Por Arlindo Oliveira
Ora, quando se trata de um conflito político, sempre, tem sido hábito dos mentores e protagonistas do lado oposto ao conflito arranjar-se bodes expiatórios, procurar-se um culpado que não exista, embora um ditado popular dê conta de que a culpa nunca morreu solteira.
Os tunisinos já libertaram-se do ex-presidente Ben Ali. Ontem, aquele homem era o mais querido dos tunisinos, era o benjamim. Nos tempos que correm, porque a população despertou de “uma letargia”, ninguém sabe injectada por quem, não o quis e tratou de o mandar para fora do palácio presidencial. Curiosamente, se ele fazia tudo do seu melhor para os tunisinos, por que motivos teria ele para se escapar da Tunísia? Hosni Mubarak, por exemplo, não obstante estar fustigado de acusações, não se dignou sair do seu país.
Vezes há em que a gente tem que dar razão aos europeus, ou melhor, aos ocidentais, quando estes defendem a alternância do poder político. Sinceramente escrevendo, que visão terá um presidente da República que fica mais de quatro décadas no mesmo sofá, no mesmo palácio, no mesmo cargo? Esse homem forte já entende que a governação nunca foi uma rotina. Cada dia que aparece as aspirações dos cidadãos são novas. Não há que se acomodar, não há que ficar sentado na poltrona, ou na sombra de bananeira, coçando o umbigo.
Nos tempos de hoje são os líbios que beberam a epopeia dos egípcios e dos tunisinos. Estes já se “libertaram” do regime mubarakista e ben-alista. Lá no norte de África, quem pensava que o “feitiço faria uma reviravolta contra o feiticeiro?’’. Ninguém quer saber daqueles dirigentes que tudo quanto fizeram e diziam era para arrojar os seus respectivos países em bons patamares, que conduziam os seus governados a bom porto.
E a febre, como me referi, desceu para os líbios. Para mim, parecia-me que o país do coronel Muammar Kadhaffi respirava uma estabilidade política e económica impressionante. Um país que é o mais rico de África. Os líbios tinham uma vida muito acima da de muitos cidadãos do primeiro mundo. Tudo isso, afinal de contas, o coronel andava a construir um castelo cujos pilares eram de argila. Com a chuva, o desmoronamento foi sem precedentes, foi impiedoso.
Mesmo com o regime de governação com cheiro à monarquia, em que a tribo constitui o núcleo da estratégia governativa do coronel, a bala traiu-lhe e se pôs fora do gatilho, pela culatra. É preciso desconfiar sempre, porque a confiança vira traição. O mundo não atingiu o seu estanque, as pessoas sempre têm novos horizontes, nova visão e outra forma renovada de entender como os governantes exercem o seu poder. Quem engana os outros não pode pensar que o fará, eternamente. Os dias nunca serão iguais, cada pessoa é um mundo diferente!
Fonte: Jornal Notícias - 27.04.2011
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