Mais de uma semana depois da
realização das últimas eleições gerais, o país aguarda ainda com ansiedade os
resultados deste escrutínio.
As eleições não são apenas
justas, livres e transparentes pela forma como elas são organizadas e
realizadas, mas também pelo tempo que leva a anunciar os resultados. Quanto
mais tempo se leva, menos transparentes elas se tornam. Pouco se sabe do que
acontece durante todo este período de espera pelos resultados.
E falando em termos estritamente
legais, tendo sido ultrapassado o prazo de cinco dias para o anúncio público
dos resultados das eleições ao nível provincial, pode se considerar que o
actual processo eleitoral já está inquinado de um vício insanável, que só por
si torna todo o exercício ilegal.
Estas eleições foram, de facto,
um pior exercício de democracia.
Manchadas por uma série de graves
irregularidades, que vão desde o atraso significativo na abertura de alguns
postos de votação, troca de cadernos eleitorais, urnas encontradas em
circunstâncias inexplicáveis e já contendo votos, votos queimados, e editais
falsificados, será inconcebível considerar que elas tenham sido realizadas
dentro dos padrões estabelecidos pela lei moçambicana.
Sempre defendemos que a
legitimidade das eleições dependerá do nível de integridade no tratamento dos
votos dos eleitores.
Mas quando uma funcionária sénior
do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) é encontrada em
flagrante na cidade da Beira com editais viciados, é impossível considerar que
tal tenha sido um acto isolado. E por isso os resultados não podem espelhar a
vontade genuína dos eleitores.
Não estamos perante actos de
incompetência ou de dificuldades em enfrentar os desafios de um processo que
reconhecemos ser difícil. São actos premeditados, cujas consequências
extravasam uma responsabilidade puramente legal.
Num ambiente de grandes tensões
políticas que resultaram nos últimos dois anos em confrontações armadas, com
perdas de vidas humanas e de bens, estes actos de delinquência eleitoral
carregam consigo o potencial de desestabilizar todo o país. São, na ausência de
melhor termo, crimes de alta traição.
É importante sublinhar aqui, que
o problema não é dos anunciados vencedores. É daqueles que sem o mandato
destes, agiram à sua revelia, mas na crença de estarem a realizar um trabalho
nobre. Por isso, o resultado desta farsa deve ser rejeitado pelos próprios
vencedores, que devem ser os primeiros a exigir que o seu mandato se mantenha
livre de nódoas.
Perante todo este quadro negro,
não será exagerado sugerir que estas eleições sejam totalmente anuladas e
marcado um novo escrutínio.
Em democracia, num quadro em que
os eleitores devem honestamente decidir sobre quem os deve governar, não pode
haver espaço para artifícios cuja finalidade é precisamente distorcer a vontade
desses mesmos eleitores.
Estas eleições foram uma fraude
monumental, e devem ser contestadas com todo o vigor. Numa eleição democrática,
os vencedores devem ser justos, e os derrotados devem aceitar graciosamente a
sua derrota. Todos devem
sair dignificados.
Este não é o caso.
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