segunda-feira, abril 04, 2016

Nova toponímia da Beira inclui Chissano, Dhlakama e o próprio autarca

A Assembleia Municipal da Beira aprovou a nova toponímia da segunda maior cidade do país, que inclui nomes como o ex-chefe de Estado Joaquim Chissano, o líder da oposição, Afonso Dhlakama, e o próprio presidente da autarquia, Daviz Simango.
Com votos a favor da maioria do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), a lista integra ainda figuras como Uria Simango, pai do líder da autarquia e supostamente fuzilado em 1979 por alegada traição à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) de que foi fundador, o ex-número dois da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) e negociador do Acordo Geral de Paz Raul Domingos ou o constitucionalista franco-moçambicano Gilles Cistac, assassinado por desconhecidos em Maputo em 2015.
Segundo a proposta, que terá de ser validada ao nível provincial e central, uma das principais artérias da cidade, a N6, a estrada com a maior extensão na urbe e que dá acesso à Beira, passará a ter o nome de Afonso Dhlakama, líder da Renamo, principal partido da oposição, e que ameaça tomar pela força as seis províncias onde reivindica vitória eleitoral, incluindo Sofala, de que a Beira é capital.
Já Joaquim Chissano, antigo Presidente de Moçambique, e Nelson Mandela, primeiro Presidente da África do Sul pós-"apartheid", vão, de acordo com o documento, figurar nas principais avenidas do centro da cidade da Beira.
A Frelimo, partido minoritário na Beira mas no poder no Governo central desde 1975, disse à Lusa que a sua força votou contra por considerar que há nomes "contraditórios e provocatórios" aos interesses nacionais.
Ao todo, a Assembleia Municipal da Beira reformulou nomes de 700 avenidas, ruas, praças, prédios e largos e 200 impasses (ruas e avenidas reduzidas a caminhos devido a ocupação desordenadas), num processo iniciado em outubro de 2015.
A lista integra outros nomes da vida política, social, cultural, desportiva e académica, abrangendo nomes de históricos da Frelimo, como Alberto Chipande, conhecido como o "homem do primeiro tiro" contra o colonialismo português, a activista Graça Machel, viúva do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, e também de Mandela, ou do fundador do partido no poder Marcelino dos Santos.
Também a presidente da Liga dos Direitos Humanos, Alice Mabote, o artista David Mazembe, o jornalista Carlos Cardoso, assassinado em Maputo em 2000, a antiga campeão olímpica Lurdes Mutola e o ex-futebolista Chiquinho Conde têm previsto um lugar na nova toponímia.
Em declarações à Lusa, Estefani Mataveia, chefe da bancada do MDM, disse que a aprovação da nova toponímia respeitou a vontade da população da Beira.
"Aprovámos a nova toponímia da cidade da Beira por entendermos ser fruto e desejo da vontade do povo", declarou Estefani Mataveia, desqualificando a polémica.
"Continuaremos a aprovar tudo que beneficiará directamente aos munícipes", insistiu Estefani Mataveia, sustentando que, durante os cinco meses de auscultação pública, vários nomes consensuais foram propostos e aprovados na XI sessão ordinária da Assembleia Municipal.
Acrescentou ainda que os chefes das bancadas participaram no processo, com os técnicos especializados e os membros dos partidos políticos representados no órgão, para "evitar ruídos".
Por sua vez, António Pensado, chefe da bancada da Frelimo considerou a aprovação da nova toponímia da Beira tem a intenção de medir a atmosfera política do país.
"Até que [a aprovação dos nomes] não chega a ser politização, é uma provocação para ver o ambiente político e qual será a reacção" declarou.
"Não é de um momento para outro que podemos indicar que o fulano deve ser isto", defendeu, observando que a independência de Moçambique foi conquistada à custa de sangue e que houve "problemas sérios [durante a luta de libertação] de algumas pessoas que fugiram para se entregarem ao colono".


Fonte: LUSA – 04.2016

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