O ex-presidente moçambicano, Joaquim Chissano, defendeu ontem que o acordo entre Governo de Moçambique e a Renamo, principal partido de oposição, só ficará fechado com um encontro entre os líderes das duas partes.
"É o que está previsto, senão o processo não terminou e tem de terminar com esse encontro entre os dois", disse Joaquim Chissano à Lusa, à margem do lançamento do livro "João Paulo II - A Biografia", do fundador da Comunidade de Santo Egídio Andrea Riccardi, no Centro Cultural Português em Maputo.
O ex-presidente moçambicano, que assinou em 1992 com o líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Afonso Dhlakama, o Acordo Geral de Paz, encerrando 16 anos de guerra civil, disse também que não teve nem tem nenhum papel no actual processo de diálogo, que se prolongou durante mais de um ano.
O governo moçambicano e a Renamo, principal partido da oposição, assinaram na segunda-feira os três documentos essenciais para o fim das hostilidades militares.
Os três documentos foram assinados pelo chefe da delegação do governo e ministro da Agricultura, José Pacheco, e pelo chefe da delegação da Renamo, Saimone Macuiana.
O presidente moçambicano, Armando Guebuza, tem insistido na realização de um encontro ao mais alto nível com Afonso Dhlakama, que continua escondido algures na serra da Gorongosa, no centro do país, e que até ao momento apenas sinalizou ter mandatado a delegação do partido a subscrever o documento em seu nome.
Joaquim Chissano disse que, "para se manter a paz, é preciso continuar a ser-se tolerante" e que a Lei da Amnistia, um dos pilares do diálogo entre governo e oposição, pode "apagar os males de quem os causou, mas essa pessoa deve comportar-se de forma a não repetir, para que não seja necessário renovar a amnistia".
Durante o seu discurso, na apresentação da biografia de João Paulo II, o ex-presidente lembrou que a Lei da Amnistia, aprovada no parlamento na terça-feira e quinta-feira promulgada pelo presidente moçambicano, Armando Guebuza, é a sexta em Moçambique.
"Não sei o que vou chamar a este país", comentou Chissano. "País de perdoadores?", prosseguiu, para a seguir recordar a oração "perdoai os nossos pecados assim como nós perdoamos".
"Às vezes, quando digo isto e oiço toda a gente a dizer isto em voz alta, e depois passo numa esquina e vejo as mesmas pessoas a agarrarem-se e a mostrarem os dedos, eu penso que esta oração está sendo banalizada", afirmou. "Enfim, pela sexta vez uma amnistia em Moçambique?"
O ex-chefe de Estado considerou que "alcançar a paz e assinar um acordo não é difícil" e que "difícil é consolidar a paz e dar uma qualidade a essa paz".
Apesar do actual contexto em Moçambique, marcado por uma crise política e confrontações militares no centro do país no último ano e meio, as próximas eleições gerais, segundo Chissano, não estão em causa.
"Há todas as condições. Todos os moçambicanos querem que a eleição tenha lugar, que haja paz e toda a gente participe. Os próprios membros da Renamo já se pronunciaram nesse sentido, incluindo o seu líder, pelo que não vejo nenhum obstáculo", sustentou.
Moçambique tem previstas eleições gerais (presidenciais, legislativas e assembleias provinciais) para 15 de Outubro.
Fonte: Ango in Club of Mozambique – 15.08.2014
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