervenção Rápida (FIR), que foi ao local a pretexto de restaurar a ordem.

Segundo o canal de televisão privada, STV, o indivíduo, cuja identidade não foi revelada, perdeu a vida porque os 24 detidos local inclusive os feridos durante a intervenção dos agentes da FIR, foi encaminhado às celas da 18/a Esquadra da Polícia da República de Moçambique (PRM) em vez de uma unidade sanitária para receber assistência médica.

Os outros manifestantes feridos só viriam a receber tratamento médico 24 horas depois da sua detenção no Hospital Central de Maputo (HCM), depois da exigência do médico do Ministério do Interior (MINT).

Os violentos agentes da FIR pura e simplesmente trataram de os recolher às celas da daquela esquadra onde permaneceme até então e, por incrível que pode parecer, é de lá onde estão a receber cuidados médicos.

Joaquim Situa, da Inspecção Geral de Trabalho, atribuiu, por um lado, a culpa a empresa G4S que efectua cortes salariais arbitrários, mas também não isenta os manifestantes que, no seu entender, deviam ter observado a cláusula plasmada na Lei do Trabalho que obriga o anúncio de qualquer vontade de se manifestar.

A Forca de Intervenção Rápida (FIR) recorreu a violência excessiva na última quarta-feira para dispersar centenas de trabalhadores da G4S, que se amotinaram nas instalações da instituição reivindicando seus direitos.

Tudo começou na manhã daquela quarta-feira quando trabalhadores vandalizaram as instalações da empresa, partindo vidros, derrubando grades do quintal, queimando pneus, entre outros danos materiais.

Os motivos do descontentamento dos trabalhadores são vários, mas entre eles, tal como contam, é que, os seus ordenados mensais nunca caem na totalidade nas suas contas, e alguns até chegam a auferir valores que variam entre 200 e 800 meticais.

Por temer represálias, todos os que ousaram falar o fizeram no anonimato e as reclamações apresentadas coincidem num único ponto que são os descontos salariais não justificados por parte da entidade patronal.

Mas, para além disso, os agentes de segurança apontaram também os subsídios de férias como sendo outro ponto em divergência. Explicam que quando vão de férias, mais do que ter um subsídio especial para o gozo do descanso, os seus salários são cortados.
(AIM

Fonte: AIM/ Notícias Sapo - 12.04.2011

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo Reflectindo,

Quero reflectir um pouco sobre a auto-proclamada “world-class reputation” da G4S. Mas antes de tudo quero constatar: no caso G4S de Maputo os agentes da FIR cometeram graves crimes contra a humanidade incluindo perseguição, agressão e assassinato contra um grupo de indivíduos. Mesmo a empresa de segurança G4S é bem conhecida para não respeitar a vida humana. Em 2010 a G4S (“one of the world’s largest private global employers”) foi contratada pelo governo inglês para acompanhar deportados e estava envolvida na morte do angolano Jimmy Mubenga, pai de cinco filhos, em um avião no aeroporto Heathrow de Londres. Neste contexto já a depurada britânica, Keith Vaz, falou sobre: "o uso de força excessiva”. Na sequencia a polícia deteve três agentes de segurança da G4S por causa da morte do angolano. Segundo relatos dos passageiros os agentes da G4S dominaram Mubenga com violência e quase lhe sufocam.

Como se sabe do caso de Maputo, a G4S cortou unilateralmente e com efeitos retro­activos os pagamentos pelas horas extras diárias que estavam parte integral de alguns contratos de trabalho. O que significa, a gerência ou direcção da G4S aparentemente quebrou contratos e a lei de trabalho. O comportamento da gerência de Maputo esta caracterizado pelo desrespeito total da lei de trabalho, liberdade sindical e de filiação. Desde quando há impunidade para este tipo de ilegalidades? Por que não foi detido a gerência da G4S que provocou a fúria e ódio dos trabalhadores? Porque a gerência não observa a própria ética do emprego chamado Ethical Employment Partnership? No relatório anual sobre a responsabilidade social da G4S podemos ler o seguinte frase sobre a importância do diálogo social no nível local: “we continue our strategy of building constructive social dialogue at both local and global levels”. Será que cortes de salários aumentam a auto-proclamada motivação ou “employee satisfaction”? Por que não demite se o nosso incapaz Ministro do Interior, responsável pelas atrocidades da FIR? Porque não o chefe da FIR? Será que por detrás da G4S estão massivos interesses financeiros (“a unique network”) de altas figuras da FRELIMO?

Um abraço
Oxalá

Anónimo disse...

Sabe Oxalá , a FIR obedece a um comando.Político e técnico do Gen Jorge Kalau.Comdte. Geral da Polícia.
O Ministro é informado à posteriori.Ou espera que a polícia, peça ao ministro para acudir a uma greve?
Agora o método utilizado teve de ser FORÇA, porque estavam a lidar com ex-Snasps(vespeiro), Ex renamos, ex policias, etc-força pára-militar, alguns até cadastrados, que se infiltraram do G4S .
Claro que não foram com luvinhas, porque houve sinais de violência.
Num universos de 300 manifestantes a percentagem de feridos, é baixa relacionada com greves violentos na SADC...Estatísticamente.
Políticamente, foi um desastre.
A G4S deve ter amigos do Gen Kalau, em suma, Frelimo, na liderança.Daí o desrespeito pela Lei.São donos!
Todos têm responsabilidade sobre este problema que não DEVERIA EXISTIR.

FUNGULAMASSO

Nelson disse...

Boas perguntas Oxala! Venho insistindo que a brutalidade da FIR não pode nos impedir a ver outras brutalidade em torno desse assunto.

Reflectindo disse...

Caro Nelson,

Penso que a questão não é de qualquer impedimento para ver outras brutalidades em torno da manifestação no G4S. Antes pelo contrário há muito por analisar em torno de manifestações em Mocambique. Porém, há que evitarmos dividir a culpa por três de maneiras que se escomoteia a gravidade da brutalidade da FIR. E veja-se que ela se torna aqui assassina usando meios do Estado.
Tenho dúvidas que as manifestacões em Moçambique se tornam violentas porque os moçambicanos são mais violentos. Fungulamasso está me ajudar a esclarecer as razões, penso. Se em Portugal a Geração à Rasca manifestou-se pacificamente com milhares de participantes, isso podia ser uma coisa impossível em Moçambique. Porquê? Advinhe-se!
Entretanto, em Moçambique já houve e há manifestações com milhares de participantes sem que haja violência e muito mais a policial? Que tipo de manifestação? Contra o quê e quêm e a favor de quê e quêm?
Ora neste caso do G4S, os trabalhadores e a direcção do G4S eram os contendores/contendedores e independentemente se os manifestantes haviam avisado ou não à polícia (esta que muitas vezes se informa de algo que se prepara mesmo que fontes não oficiais) esta tem a tarefa número 1 de separar os contendores, evitar o choque entre eles e garantir a seguranca de todos, incluindo os espectadores. E a nossa polícia faz isso? Isso nunca me pareceu, salvo raras vezes. Muitas vezes, a nossa polícia assume claramente que protege um lado e combate o outro. A título de exemplo, a polícia chamboqueiou, prisionou e matou, mas a quem de que lado? É como Oxalá pergunta porquê não há presos do lado da direcção do G4S?