Por Mouzinho Albuquerque
AINDA bem que, efectivamente, acabámos de comemorar o 21 de Fevereiro, Dia da Língua Materna, que na província nortenha de Nampula coincidiu com o lançamento de um vasto programa de debates sobre vários aspectos relacionados com o actual estágio de desenvolvimento da cultura, isto em preparação da II Conferência Nacional de Cultura, que se realiza no mês de Maio deste ano, em Maputo.
Não se pretende neste modesto cantinho definir o conceito de língua materna, este instrumento naturalmente muitíssimo valioso para a nossa evolução linguística, porque isso requeria muita filosofia e imensas palavras, mas dizem os dicionários que é aquela que se adquire na primeira infância.
Sendo assim, e na nossa percepção, é preciso passar à prática das boas intenções no nosso país em relação ao respeito e à valorização da língua materna em Moçambique. Talvez seja isso que levou a que o director provincial adjunto da Educação e Cultura de Nampula, António Pilai, tivesse razões óbvias para lançar um apelo para que cada moçambicano respeite e valorize todas as línguas maternas do país, mesmo que não seja sua.
Talvez seja isso que motivou a que o Executivo moçambicano introduzisse o ensino de algumas das nossas numerosas línguas maternas, em algumas escolas, como forma de respeitar e valorizá-las.
Entretanto, o Dia da Língua Materna foi celebrado numa altura em que ainda prevalecem sinais de tratamento e respeito desigual das nossas línguas em Moçambique. Senão vejamos: não nos parece correcto, por exemplo, que um órgão de comunicação social de grande alcance das massas como a TVM promova uma publicidade sobre a prevenção e o combate à cólera, em duas ou numa única língua nacional, sabendo que esta doença está a afectar um pouco por todo o país. Isso constitui uma afronta, mesmo que indirecta, às outras línguas maternas deste país.
A Televisão de Moçambique precisa de promover aquele tipo de publicidade de forma abrangente, em termos linguísticos, o contrário estará a incentivar o tribalismo e regionalismo linguísticos que não precisamos neste momento. Ainda bem que a nossa televisão pública já tem uma nova direcção, que esperamos faça a devida correcção. É que as pessoas de outras línguas também precisam de perceber o teor daquelas mensagens, que têm sido passadas nos ecrãs da nossa televisão nacional.
Por outro lado, não nos parece correcto que num programa de debate de qualquer tema promovido pela Rádio Moçambique ou Rádio Encontro em língua macua, em Nampula, alguém que a fala fluentemente, aparentemente não queira falá-la, alegando que não entende ou não domina, refugiando-se na de Camões, mesmo que a fale e perceba muito mal, trocando letras na escrita e na pronúncia.
Para mim, a aparente privação de alguns direitos, como falar ou divulgar um programa de educação social em qualquer órgão de comunicação social ou outros meios, através de uma determinada língua nacional vai-nos tornando mais mesquinhos e passando a mensagem de que não somos realmente merecedores das boas coisas que todas essas nossas línguas nos ensinam.
Às vezes temos que parar e ficar a pensar na graça de certas coisas que acontecem, no nosso seio, entanto que cidadãos desta Pátria que pretendemos unidos pelos mesmos objectivos, um dos quais é a valorização de todas as nossas línguas nacionais, aliás, maternas. Ainda há aquelas coisas das quais não precisamos conscientemente, mas das quais parece termos pena nos desfazermos, que estão a ocupar o espaço valioso que poderia estar sendo usado para a difusão das outras línguas nacionais, mas que não se sabe lá o porquê acontece isso, fica difícil perceber!
É preciso mudar de atitude. Será que não somos capazes? O importante é cortar os habituais preconceitos que se utilizam para que o tratamento e a valorização desigual que se tem dado das nossas línguas maternas por algumas pessoas não se instituam.
Só assim é que, por exemplo, um cidadão ronga ou machangana é que valorizará a língua macua e o macua fará o mesmo quanto à língua changana ou ronga. Só assim é que um maconde, sena, chuabo ou ndau valorizarão as línguas maternas que não são suas, assim sucessivamente.
E é isto que se deve incutir nos alunos nas nossas escolas, porque se optar pela valorização de algumas línguas em prejuízo de outras, estas vão perder o seu sentido ou o sentido da nossa identidade cultural, que é também fundamental na consolidação da unidade nacional. Não devemos esconder a nossa realidade com as cortinas de fumo e outras habilidades de ocasião, só para manchar a nossa identidade etno-linguística.
Paremos para reflectir sobre o caminho que queremos para o futuro da língua materna em Moçambique. As nossas línguas maternas devem ser vistas também, na sua globalidade, como sendo um veículo importante na luta contra a pobreza, analfabetismo, tribalismo, regionalismo e outras formas de discriminação social no nosso país.
Realmente é preciso perceber que se tem que mudar e isso começará em nós, não naqueles que querem levar-nos para o seu “feudo”, cheio de arrogância tribal e sem futuro.
