Marchas de protesto que antigos trabalhadores moçambicanos da extinta República Democrática da Alemanha realizavam em Maputo estão suspensas mas devem regressar em breve, acompanhadas de novas formas de luta.
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Além do regresso, previsto para breve, das marchas de protesto que, desde 2002, os antigos trabalhadores moçambicanos da extinta República Democrática da Alemanha (RDA) realizavam em Maputo, estão já prometidas outras formas de luta, uma vez que os "madjermanes" continuam à espera do cumprimento, por parte do Governo moçambicano, dos compromissos assumidos.
Segundo Lázaro Magalhães, membro fundador da Associação dos Antigos Trabalhadores Moçambicanos na Alemanha (ATMA), a interrupção das marchas das quartas-feiras deve-se ao facto de terem sido realizadas durante muitos anos como forma de pressionar o Governo moçambicano e, na verdade, não terem dado os frutos que os antigos trabalhadores esperavam.
"De 2002 para cá, já vai muito tempo", começa por dizer Lázaro Magalhães. "As marchas não nos trouxeram a solução definitiva para os problemas, que é a reposição dos nossos direitos".
Caso já está no tribunal
Em entrevista à DW África, Lázaro Magalhães afirma que não há razões para alarmismos, porque a “paragem” é estratégica e visa traçar novas formas de “luta” como, por exemplo, a via judicial. "No dia 8 de abril remetemos uma queixa formal junto do Tribunal Administrativo da cidade de Maputo", revela Lázaro Magalhães.
Os "madjermanes" pretendem que sejam os tribunais a exigir ao Governo direitos como os 60% de salário que descontavam para Moçambique, o valor referente à segurança social, abono de família, indemnização por rescisão de contrato, juros de mora, assistência médica e a reinserção social.
"Voltámos da Alemanha ao abrigo de um acordo intergovernamental, de forma involuntária", conta Magalhães. A questão político-social que a Alemanha vivia naquela altura, continua, "levou a que muitas empresas fechassem as portas e a que fôssemos forçados a voltar para casa, o que implica sermos reintegrados".
Vidas dificultadas
Em Moçambique, existem cerca de 11 mil "madjermanes", mas pouco mais de 5 mil estão filiados à ATMA, que está dividida em núcleos provinciais. Com um nível académico muito baixo, muitos não conseguem encontrar trabalho.
"O acordo estipulava que fossem recrutadas pessoas com a 4ª classe. Mas eu pergunto, com a 4ª classe, um nível académico extremamente baixo, como é que podemos formar um homem para servir no futuro do país?", questiona Lázaro Magalhães.
"Percebi que a ideia por trás do recrutamento daquela mão-de-obra era que, quando voltassem, não pudessem reivindicar os seus direitos. Por isso, quando houve esse regresso em massa, as pessoas não tinham formação suficiente", considera. "Alguns conseguiram prosperar, abriram negócios, partiram para outros países. Mas, em geral, os que estão cá são vendedores ambulantes, seguranças e outros não fazem nada", diz Magalhães.
Para a antiga RDA foram cerca de 16 mil moçambicanos, dos quais 3 mil decidiram ficar na Alemanha após a reunificação. Outros perderam a vida, "por várias razões", lamenta o antigo trabalhador na RDA. "Tiros da polícia, nas manifestações, para intimidar este grupo. Disparar para matar, para impedir que outros viessem", descreve. Outros, acrescenta, foram vítimas de doença, uma vez que "uma pessoa que não trabalha não consegue arranjar nem um metical para poder ir ao posto médico, ao hospital ou ao centro de saúde". Numa estimativa pessoal, o membro fundador da ATMA fala em "cerca de 4 a 5 mil mortes".
Fonte: Deutsche Welle – 15.04.2014
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