Por Gento Roque Chaleca Jr.
“A defesa da paz não é obra de soldados, mas apenas eles a podem assegurar”. Dag Hammarskjold.
Uma nota prévia: Não sou a favor da guerra. Sou pela paz. Ninguém neste “vale de lágrimas”, por maior santidade que tenha, pode advertir-me sobre as consequências da guerra. Muito antes do meu primeiro vagido, num daqueles troncos onde as anciãs de Chivule faziam de maternidade, a guerra semeava dor e luto na família Chaleca. Como muitos neste país, sofri na pele o incómodo das armas e a ausência da paz. Não faço estas afirmações para comover, dissuadir e promover-me a qualquer heroísmo, porque a dor não se translada, é de quem é. E para os que me criticam de atiçar discursos “contra a corrente”, só lhes posso oferecer a frase: “As dores da alma não deixam recados, imprimem uma sentença que perdura pelos anos.”
Tenho algumas dificuldades em perceber a cachimónia do senhor Presidente da República. Tanto fala do maravilhoso povo, mas nada faz para conter a hemorragia da guerra. É como se estivesse a apelar que não se faça fogo, tendo ele uma caixa de fósforo na algibeira.
Tanto fala de auto-estima, mas pouco faz para resolver os problemas do desemprego e habitação para os jovens recém-formados, na saúde pública, da pobreza absoluta, da intolerância política e da inércia face à luta contra a corrupção promovidos pelos “adamastores” do Estado.
Fala de promover a cultura de trabalho, uma autêntica ofensa a maioria de moçambicanos que labutam dia e noite para ter uma refeição diferente de tubérculos silvestres. Introduziu um novo vocábulo que é a geração de viragem, que funciona como se fosse um funil para segregar pessoas, distinguindo-as pela pigmentação da pele (moçambicanos genuínos e não genuínos?!), comprometendo a justeza de uma outra causa há muito defendida: a unidade nacional.
Tudo isto acontece numa altura em que o país vive momentos tenebrosos, com uma das partes signatárias do Acordo Geral de Paz “caçada” pelas forças de defesa e segurança. E não é preciso fazer uma aterrada de carta para prever o que vai acontecer, já que o caçado tem homens armados que já começaram a fazer vítimas mortais. Parte do país está em chamas e milhares de pessoas são submetidas ao “nomadismo”, em condições deploráveis, por causa do conflito armado. Temos um país em que a paz é vivida em regiões, por muito que se tente empalmar.
Fico triste quando alguns fanáticos, em lugar de pautarem pelo diálogo, apresentam argumentos de guerra. Na semana passada dei aqui um exemplo da Indonésia, inquestionável potência da região asiática, que foi incapaz de destruir a FRETILIN. E por falar de Timor-Leste, gostaria de parafrasear Mari Alkatiri (2006) para que as partes beligerantes aprendam de sumidade mental: “É preferível fazermos pouco mas durar toda uma vida do que fazermos muito e passarmos a vida a arranjarmos esse muito que construímos (…). Que todos saibam pôr para trás das costas as divergências - todos as temos, não vale a pena negá-las -, mas que percebam que o essencial é contribuirmos com o melhor de nós próprios na busca das melhores soluções para darmos aos nossos concidadãos o mínimo de condições de vida exigíveis pelo respeito da dignidade de qualquer ser humano.”
Por isso, caro leitor, a única saída para este diferendo é o diálogo. Eu fico a dizer de mim para mim: onde estão os ensinamentos do Dr. Eduardo Mondlane? Onde estão os ensinamentos de David Aloni? Está-se a perder de vista o legado destes que, até a vida entregaram, pela causa do povo. Não consigo compreender, é algo que me escapa as antenas, que filhos deste moçambique guerreiem por causa da “paridade”!
Ndatenda (obrigado). gentoroquechaleca@gmail.com
P.S.: Continua um leitor a sugerir que a terra em Moçambique deve ser privatizada. Ele apresenta argumentos importantes, tão importantes que fiquei animado para o responder. A única coisa que lamento é que esse leitor demonstre algum desconhecimento ou distracção em relação à História de Moçambique. Em primeiro lugar, deve olhar para as premissas da luta armada que impunha a libertação do homem e da terra. Aceitar sua proposta, seria trair a causa nacional. Não tenho dúvida que Mondlane, Samora, Matsangaíssa, etc., teriam ressuscitado para repor a legalidade. Em segundo lugar, a terra não pode ser vendida nem privatizada sob pena de ser engolida pelos gorilas do poder. Para mim, as questões de garantia, que ele alude no seu texto, estão claramente acopladas na Constituição da República. A teoria do leitor é exequível em países onde os índices de corrupção são baixíssimos e os níveis de segurança social confortáveis. Num país como Moçambique, recordista mundial em matéria de corrupção, onde a maioria da sua população não tem sequer uma ramada, não pode dar-se ao luxo de privatizar e/ou vender a terra. Seria, no mínimo, contraproducente. No actual cenário, os investimentos na agricultura são possíveis, desde que haja maior transparência e objectividade na aplicação de fundos. Não se esqueça, caro leitor, que em Moçambique há mais fundos para a casa militar em detrimento do sector agrícola. Em lugar de se produzir tomate, cebola, alface, couve, etc., para minimizar a dependência da África do Sul, o Governo coloca betão armado. E mais: é preciso substituir do poleiro da agricultura “o político” que lá está, por um indivíduo com conhecimentos científicos bastante no domínio da produção agrícola, pecuária, industrial, etc..
In "O AUTARCA – 05.11.2013"
2 comentários:
Mas quem mata e sequestra não e PR.
Caros mocambicanos, compatriotas!
Parem e pensem, kem lancou a 1a pedra em Muxungoe? Kem cercou Nzatunjira? Kem mandou forcas para captura ou matar outro?
Nao e tempo de procura do culpado, TODOS SOMOS MEDIADORES NA BUSCA DA PAZ, MAS VERDADEIRA PAZ SEM OMISSOS. Obrigado a todos que buscam a verdadeira paz para mocambicanos, continuem!
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