Moçambicanos, cerrem fileiras pela paz e democracia
Por Noé Nhantumbo
Essa tem sido a palavra de ordem dos que não querem e abominam a mudança.
O facto de haver erros e imperfeições nos outros que concorrem nos pleitos eleitorais não significa que não se deva dar oportunidade para não apresentem os seus projectos políticos. Não significa que a mudança não deva acontecer. Moçambique é uma república e não um reinado, onde o poder se transmite por hereditariedade. Neste caso, por via de indicação directa pelos “libertadores” da pátria.
A existência de muitos partidos da oposição e muita desinteligência entre eles simboliza uma fraqueza que, como sabemos, é convenientemente utilizada pelos detentores do poder. Quando a oposição tem por adversário a oposição, fica criado espaço fértil para a sua própria derrota eleitoral.
Há “deficits” de cultura política entre alguns dos aspirantes ao poder. Uns passam o tempo namoriscando os detentores do poder, apresentado uma imagem de oposição construtiva, que aplaude posturas e procedimentos manifestamente lesivos para o país e para os moçambicanos. Outros passam o tempo exibindo um egocentrismo que não admite a aceitação lógica e racional de estratégias de coligação produtiva e consequente. Outros ainda renegam qualquer possibilidade de admitir erros de percurso, e fecham-se em discursos excludentes.
Com a recente não-aceitação pelo CC de documentos que colocariam alguns dos candidatos a concorrerem para a Presidência da República, seria de esperar que isso contribuísse para trazer convergência e reflexão conjunta sobre como proceder. Mas, contra o senso comum, observa-se silêncios e choramingas lamentando-se disto e daquilo. Independentemente da razão que possam possuir, deve-se dizer, porque é verdade, que quem passa o tempo a “dormir à sombra da bananeira” paga caro. Política não é uma actividade ocasional, que se faz quando existe a possibilidade de receber algum “trust fund”.
Moçambicanos cerrem fileiras contra os que afinam as suas armas para intoxicar a opinião pública com discursos situacionistas visando a manutenção do “status”. Esses são os franco-atiradores do regime e estrategas pagos para que a democracia continue longe deste país. Essa a forma encontrada pela elite político-financeira para silenciar as aspirações legítimas de todo um povo. Ontem diziam-nos que eram os defensores da linha correcta, da linha revolucionária contra uma apelidada linha contra-revolucionária.
Passados alguns anos, viu-se que, na verdade, era a linha dos conservadores do poder, do poder em si, da elite predadora e dos vende-pátrias.
Quem se coloca ao lado das corporações na pilhagem dos recursos nacionais, quem entra em esquemas que não trazem mais-valias concretas para o país, e se presta a que o país seja desventrado em troca de dinheiros ilícitos, não possui legitimidade para se proclamar defensor da pátria. Quem se esconde em pretensos secretismos e facilita a delapidação dos recursos nacionais deve ser denunciado com toda a veemência.
Está em causa todo um país e não um grupo de “amigos e camaradas”. Abocanhar o país é um primeiro passo para a instalação de uma ditadura perene, que devemos evitar por todos os meios ao nosso dispor. E o voto informado, consciente e rigoroso em plataformas democratizantes deve ser feito sem temores de represálias. A máquina política dos detentores do poder funciona lubrificada por fundos públicos e de patrocinadores internacionais que participam activamente na pilhagem dos nossos recursos minerais energéticos.
Quando dizem e proclamam que a melhor escolha é a posição e o voto para ela, querem dizer que devemos continuar a votar em quem deixou 300.000 crianças estudando no chão em Nampula. E os seus filhos estudando em Londres e Lisboa.
Quando proclamam resultados concretos de sua governação, falam de infra-estruturas erigidas para servir interesses corporativos nacionais e internacionais. Não há visão de desenvolvimento endógeno e aproveitamento dos nossos recursos para construir estabilidade e dinâmica económica.
A beleza do seu verbo, da pompa e circunstância de que se rodeiam, não tem nada a ver com os mais elementares interesses dos moçambicanos.
Construir e governar um país com resultados sofríveis depois de décadas no poder não pode ter atestado de competência.
Informalidade generalizada, centenas de milhares de jovens vegetando num informalismo redutor significam ausência de liderança e de perspectivas para alterar quadros clínicos sociopolíticos doentios.
Uma oposição coerente vai decerto ser capaz de mostrar ao país e ao mundo que existem alternativas internas para atacar os problemas do país de maneira frontal sem eufemismos e “paninhos quentes”.
Nestes próximos meses, o que se deseja é que a guerra dos egos e entre os mais velhos e novos na política seja relegada para segundo e terceiro lugar. Importa que os protagonistas sejam de facto protagonistas e tragam para a arena política a sua sabedoria, experiência e visão estratégica. De maneira coerente com os mais altos interesses da nação, existe a obrigação de tudo fazer para afastar as tendências ditatoriais do espaço político nacional.
Ser Presidente da República ou deputado, ministro ou governador não é o mais importante para os moçambicanos. Pretende-se que ascender a um cargo público, por mais alto que seja, se torne num meio de oferecer mais serviço para o país e seus cidadãos.
Pensar em Moçambique como o espaço vital de todos os seus filhos e não como plataforma para a implementação de políticas de “‘Empoderamento’ Económico Negro” afuniladas e concêntricas.
Dar um pontapé definitivo na crise, alavancar a agenda nacional requer a participação de todos, assim como clareza programática.
Os que se acomodam em “pedaços de bife” distribuídos em banquetes de ocasião, que se oferecem para esgrimir estratégias visando perpetuar o poder dinástico no país são parte da corja que teme a alternância democrática do poder. Compatriotas, acordem e defendam o que a todos pertence.
A história do país registará nas suas melhores páginas os esforços que forem feitos hoje no sentido da estabilidade política e económica do país. O brilho das limusinas que transportam a elite nacional de rapina desaparecerá com os ventos marinhos do Índico. Mas o povo, esse não desaparecerá.
Em defesa da moçambicanidade, da abrangência, da inclusão, da tolerância e da alternância democrática no poder, tudo deve ser feito por todos e todos os dias. (Noé Nhantumbo)
Fonte: Canalmoz – 12.08.2014
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