Retirado do Jornal Notícias
AINDA bem que, efectivamente, acabámos de comemorar o 21 de Fevereiro, Dia da Língua Materna, que na província nortenha de Nampula coincidiu com o lançamento de um vasto programa de debates sobre vários aspectos relacionados com o actual estágio de desenvolvimento da cultura, isto em preparação da II Conferência Nacional de Cultura, que se realiza no mês de Maio deste ano, em Maputo.
Não se pretende neste modesto cantinho definir o conceito de língua materna, este instrumento naturalmente muitíssimo valioso para a nossa evolução linguística, porque isso requeria muita filosofia e imensas palavras, mas dizem os dicionários que é aquela que se adquire na primeira infância.
Sendo assim, e na nossa percepção, é preciso passar à prática das boas intenções no nosso país em relação ao respeito e à valorização da língua materna em Moçambique. Talvez seja isso que levou a que o director provincial adjunto da Educação e Cultura de Nampula, António Pilai, tivesse razões óbvias para lançar um apelo para que cada moçambicano respeite e valorize todas as línguas maternas do país, mesmo que não seja sua.
Talvez seja isso que motivou a que o Executivo moçambicano introduzisse o ensino de algumas das nossas numerosas línguas maternas, em algumas escolas, como forma de respeitar e valorizá-las.
Entretanto, o Dia da Língua Materna foi celebrado numa altura em que ainda prevalecem sinais de tratamento e respeito desigual das nossas línguas em Moçambique. Senão vejamos: não nos parece correcto, por exemplo, que um órgão de comunicação social de grande alcance das massas como a TVM promova uma publicidade sobre a prevenção e o combate à cólera, em duas ou numa única língua nacional, sabendo que esta doença está a afectar um pouco por todo o país. Isso constitui uma afronta, mesmo que indirecta, às outras línguas maternas deste país.
A Televisão de Moçambique precisa de promover aquele tipo de publicidade de forma abrangente, em termos linguísticos, o contrário estará a incentivar o tribalismo e regionalismo linguísticos que não precisamos neste momento. Ainda bem que a nossa televisão pública já tem uma nova direcção, que esperamos faça a devida correcção. É que as pessoas de outras línguas também precisam de perceber o teor daquelas mensagens, que têm sido passadas nos ecrãs da nossa televisão nacional.
Por outro lado, não nos parece correcto que num programa de debate de qualquer tema promovido pela Rádio Moçambique ou Rádio Encontro em língua macua, em Nampula, alguém que a fala fluentemente, aparentemente não queira falá-la, alegando que não entende ou não domina, refugiando-se na de Camões, mesmo que a fale e perceba muito mal, trocando letras na escrita e na pronúncia.
Para mim, a aparente privação de alguns direitos, como falar ou divulgar um programa de educação social em qualquer órgão de comunicação social ou outros meios, através de uma determinada língua nacional vai-nos tornando mais mesquinhos e passando a mensagem de que não somos realmente merecedores das boas coisas que todas essas nossas línguas nos ensinam.
Às vezes temos que parar e ficar a pensar na graça de certas coisas que acontecem, no nosso seio, entanto que cidadãos desta Pátria que pretendemos unidos pelos mesmos objectivos, um dos quais é a valorização de todas as nossas línguas nacionais, aliás, maternas. Ainda há aquelas coisas das quais não precisamos conscientemente, mas das quais parece termos pena nos desfazermos, que estão a ocupar o espaço valioso que poderia estar sendo usado para a difusão das outras línguas nacionais, mas que não se sabe lá o porquê acontece isso, fica difícil perceber!
É preciso mudar de atitude. Será que não somos capazes? O importante é cortar os habituais preconceitos que se utilizam para que o tratamento e a valorização desigual que se tem dado das nossas línguas maternas por algumas pessoas não se instituam.
Só assim é que, por exemplo, um cidadão ronga ou machangana é que valorizará a língua macua e o macua fará o mesmo quanto à língua changana ou ronga. Só assim é que um maconde, sena, chuabo ou ndau valorizarão as línguas maternas que não são suas, assim sucessivamente.
E é isto que se deve incutir nos alunos nas nossas escolas, porque se optar pela valorização de algumas línguas em prejuízo de outras, estas vão perder o seu sentido ou o sentido da nossa identidade cultural, que é também fundamental na consolidação da unidade nacional. Não devemos esconder a nossa realidade com as cortinas de fumo e outras habilidades de ocasião, só para manchar a nossa identidade etno-linguística.
Paremos para reflectir sobre o caminho que queremos para o futuro da língua materna em Moçambique. As nossas línguas maternas devem ser vistas também, na sua globalidade, como sendo um veículo importante na luta contra a pobreza, analfabetismo, tribalismo, regionalismo e outras formas de discriminação social no nosso país.
Realmente é preciso perceber que se tem que mudar e isso começará em nós, não naqueles que querem levar-nos para o seu “feudo”, cheio de arrogância tribal e sem futuro.
Retirado do Jornal Notícias