Por Fernando Lima
Tem sido habitual nos últimos
actos eleitorais a presença de uns senhores com ar respeitável junto às
assembleias de voto que ninguém sabe quem são, sem “crachat”, mas que são no
mínimo bem poderosos.
Entre outras coisas, davam ordens
aos presidentes das mesas, aos polícias próximos das assembleias, a várias
pessoas nas filas com ar de “controleiros de voto” e, sobretudo, com uma
apetência particular para manterem longas conversas no telemóvel, sobretudo no
momento do apuramento de resultados.
Os correspondentes locais, os que
trabalham a nível dos distritos e províncias não têm dificuldades em
identificar esses senhores como administradores, controleiros do partido
Frelimo, agentes da segurança de Estado.
Como o assunto era matéria de
discussão na CNE (Comissão Nacional de Eleições) e com a nova conjuntura no
seio da comissão, saiu para estas eleições uma directiva proibindo a presença
de pessoas sem o devido “crachat” nas imediações das assembleias.
Só que a directiva não fez
desaparecer a tal fauna. Em Nicoadala e em Namacurra, onde passei parte do
momento eleitoral, lá estavam os senhores habitualmente nas suas balalaicas
“madiba”, vestes que o pessoal da segurança utiliza habitualmente para disfarçar
a sua pistola pessoal na cintura.
Uma pequena “nuance”. Desta vez
tinham “crachats”, quase todos com as palavras “STAE staff ”. Estavam muito
mais calmos e discretos. Em nenhum momento os vi a dialogar com os presidentes
de mesa. Mas não deixavam de “inspeccionar” os jornalistas no recinto de voto,
incluindo com pretexto de pequenos diálogos “fait-divers”.
O único momento de nervosismo
público foi quando começaram as contagens de votos. “Afonso”, “Nyusi”,
“Afonso”, “Nyusi”. Um dos tais do ”crachat” espreitando pelas janelas da sala
de aulas onde se faziam as contagens solicitou imperativamente pelo celular
“precisamos mais recargas, vodacom e movitel, agora está a começar o nosso
trabalho”.
Nem uma hora depois, cerca das
23, quando os resultados eram mais ou menos claros, como que por varinha
mágica, os tais homens com o crachat “STAE staff ” desapareceram na noite.
Fica a dúvida se eram estes os
homens da guarda avançada do potencial “plano B” de que tanto se falou antes
das eleições.
Fonte: SAVANA - 24.10.2014
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