Embaixadas acusadas de
incentivarem a Renamo a realizarem manifestações violentas
No rescaldo de umas eleições
altamente desorganizadas, três embaixadas ocidentais estão a ser acusadas de
instruírem a Renamo a levar a cabo manifestações de protesto, de carácter
violento, em todo o país. São as embaixadas dos EUA, da Itália e de Portugal.
Nas redes sociais circula uma comunicação anónima, onde o SG da Renamo, Manuel
Bissopo, é citado a dizer que aquelas três embaixadas instruíram o líder da
Renamo a fazer manifestações violentas. O assunto foi tratado, no telejornal da
TV Miramar, ontem, como um facto consumado. A TV acusou as embaixadas de
conspiração, mas, de acordo com fontes do mediaFAX, trata-se de uma “cabala”
montada pelos serviços secretos (SISE), antecipando-se a uma eventual reacção
violenta da Renamo em face dos resultados eleitoras.
Nos pleitos anteriores, Dhlakama sempre reagiu de forma violenta, convocando manifestações para todo o país. Nalgumas vezes foi bem sucedido. Noutras nem tanto. Mas a marca de água da Renamo foi sempre essa. Contudo, depois do seu regresso da “parte incerta”, Dhlakama mudou de postura.
Fez uma campanha eleitoral mais madura, com um discurso progressista e de defesa do Estado, e no seu primeiro pronunciamento depois da votação do dia 15 de Outubro, o líder da Renamo surpreendeu meio mundo com uma postura de estadista, abordagem concisa e clara na interpretação da economia política das eleições em África, incluindo uma análise exímia sobre o alcance das missões de observação eleitoral.
Nesse discurso, quando se
esperava que a Renamo levantaria logo o machado de guerra, Dhlakama foi
conciliador e colocou pressão nos órgãos eleitorais. “Uma posição
definitiva sobre as eleições só depois do anúncio dos resultados finais pela
CNE”, disse ele, travando até predisposições mais violentas dentro das hostes da
Renamo, tal como o seu porta-voz, António Muchanga, já ensaiava. “Foram umas
eleições altamente desorganizadas”, comentou.
De facto, reina uma grande
expectativa sobre qual será a reacção da Renamo em face de umas eleições onde o
Dhlakama ganhou em cinco províncias (incluindo Nampula e Zambézia) mas perdeu
no global para Nyusi, de acordo com a projecções oficiais.
Um pouco por todo o pais, a Renamo
tem vindo a contestar os resultados eleitorais.
Ontem, numa Conferencia Centro
Norte, que mostrou um partido a se querer revitalizar, um porta-voz disse que as
eleições foram fraudulentas. Anteontem, um representante do partido em
Inhambane também afinou no mesmo diapasão, um tom, aliás, geral de reclamação
dentro de um padrão comedido.
Raramente a Renamo confiou na
justiça eleitoral mas, na semana passada, o Partido em Quelimane optou por
reclamar em sede de Tribunal sobre a perda de editais. É esta postura serena que
está a “incomodar” o regime, tanto mais que a Renamo diz que está a fazer a sua
contagem paralela.
Por isso a “cabala” das
manifestações violentas. A TV Miramar, cujo Director de Informação é um dos mais
fanáticos da cartilha do G40, Rafael Shikani, fez de um post anónimo de
facebook um assunto melindroso em termos diplomáticos, dando por facto
consumado a alegação sobre uma pretensa instrução das embaixadas à Renamo. No
mesmo saco de chancelarias conspiradoras colocou também a embaixada do Canadá
por estar a fazer um inquérito sobre a ideia de um Governo de Unidade Nacional,
na esteira da reacção de Dhlakama segundo a qual “um acordo político” seria o
melhor desfecho depois de “eleições desorganizadas”.
“Não comentamos sobre mentiras”,
reagiu uma fonte da Embaixada dos Estados Unidos da América. Por sua vez,
Roberto Velhano, Embaixador da França, declarou que uma pretensão instruções
cai fora da alçada da Embaixada e, Jose Duarte Duarte, Embaixador de Portugal,
disse que aquela era uma informação que não fazia sentido. “Não dou instruções
a ninguém”, asseverou ele.
Se a Renamo vai reagir de forma
violenta ou não, isso ainda está na dúvida. A
postura de Dhlakama tem sido
ainda um enigma. Observadores em Maputo crêem que ele vai evitar mais violência
(depois de capitalizar bastante nas eleições) abrindo campo para a negociação
de um estatutoprivilegiado de líder da oposição, com despesas e outras benesses
pagas pelo Orçamento do Estado.
(Marcelo Mosse, MediaFax, 29.10.2014)
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