domingo, abril 10, 2016

Chester Crocker: um lobbista pela paz e pelo gas do Rovuma

Por Marcelo Mosse

A 4 de Março de 1981, seis cidadaos dos EUA eram expulsos de Moçambique. Havia uma rede da CIA em Maputo. Quem despoletou foi Carneiro Gonçalves, um oficial branco da Força Aera de Moçambique, que havia sido abordado pela CIA, e informou o SNASP: disseram-lhe para trabalhar como agente duplo. Feitiço virou-se contra feiticeiro: o SNASP infiltrou-se na CIA. Mas havia um preço a pagar. Na conferencia de imprensa anunciando o desmantelamento da rede da CIA, um jornalista perguntou a Jose Luis Cabaço se não esperava que o governo dos EUA retaliasse. Ele deu uma resposta confiante: “Retaliar porquê? Retaliaçao porque defendemos a nossa soberania? Porque queremos ser livres? Retaliacao por causa da impertinencia de se tornar independente sem autorizacao?”

Mas claro que houve retaliaçao. Planos para ajuda alimentar a Moçambique foram congelados quando a rede da CIA foi exposta. E o posto de embaixador americano, que já estava vago na altura das expulsoes, levou mais quatro anos para ser preenchido. Chester Crocker, da administracao Reagan, veio a Maputo no mês seguinte exigindo um pedido de desculpas. Não conseguiu. Machel recusou-se a recebe-lo e Crocker deixou Maputo carrancudo. E hoje?

Hoje, Crocker vem a Maputo regularmente e esfrega as maos. A conjuntura é diferente. Longe da política activa, Crocker faz o lobbie da Exxom Mobile, que pretende adquirir os assets da ENI na bacia do Rovuma. Por isso o seu engajamento activo na busca da paz agora que as coisas continuam pretas por cá. No roteiro dessa paz que tarda, a abundancia de recursos minerais em Moçambique vai pesar de uma forma poderosa. Para que esses recursos se transformem em riqueza, de facto.

Fonte: Mural de Marcelo Mosse – 10.04.2016

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