O primeiro-ministro moçambicano reconheceu na terça-feira que o FMI não tinha sido informado sobre um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de Moçambique, revelou o organismo, que vê nesta atitude um "primeiro passo importante".
Carlos Agostinho do Rosário reuniu-se com a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, na terça-feira, em Washington.
"O primeiro-ministro de Moçambique reconheceu que um montante superior a mil milhões de dólares de sua dívida externa garantida pelo Governo não havia sido anteriormente divulgado ao Fundo", informou o FMI, numa nota enviada à agência Lusa.
Segundo o Fundo, Christine Lagarde recebeu a divulgação destas informações por parte das autoridades moçambicanas como um "primeiro passo importante".
Moçambique vai fornecer mais informações e documentação de apoio ao longo dos próximos dias para que se poderem "apurar os factos e permitir que o Fundo efetue uma avaliação completa", destacou o FMI.
"O Fundo e Moçambique vão trabalhar juntos de forma construtiva para avaliar as implicações macroeconómicas dessas informações e identificar passos para restaurar a confiança", lê-se ainda na nota enviada à Lusa.
O FMI cancelou o pagamento da segunda tranche, no valor de 155 milhões de dólares, do empréstimo que tinha acordado no final do ano passado com Moçambique, no total de 285 milhões.
De acordo com o jornal britânico Financial Times, que cita uma fonte interna do FMI, a decisão terá sido tomada na sequência do cancelamento da visita ao país, esta semana, na qual era previsível que fosse dada a autorização para o pagamento da segunda parte do empréstimo acordado no final do ano passado.
"É provavelmente um dos piores casos de entrega de dados errados por parte de um Governo que o FMI viu num país africano nos últimos tempos. Eles esconderam deliberadamente de nós pelo menos mil milhões de dólares, possivelmente mais, em empréstimos escondidos", disse esta fonte do FMI ao Financial Times.
"Moçambique está à beira de uma crise financeira se as autoridades não tomarem medidas para lidarem com os riscos actuais", vincou a mesma fonte, acrescentando que os doadores internacionais, responsáveis pelo financiamento de cerca de 25% do Orçamento, podem também seguir o mesmo caminho e cancelar os pagamentos de 350 a 400 milhões de dólares.
"Aí Moçambique enfrentaria uma crise orçamental e uma crise na balança de pagamentos", concluiu a fonte do FMI citada pelo Financial Times.
O FMI cancelou na última sexta-feira uma missão prevista para esta semana a Moçambique devido às revelações de empréstimos alegadamente escondidos no âmbito do caso dos "títulos do atum", relacionado com o financiamento da empresa pública Ematum, anunciou a directora do Departamento Africano, Antoinette Sayeh.
"O empréstimo em causa ascende a mais de mil milhões de dólares e altera consideravelmente a nossa avaliação das perspectivas económicas de Moçambique", disse Sayeh, na sede do FMI, em Washington, semana passada.
No fim de semana, o Governo moçambicano anunciou que o primeiro-ministro iria a Washington explicar ao FMI os contornos de todos os empréstimos que não foram publicamente anunciados.
Fonte: LUSA – 20.04.2016
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