Os juros exigidos pelos investidores para transaccionarem os títulos de dívida soberana de Moçambique bateram o recorde de 14%, no dia em que o país assumiu ter mais de mil milhões de dólares em dívida escondida.
A taxa de juro que os investidores estão a cobrar para transaccionarem os 727 milhões de dólares (640 milhões de euros) em títulos de dívida soberana, com maturidade em Janeiro de 2023, subiu pelo quinto dia consecutivo, para 14,08%, o que compara com os 12,72% da última quinta-feira, o dia anterior à declaração do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a existência de dívida escondida.
O valor dos títulos caiu 6,3% desde que teve um pico a 13 de abril, uma semana depois de terem sido emitidos, e a desvalorização é mais significativa tendo em conta que nesse período a média da evolução dos títulos de dívida dos mercados emergentes regista um ganho de 0,3%, de acordo com os cálculos feitos pela agência financeira Bloomberg.
"O preço caiu por causa das notícias sobre a existência de mais empréstimos não divulgados", comentou o gestor de fundos Marco Ruijer, da NN Investment Partners, em Londres, que tem a seu cargo a administração de mais de 7 mil milhões de dólares em títulos de dívida dos mercados emergentes.
"Eles não anunciaram alguns empréstimos ao FMI antes e isso é realmente uma coisa má. Agora o mercado está volátil. Tudo o que podemos fazer é ver o que os números vão dizer", acrescentou o gestor, citado pela Bloomberg.
Moçambique fez a sua primeira emissão de títulos de dívida em moeda estrangeira ('eurobonds') este mês, oferecendo aos investidores a possibilidade de trocarem as obrigações da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum) por títulos de dívida soberana com uma taxa de juro anual maior e uma maturidade mais alargada.
Na sequência deste operação e da descida de 'rating' das três principais agências de notação financeira, foi divulgado pelo Wall Street Journal a existência de outro empréstimo de 622 milhões de dólares à estatal Proindicus, e na terça-feira o Financial Times acrescentou que havia pelo menos mais, superior a 500 milhões, que também não foi reportado ao FMI.
O primeiro-ministro moçambicano reconheceu na terça-feira à noite que o FMI não tinha sido informado sobre um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de Moçambique, revelou o organismo, que vê nesta atitude um "primeiro passo importante".
Carlos Agostinho do Rosário reuniu-se com a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, na terça-feira, em Washington.
"O primeiro-ministro de Moçambique reconheceu que um montante superior a mil milhões de dólares de sua dívida externa garantida pelo Governo não havia sido anteriormente divulgado ao Fundo", informou o FMI, numa nota enviada à agência Lusa.
Segundo o Fundo, Christine Lagarde recebeu a divulgação destas informações por parte das autoridades moçambicanas como um "primeiro passo importante".
Moçambique vai fornecer mais informações e documentação de apoio ao longo dos próximos dias para que se poderem "apurar os factos e permitir que o Fundo efectue uma avaliação completa", destacou o FMI.
"O Fundo e Moçambique vão trabalhar juntos de forma construtiva para avaliar as implicações macroeconómicas dessas informações e identificar passos para restaurar a confiança", lê-se ainda na nota enviada à Lusa.
Fonte: LUSA – 20.04.2016
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